quarta-feira, julho 23, 2008

Notícias da crise...

"Aos emails da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) chegam todas as semanas dezenas de pedidos de ajuda alimentar. Pessoas que evitam revelar o menos possível sobre si próprios e pedem ajuda para atravessar o período difícil que se vive e matar a fome. Quem o diz é Manuel de Lemos, presidente da UMP, que alerta para este novo padrão de pobreza que foge ao típico retrato dos pobres conhecido em Portugal. "São pessoas com um perfil diferente, que não vivem na miséria, mas estão à beira de entrar na pobreza", explicou ao DN, acrescentando que este é um fenómeno que se veio a sentir desde o início do ano, quando se intensificaram os problemas económicos."Não estamos a falar de idosos, dos típicos desempregados, mas de pessoas com menos de 40 ou 45 anos que se calhar não deixam de pagar a netcabo nem desmarcam as férias na agência de viagens mas passam fome", conta Manuel de Lemos, que diz que ao seu próprio email já chegaram dezenas de pedidos de ajuda. Estas solicitações que chegam às instituições são acompanhadas pelos serviços sociais que depois encaminham os casos para as misericórdias locais" (texto da jornalista Rita Carvalho);
"Na Câmara de Sintra a situação atingiu proporções quase dantescas. Cerca de 38% dos funcionários têm o vencimento parcialmente penhorado por incumprimento fiscal (dívidas ao Estado) e execução judicial (falta de pagamento de créditos à habitação e consumo e da prestação alimentar para os filhos). Fernando Seara, presidente da autarquia, acompanha está a acompanhar a situação. No departamento de Recursos Humanos da Câmara de Lisboa desde o início do ano que não pára de crescer a lista de trabalhadores com salários penhorados. Em Maio, havia perto de 700 funcionários (7% do total) com o salário reduzido até um terço. Em Dezembro de 2007, o arresto mensal atingia €36.750; cinco meses passados tinha aumentado 33%, rondando os €50 mil. José Cardoso da Silva, vereador da CML para as Finanças e Recursos Humanos explica, em parte, o aumento com a maior eficácia do Fisco na cobrança de dívidas. Senão veja-se: entre Dezembro de 2007 e Maio de 2008, as penhoras fiscais a trabalhadores da autarquia aumentaram 66%. As dívidas cíveis que ditaram as penhoras são, no geral, pequenas - a fatia confiscada não atinge 1% dos salários -, e contam histórias de endividamento ampliado pela crise, créditos fáceis de pagamento difícil, empréstimos à habitação que os juros encareceram e também, e cada vez mais, incumprimento nos acordos de divórcio" (texto da jornalista Raquel Moleiro);
"Os bancos europeus estimam que os mercados de crédito ao consumo e hipotecário venham a perder entre 2008 e 2010 cerca de 120 mil milhões de euros, com o Reino Unido, a Espanha e a Irlanda a encabeçar esta lista, segundo um estudo elaborado em conjunto pela consultora Oliver Wyman e pela gestora de crédito Intrum Justitia.No mesmo estudo, citado pela Europa Press, Pablo Campos, responsável pela Oliver Wyman em Espanha e Portugal, salienta que sobre os bancos europeus já estão a pesar maiores custos de financiamento e falta de liquidez."A descida intensiva dos preços das casas em determinados mercados, a generalizada deterioração do cenário macroeconómico e o aumento da inflação, irão levar as perdas totais deste tipo de créditos a aumentar "rapidamente" na Europa.Para este responsável, em 2008 as perdas totais em hipotecas e crédito ao consumo irão alcançar os 34,7 mil milhões de euros e poderão mesmo aumentar para os 42,5 mil milhões em 2009, mais 35% que os níveis alcançados em 2007" (texto da jornalista Rita Paz);

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Há cada vez mais cobradores atrás de dívidas
"Crise aumenta incumprimento das famílias e obriga empresas de crédito a reforçarem equipas. Só na Cofidis, o número de cobradores cresceu 20% desde o início do ano. As empresas de crédito ao consumo estão a reforçar as suas equipas de recuperação de dívidas, para fazer face ao aumento do incumprimento. Cofidis, Cetelem e Credifin, três das principais empresas do sector a operar em Portugal – com uma carteira de crédito conjunta superior a 2,28 mil milhões de euros no final de 2007 – admitem ao Diário Económico que a crise está a aumentar os atrasos nos pagamentos. “O reforço das equipas de recuperação é um indicador de como o incumprimento está a aumentar”, reconhece Margarida Pena, directora de Recursos Humanos da Cofidis. Desde o início do ano, já chegaram mais 34 colaboradores à área, que conta agora com 191 pessoas para reaver as mensalidades que estão em atraso. Jacques Trohel, director de Análise e Recuperação de Crédito da Cofidis, garante que o aumento do crédito malparado se tem registado “em linha com a média nacional, identificada pelo Banco de Portugal [ver gráfico]”, mas recusa-se a avançar um número exacto. E justifica: “há muita falta de confiança nos mercados [monetários]; a Cofidis tem de manter a confiança junto dos investidores, para se financiar a bom preço” (texto da jornalista Margarida Peixoto);
"O crédito malparado voltou a aumentar no mês Maio para um valor recorde, nos 2,59 mil milhões de euros. Apesar do crescimento, o peso do crédito de cobrança duvidosa permanece nos 2%, uma vez que o crédito continua a crescer a um ritmo elevado. É no consumo que as famílias portuguesas mais estão a deixar de pagar as prestações do crédito. De acordo com os dados hoje publicados pelo Banco de Portugal no Boletim Estatístico, as famílias portuguesas tinham empréstimos contraídos junto da banca no valor de 131,635 mil milhões de euros, o valor mais elevado de sempre e que representa um crescimento de 0,4% face a Abril e de 11,4% contra o mesmo mês do ano passado. Deste total, 2,594 mil milhões de euros é crédito malparado, o que representa 2% do total, acima dos 1,9% verificados em Abril. O crédito de cobrança duvidosa, que atingiu um novo recorde, aumentou 2,8% face a Abril e 17,3% contra Maio do ano passado. O aumento do peso do mal parado deve-se ao facto de a concessão de crédito estar a crescer a um ritmo mais baixo do que o aumento do malparado" (texto do jornalista Nuno Carregueiro)

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