Democratas Suecos foram o segundo partido mais votado nas legislativas e serão decisivos para a formação do próximo Governo. Papel do jovem líder do partido anti-imigração “de quem toda a gente se ria” foi fundamental para a sua “desdiabolização”. Jimmie Akesson tem apenas 43 anos, mas não é propriamente um novato na política ou um desconhecido do grande público sueco. Já lá vão 17 anos desde o dia em que foi eleito para a liderança dos Democratas Suecos, um partido político fundado por antigos membros de um partido neonazi dos anos 1950 e do movimento supremacista Bevara Sverige Svenskt (Manter a Suécia Sueca), e que, depois de várias eleições consecutivas a somar votos e deputados, é hoje a segunda força política mais representada no Riksdag, o Parlamento da Suécia. Assinalar que o partido que nesse longínquo ano de 2005 andava na casa do 1% de votos superou, nas eleições legislativas do passado domingo, os 20%, tornando-se, dessa forma, indispensável para qualquer solução de Governo que venha a encontrada, é, só por si, um atestado ao sucesso de Akesson enquanto líder partidário.
Dos 5,7% logrados na sua primeira eleição
como dirigente máximo, os Democratas Suecos cresceram para 12,9% em 2014 e para
17,5% em 2018, muito à custa das críticas à imigração, à globalização e à
insegurança vivida em algumas cidades da Suécia.
E se é certo que o caminho que o partido
trilhou no novo milénio se inspirou e acompanhou outras tendências e movimentos
políticos de extrema-direita da Europa e dos Estados Unidos, é também evidente
que a estratégia de “desdiabolização” implementada pelo seu líder foi
fundamental para o seu crescimento eleitoral.
“Fizemos uma enorme viagem, desde o
pequeno partido que era ignorado e de quem toda a gente se ria, e que agora se
transformou num verdadeiro competidor”, congratulou-se Akesson, no discurso
pós-eleitoral, no domingo, perante os militantes em festa.
Piza, cerveja e anti-imigração
Como tantos outros líderes de partidos e
movimentos políticos populistas europeus, também Jimmie Akesson se descreve
como um “cidadão normal” ou, no caso concreto, como um “sueco comum”; alguém
que gosta de comer pizza, de beber cerveja e de ouvir música rock.
“Ele quer dar a impressão de que é um tipo normal, que grelha salsichas, que fala normalmente e que faz viagens de grupo às Canárias”, descreve Jonas Hinnfors, professor de Ciência Política na Universidade de Gotemburgo. “Faz todos os possíveis para não ser visto como um intelectual ou como alguém com uma boa educação”, acrescenta o académico, em declarações à AFP.
Nascido a 17 de Maio de 1979 na vila sueca
de Ivetofta, Per Jimmie Akesson cresceu no seio de uma família de classe média
em Solvesburgo, uma localidade vizinha, com cerca de nove mil habitantes,
localizada no Sul do país e numa zona rural e agrícola. O pai era empreendedor
e a mãe enfermeira.
Durante a adolescência, Akesson fez parte
da juventude partidária do Partido Moderado (centro-direita), mas a atracção
pelo discurso xenófobo de movimentos ultranacionalistas e supremacistas
influentes da região onde vivia, particularmente dirigido ao crescente aumento
da população imigrante na cidade de Malmö, a cerca de 120 quilómetros de
distância de Solvesburgo, levou-o a procurar alternativas.
Extremismo assumido
E encontrou-as nos Democratas Suecos. Fundado em 1988 por ex-membros do Reino Nórdico, um partido neonazi nascido nos anos de 1950, e por pessoas ligadas ao movimento nacionalista, supremacista branco e violento Bevara Sverige Svenskt, o partido gozava, naqueles tempos, de um estatuto de pária na cena política sueca. Entre os fundadores e primeiros dirigentes estavam Gustaf Ekström, ex-voluntário das SS alemãs, e Anders Klarstrom, um político com ligações ao Reino Nórdico, que chegou a ser condenado por anti-semitismo.
O orgulho com a ideologia extremista era
tão assumido e transparente, que, segundo a Bloomberg, um documento oficial
publicado pelo próprio partido assumia que 45% da equipa fundadora tinha
ligações a grupos fascistas e neonazis.
