domingo, setembro 11, 2022

Opinião: "Mais do mesmo"


Nápoles, Praga, Roma, são exemplos inequívocos de cidades que foram recentemente palco de manifestações de cidadãos europeus que mostraram a sua irritação pelo facto dos países europeus continuarem a canalizar recursos financeiros volumosos para alimentar a guerra na Ucrânia - e sabe-se lá mais o quê.... - enquanto escasseiam os recursos financeiros nesses países. Recursos que permitam que os governos ajudem devidamente, custe o que custar, os seus cidadãos a travarem o impacto verdadeiramente dramático da crise causada pela guerra nas suas vidas e nas suas economias. Para além da inflação em geral - que não inverte a tendência, pelo contrário, as previsões até são muito pessimistas - e dos aumentos "dançarinos" dos preços dos combustíveis, temos também o aumento dos encargos financeiros junto da banca, por parte de famílias e empresas, devido ao aumento das taxas de juro decretadas pelo BCE - que esta semana resolveu novo aumento ou prepara-se para o fazer em breve.

Há cada vez mais a percepção, na Europa, em Moscovo e em Kiev, de que a paciência dos europeus começa a esgotar-se. Não me espanta nada que as manifestações se multipliquem noutras cidades europeias à medida que as dificuldades aumentem e a guerra de eternize sem soluções, apesar das encenações e das palhaçadas manipuladoras que por lá existem.

Putin, grande responsável por tudo o que se está a passar e que comporta-se como um autêntico bandido sanguinário e sem escrúpulos, percebeu isso, percebeu o indisfarçável e inevitável desespero de Kiev - que tudo faz para convencer os parceiros europeus a continuarem a mandar milhões para lá, quando os governos europeus estão cada vez mais pressionados pelas opiniões públicas, muitos desses governos em vésperas de eleições que podem ditar mudanças políticas no poder ou até ameaçar as próprias democracias europeias - e tem vindo a mudar o discurso de Moscovo, vendendo a imagem de uma Europa que vai sofrer com a falta de gás no inverno que se aproxima, por culpa dos governos europeus, alertando para uma situação potencialmente grave e eventualmente geradora de instabilidade social que pode constituir uma ameaça capaz de forçar a mudança de atitudes políticas face à guerra. A tudo isto Putin junta ao seu discurso demagógico a ideia peregrina que a Rússia até tem aumentado a produção e a venda a novos clientes da sua produção de petróleo e de gás natural, a que se junta o argumento de que, ao contrário dos europeus e de outros países ocidentais alinhados, os russos não têm sido sido penalizados pelas sanções impostas pelo Ocidente.

Sanções que não foram devidamente pensadas, estudadas e antecipadas pelos europeus, na medida em que ninguém se preocupou em saber, atempadamente, qual o ricochete dessas sanções na Europa e qual o impacto delas nas sociedades europeias, na vida dos cidadãos, na inflação, etc. Não duvido que é mais do que evidente o desespero, a frustração e as contradições de Bruxelas, cada vez mais preocupada com o politicamente correcto perante as inadmissíveis pressões do líder ucraniano.

Ainda esta semana, no mesmo dia que a alemã que preside à Comissão Europeia anunciava mais 5.000 milhões de euros para Kiev - contrastando com a falta de recursos financeiros referida por muitos países europeus endividados e com dificuldades para ajudarem os seus cidadãos... – a solução idiota que ela tinha para a crise energética na Europa resumiu-se a esta frase: “A União Europeia exige poupança obrigatória de energia e limites para gás russo”. E os europeus, cada vez com menos dinheiro disponível no bolso, por causa da guerra e com contas cada vez mais agravadas, por causa da incompetência da Comissão Europeia perante a guerra, que dirão a esta madame? (LFM, Tribuna da Madeira, 9 de Setembro)

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