domingo, setembro 11, 2022

Opinião: Duas Notas

Em Agosto a taxa de inflação em Portugal foi de 9% (9,1% na zona euro). A taxa euribor nos mercados cresce há várias semanas e já se anuncia como inevitável uma nova subida de taxas de juro em Setembro, em valores superiores aos da última subida, situação que decorre do facto da inflação, contrariamente ao esperado, continuar a manter-se a valores demasiado elevados e absolutamente insuportáveis.

Recordo, a propósito, que um conhecido empresário português afirmou esta semana que país "vai atravessar uma recessão em breve, só resta saber quando", sublinhando que, "com o aumento exponencial dos custos de energia, não há tesouraria que aguente”. Quando falamos em recessão, falamos em crise nas empresas, em falências, em despedimentos, em desemprego, etc. Ou seja, a manterem-se as actuais condições, com os poderes políticos europeus a se mostrarem incapazes de enfrentar e gerir as causas das "brincadeirinhas" que andaram a fomentar apressadamente - sem que tivessem estudado, prévia e devidamente os riscos e os efeitos negativos daí resultantes e, mais do que  isso, também sem que tivessem identificado o impacto dos ricochetes de medidas teoricamente aceitáveis e correctas, mas na prática altamente perniciosas e prejudiciais para os europeus, que já atingiram a linha vermelha da tolerância, estamos a caminhar para o acentuado e perigoso agravamento da situação económica e social na Europa. Mais, começo a duvidar mesmo se os europeus, a manter-se tudo como até agora, não vão começar a derrubar governos mesmo antes de eleições…

Com aumentos de renda em 2023 superiores a 5%, com os materiais escolares - em vésperas do início de um novo ano escolar - com aumentos entre os 16 e os 40%, com aumento das prestações bancárias relativas a empréstimos para aquisição de habitação, com a inflação a estabilizar-se nos 9%, com os combustíveis teimosamente a manterem os conhecidos preços empolados - que já o era mesmo antes da "oportuna" guerra na Ucrânia - não sei como é que se pode sequer ter a ousadia de vender esperança aos cidadãos.

Só se for para o governo socialista de Costa, mergulhado numa nova crise política, devido à esperada e tardia demissão da ministra da saúde, o qual, a reboque dos efeitos da crise já conseguiu obter mais 2,5 mil milhões de euros de receitas, tudo graças à inflação e ao efeito que ela espalha em vários indicadores, caso do IVA, a favor de quem define a política fiscal do país. Noutros países europeus passa-se o mesmo, apesar de serem quase nulas as políticas de apoio aos cidadãos destinadas a atenuar o impacto causado por vinganças pró-belicistas ocidentais e europeias, fomentadas por um conflito sem fim, numa república da ex-URSS (e que graças a Gorbachov conseguiu a independência em 1991, como todas as restantes antigas repúblicas soviéticas), e cuja história, a verdadeira história, está para ser contada.

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Por cá duas constatações demonstrativas de que os habituais níveis de manipulação e de patetice estão a destruir cada vez mais a política em vez de a preservarem e dignificarem junto das opiniões públicas. Em primeiro lugar, e apesar da ameaça real de uma crise à porta - se isso se confirmar a Madeira será fortemente penalizada, dada a sua crónica dependência do exterior - a prioridade parece ser a de discutir lugares em listas de candidatos, sem faltarem as "encomendas" na comunicação social e nas redes sociais, não sei se em jeito de recado com destinatários identificáveis, ou se apenas meras iniciativas exploratórias de quem não quer perder o que lhe deram, muitos deles sem saberem como.

A segunda anormalidade nestes tempos de incerteza - mas aceito que o desespero, a pressão de sondagens e a realidade a isso obrigue - tem a ver com a ideia ridícula, mas à imagem de quem vende tal treta rasca, de que o poder na região se ganha, ou seja, a vitória nas regionais de 2023, se mede pelas multidões que acorrem a festas partidárias nas quais, repito e insisto, mais de 80% dos presentes se borrifam para as mensagens partidárias dos organizadores. Faço votos que para o ano os dois principais blocos políticos locais tragam os U2 e os Coldplay (influenciado pela histeria recente) a essas festas para assistirmos a nova discussão sobre esse tema. Tenham juízo! (LFM, Tribuna da Madeira, 2 de Setembro)

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