terça-feira, julho 29, 2008

Morreu o Jesus

A Assembleia Legislativa da Madeira guardou hoje um minuto de silêncio pelo falecimento do seu funcionário, João Jesus, falecido ontem depois de durante vários meses ter enfrentado, com a tenacidade que situações extremas como estas permitem, uma doença grave. O Jesus não foi bafejado pela sorte já que a uma primeira enfermidade, que durante anos o colocou na dependência da hemodiálise, juntou-se uma doença cancerosa irreversível. Conheci o Jesus nos anos 70, num Torneio de Futebol que se realizava no Almirante Reis e onde nasceram grandes jogadores de futebol. Alinhava eu pela equipa representativa do Liceu do Funchal que participou nesse Torneio e o Jesus era, se bem me lembro, o "capitão" da equipa da Escola Gonçalves Zarco, que "nasceu" e funcionou na antiga Escola Industrial e Comercial do Funchal (com jogadores como Arnaldo Carvalho, Mário Freitas, Emanuel, Ivo Correia, Coelho, etc). Jesus era um jogador que dava nas vistas pela técnica, pela tranquilidade e pela "leveza" com que se movimentava em campo. A "Gonçalves Zarco" deixou pergaminhos nesse Torneio graças a este grupo de jogadores. Sei que chegou a andar muito perto da primeira equipa do Marítimo, mas os primeiros sinais da sua primeira doença (renal) afastaram-no de uma carreira de futebolista que eu tenho a certeza teria sucesso. Acabei por reencontrar o Jesus na Assembleia Legislativa, onde era funcionário. A mesma pessoa, a mesmo azar das malditas doenças que nunca o largaram da o. É a injustiça divina que os homens por vezes o compreendem, porque parece que uns levam com tudo, porventura até demais, perdendo a esperança e ficando proibidos de sonhar, enquanto que outros parece que passam ao lado da infelicidade e do azar. Mesmo doente, estudou, valorizou-se, queria progredir na sua carreira. Fez um grande esforço porque não é fácil uma pessoa no seu estado fazer isso. Sofreu muito nestes últimos meses, muito mesmo. Morreu ontem de manhã.O Jesus foi hoje a enterrar. Finalmente encontrou a tranquilidade a que tinha direito e merecia depois do que passou na sua caminhada terrena. É nestes momentos, e parente estes casos de sofrimento e privação, que percebemos que há homens e mulheres muito mais fortes que nós, que sofrem no silêncio, para os (as) quais é mais fácil manter o sorriso na boca que ceder perante a dor. É perante gente desta que muitas vezes nos interrogamos sobre tudo, até sobre a validade de andarmos por aí engalfinhados uns contra os outros. Descansa em paz Jesus.

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