Nápoles, Praga,
Roma, são exemplos inequívocos de cidades que foram recentemente palco de
manifestações de cidadãos europeus que mostraram a sua irritação pelo facto dos
países europeus continuarem a canalizar recursos financeiros volumosos para
alimentar a guerra na Ucrânia - e sabe-se lá mais o quê.... - enquanto escasseiam
os recursos financeiros nesses países. Recursos que permitam que os governos
ajudem devidamente, custe o que custar, os seus cidadãos a travarem o impacto
verdadeiramente dramático da crise causada pela guerra nas suas vidas e nas suas
economias. Para além da inflação em geral - que não inverte a tendência, pelo
contrário, as previsões até são muito pessimistas - e dos aumentos
"dançarinos" dos preços dos combustíveis, temos também o aumento dos
encargos financeiros junto da banca, por parte de famílias e empresas, devido
ao aumento das taxas de juro decretadas pelo BCE - que esta semana resolveu
novo aumento ou prepara-se para o fazer em breve.
Há cada vez mais a
percepção, na Europa, em Moscovo e em Kiev, de que a paciência dos europeus
começa a esgotar-se. Não me espanta nada que as manifestações se multipliquem
noutras cidades europeias à medida que as dificuldades aumentem e a guerra de eternize
sem soluções, apesar das encenações e das palhaçadas manipuladoras que por lá existem.
Putin, grande
responsável por tudo o que se está a passar e que comporta-se como um autêntico
bandido sanguinário e sem escrúpulos, percebeu isso, percebeu o indisfarçável e
inevitável desespero de Kiev - que tudo faz para convencer os parceiros
europeus a continuarem a mandar milhões para lá, quando os governos europeus
estão cada vez mais pressionados pelas opiniões públicas, muitos desses
governos em vésperas de eleições que podem ditar mudanças políticas no poder ou
até ameaçar as próprias democracias europeias - e tem vindo a mudar o discurso
de Moscovo, vendendo a imagem de uma Europa que vai sofrer com a falta de gás
no inverno que se aproxima, por culpa dos governos europeus, alertando para uma
situação potencialmente grave e eventualmente geradora de instabilidade social
que pode constituir uma ameaça capaz de forçar a mudança de atitudes políticas
face à guerra. A tudo isto Putin junta ao seu discurso demagógico a ideia peregrina
que a Rússia até tem aumentado a produção e a venda a novos clientes da sua
produção de petróleo e de gás natural, a que se junta o argumento de que, ao
contrário dos europeus e de outros países ocidentais alinhados, os russos não
têm sido sido penalizados pelas sanções impostas pelo Ocidente.
Sanções que não
foram devidamente pensadas, estudadas e antecipadas pelos europeus, na medida
em que ninguém se preocupou em saber, atempadamente, qual o ricochete dessas
sanções na Europa e qual o impacto delas nas sociedades europeias, na vida dos
cidadãos, na inflação, etc. Não duvido que é mais do que evidente o desespero,
a frustração e as contradições de Bruxelas, cada vez mais preocupada com o politicamente correcto perante as inadmissíveis
pressões do líder ucraniano.
Ainda
esta semana, no mesmo dia que a alemã que preside à Comissão Europeia anunciava
mais 5.000 milhões de euros para Kiev - contrastando com a falta de recursos
financeiros referida por muitos países europeus endividados e com dificuldades
para ajudarem os seus cidadãos... – a solução idiota que ela tinha para a crise
energética na Europa resumiu-se a esta frase: “A União Europeia exige
poupança obrigatória de energia e limites para gás russo”. E os europeus,
cada vez com menos dinheiro disponível no bolso, por causa da guerra e com contas
cada vez mais agravadas, por causa da incompetência da Comissão Europeia
perante a guerra, que dirão a esta madame? (LFM, Tribuna da Madeira, 9 de Setembro)
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