Jimmie Akesson aderiu aos Democratas
Suecos em meados dos anos 1990 e ajudou a fundar uma juventude partidária em
Solvesburgo, focando a mensagem da organização no impacto “destrutivo” da
imigração muçulmana na sustentabilidade da segurança social sueca.
O seu interesse pela política
intensificou-se durante a frequência do curso de Ciência Política da
Universidade de Lund, nos arredores de Malmö, onde formou um grupo que ficou
conhecido como o “Gangue dos Quatro” ou “Gangue de Scania” – o bastião
geográfico dos Democratas Suecos, no Sudoeste do país –, composto por si e por
outros três futuros líderes partidários: Mattias Karlsson, Björn Söder e
Richard Jomshof.
Ainda antes de se dedicar à política a
tempo inteiro, Akesson trabalhou brevemente como web designer. Em 2005, porém,
decidiu candidatar-se à liderança do partido, defendendo uma moderação da sua
imagem e do seu discurso, para contrariar a sua insignificância eleitoral.
Moderação ou maquilhagem?
Pouco tempo depois de ter derrotado Mikael Jansson e assumido a chefia dos Democratas Suecos, com apenas 25 anos, Akesson mostrou ao que vinha, trocando a tocha amarela e azul – as cores da bandeira sueca – do símbolo do partido por uma flor. A partir daí, e com maior ênfase após a eleição de Akesson como deputado, em 2010, começou o processo de “desdiabolização” do discurso do partido, ainda em curso, que incluiu: uma autêntica purga contra os “racistas e extremistas” dos Democratas Suecos, em 2012; a expulsão de praticamente todos os membros da juventude partidária com ligações a grupos extremistas, em 2015; ou a eliminação de expressões de “biologia racial” típicas dos anos 1930 que constavam no programa do partido, em 2019.
Com o eleitorado mais preocupado com a
insegurança urbana ou com a imigração crescente – com 10,3 milhões de
habitantes, a Suécia aceitou cerca de 500 mil requerentes de asilo na última
década –, Akesson até deixou cair o objectivo histórico de retirar o país da
União Europeia.
“O grande sucesso dos Democratas Suecos é
terem conquistado eleitores em praticamente todas as áreas da sociedade e junto
da classe média. Deixaram de ser o partido de uma determinada representação
demográfica, dos pobres ou dos que vivem ‘esquecidos’ no interior do país.
Representam um sentimento popular alargado, hostil à multiculturalidade”,
explicava ao PÚBLICO Daniel Poohl, investigador da revista Expo, especializada
em racismo e extremismo, numa conversa em 2018.
Esta moderação é, no entanto, vista pela
oposição como uma mera maquilhagem das ideias mais extremistas do líder dos
Democratas Suecos e dos seus seguidores.
O facto de o próprio ter dito, em 2009,
que o crescimento da comunidade muçulmana na Suécia era a “maior ameaça
estrangeira desde a Segunda Guerra Mundial”, ou de ter convidado para uma festa
em casa, em 2015, a banda de rock Ultima Thule, com ligações aos skinheads
suecos dos anos 1990, são a prova disso mesmo, denunciam os críticos.
A primeira missão pós-eleitoral de Jimmie
Akesson será a de lembrar Ulf Kristersson, líder do Partido Moderado, que este
só pode ser primeiro-ministro se ceder numa série de políticas que os
Democratas Suecos inseriram no seu programa e que lhe deram a segunda maior
votação, atrás do Partido Social Democrata (centro-esquerda), da
ex-primeira-ministra Magdalena Andersson, que oficializou a sua demissão do
cargo esta quinta-feira.
Seja dentro do Governo, ou fora dele, com um acordo parlamentar ambicioso, o partido de extrema-direita encontra-se numa posição privilegiada. Ainda assim, Akesson quer mais. Numa entrevista em 2019 dizia ter um sonho: ver os Democratas Suecos moldarem a Suécia durante os próximos 100 anos, à semelhança do que o Partido Social Democrata fez a partir de 1917 e durante grande parte do pós-guerra (Publico, texto do jornalista António Saraiva Lima)
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