Casos de deputados afastados, ‘tiques de autoritarismo’ e um ‘apelo’ que não convenceu. Sociais-democratas falam num clima de descontentamento em relação ao líder parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento. O apelo feito pelo líder do grupo parlamentar do PSD na quinta-feira de manhã não caiu bem junto de alguns deputados sociais-democratas e deixou a nu alguns sinais de desagrado e de tensão na bancada. «Nunca se verificou a nível institucional termos um presidente do grupo parlamentar a apelar ao voto noutro partido», confessa ao Nascer do SOL um influente social-democrata, em reação à indicação por email de Joaquim Miranda Sarmento para que os deputados votassem no vice-presidente da Assembleia da República indicado pelo Chega, Rui Paulo Sousa. Pela terceira vez o Chega falhou a eleição, obtendo apenas 64 votos favoráveis, o que significa que, dos 78 deputados do PSD, no máximo só 52 acataram o pedido da direção da bancada. E de acordo com fontes sociais-democratas, para este resultado contribuiu um clima de «insatisfação» provocado por um conjunto de situações que se têm vindo a acentuar com o retomar dos trabalhos parlamentares após o período de férias.
«Houve
conjunto de deputados que furou a indicação do líder parlamentar porque se
sentiram intimidados e pressionados a votar a favor da candidatura de um
partido que representa tudo aquilo em que não se reveem, nomeadamente ao nível
do populismo, das questões ideológicas de extrema-direita», explica um deputado
social-democrata.
A essa
razão junta-se ainda uma onda de descontentamento que existe em relação à
liderança parlamentar. «Desde que tomou posse, Joaquim Miranda Sarmento tem
dado muitos tiros nos pés. Primeiro foi a sua intervenção em plenário frente ao
primeiro-ministro que foi desastrosa, depois a forma como a gestão em relação
aos deputados tem sido feita é um autêntico autoritarismo», argumenta a mesma
fonte, revelando que nas últimas semanas vários deputados foram afastados de
comissões parlamentares «sem que a direção da bancada desse qualquer
satisfação».
É o
caso do deputado Gustavo Duarte, eleito pelo círculo da Guarda, que esta semana
pediu a suspensão temporária do seu mandato, após ter sido afastado da comissão
que acompanha o Poder Local.
«Há
deputados que foram afastados de tudo, não são chamados para intervir, estão
apenas a fazer figura de corpo presente. O líder da bancada diz sempre que o PS
governa com tiques de autoritarismo, mas quem está essencialmente a governar a
bancada do PSD tem esses mesmos tiques», acusa outro ilustre social-democrata,
acrescentando que a soma destes casos resulta numa «insatisfação que depois se
traduz nestas alturas em que há atos eleitorais». «O grau de insatisfação em
vez de regredir e de os deputados serem solidários com a direção da bancada,
acontece exatamente o contrário. Cada dia que passa, o grau de insatisfação é
muito maior», continua, convencido de que se voltassem a haver eleições para a
direção do grupo parlamentar, iriam surgir duas candidaturas.
Na
quinta-feira, após a votação em plenário, o líder do grupo parlamentar
social-democrata desvalorizou o facto de não ter conseguido convencer a sua
bancada, alegando que «os deputados, soberanos, decidiram rejeitar» e rejeitou qualquer tese de que
estivesse em causa uma derrota pessoal:
«Eu não fui a votos. O deputado do Chega é que não foi eleito».
Contudo,
há quem discorde de Joaquim Miranda Sarmento nos bastidores do PSD e aponte
ainda um «rombo muito grande na credibilidade da liderança» do partido, uma vez
que o pedido aos deputados foi concertado com o líder Luís Montenegro, tendo o
próprio assumido que deu esta indicação em nome da «normalidade política das
instituições» apesar de na primeira votação para os membros da Mesa do
Parlamento, ainda com Rui Rio na liderança do partido e com Paulo Mota Pinto a
dirigir a bancada parlamentar, os sociais-democratas terem contribuído para a
rejeição de Diogo Pacheco Amorim e Gabriel Mithá Ribeiro, os dois nomes que o
Chega propôs no início da legislatura.
«Partindo
do pressuposto que houve indicação da direção nacional à direção de bancada
para que o PSD pudesse votar favoravelmente em uníssono a candidatura do Chega,
se existiu essa relação entre Montenegro e Miranda Sarmento, é uma derrota
clara», admite um deputado social-democrata ao Nascer do SOL, acrescentando que
em último caso esta «será sempre uma derrota pessoal para o líder da bancada
que tomou uma atitude infantil de enviar um email a apelar no voto de um
partido de extrema-direita invocando razões de natureza de relacionamento
institucional e parlamentar». E vai mais
longe: «Luís Montenegro deu alguma cobertura a essa intervenção, portanto
também acho que é uma derrota pesada para a direção nacional».
Quanto
a uma aproximação ao Chega, algo que o presidente do PSD rejeitou
perentoriamente, internamente não é essa
a ideia que passa. «No passado, com Mota Pinto e Rui Rio em efetividade de
funções, nunca houve esta atitude com outros partidos. Por muito que se diga
que não há uma aproximação ao Chega, a verdade é que agora houve um compromisso
que envolveu a direção nacional e a direção do grupo parlamentar», refere a
mesma fonte ‘laranja’.
Relativamente às críticas apontadas pelo líder da bancada socialista, Eurico Brilhante Dias, que acusou o PSD de não estabelecer linhas vermelhas com a extrema-direita, os sociais-democratas não têm dúvidas de que esta é mais uma evidência do «papel cínico do PS». «Quem efetivamente alinha com a extrema-direita e lhe dá palco e oportunidade de se vitimizar é o PS. Isso acontece a todos os níveis, quer com a bancada socialista, com o presidente da Assembleia da República ou inclusivamente com o Governo», atiram (Sol, texto da jornalista Joana Mourão Carvalho)
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