A Europa está a cair nos braços de uma crise energética que alguns observadores já consideram ser a maior de sempre. A guerra na Ucrânia aprofundou ainda mais as divisões entre Moscovo e Bruxelas e tornou dolorosamente evidente a dependência da União Europeia do gás que flui a partir da Rússia. Para evitar um desastre energético de grandes proporções, os 27 Estados-membros aprovaram em julho uma estratégia que prevê cortar em 15% o consumo de gás, para ser possível enfrentar o inverno que se aproxima e que se prevê que seja um dos mais frios e escuros, quer metaforicamente, quer literalmente. Contudo, e apesar de a Comissão Europeia ter já anunciado que as reservas no bloco estão já a mais de 80% da sua capacidade total, algo que só estava planeado acontecer em novembro, as estimativas apontam que as populações europeias estão a consumir mais gás hoje do que no ano passado.
De acordo com a consultora energética Rystad Energy, citada pelo
‘EUObserver’, o gás usado na produção elétrica entre janeiro e julho deste ano
esteve 4,28% acima do valor registado no mesmo período de 2021. Quanto ao
carvão, o consumo aumentou ainda mais, 11,9%, nos primeiro sete meses deste
ano, face a igual período do ano passado.
Os números apontam que a produção de eletricidade através do gás caiu
20,8% este ano, sendo que a produção energética pelo carvão caiu 11,8%, o que,
no total, equivale a 110 terawatts por hora de eletricidade, o que, segundo os
especialistas, reflete as reduções no abastecimento de gás russo à Europa.
Explica a que Rystad que em agosto de 2021 a Rússia fornecia cerca de
350 milhões de metros cúbicos de gás por dia à Europa, sendo que hoje se situa
nos 50 milhões de metros cúbicos diários, o que representa uma queda de 85%.
Além da instabilidade energética que isso lançou sobre o ‘velho continente’,
fez também disparar os preços do gás, que no dia 26 de agosto estava nos 346
euros por megawatt por hora.
No que toca à energia hidroelétrica, que produz cerca de 16% de toda a
eletricidade consumida pela Europa, os dados indicam que as condições de seca
severa e extrema que se fizeram sentir por todo o continente deixaram a sua
marca.
Por exemplo, em França, que é o maior produtor europeu de energia
proveniente de fontes hídricas, a capacidade hidroelétrica caiu 27%. Em Itália
a queda foi de 40%, e em Espanha de 44%. Por cá, o ministro do Ambiente, Duarte
Cordeiro, já tinha alertado que a capacidade hidroelétrica estava nos 50%,
devido à falta de água.
A par disso, também as instalações de produção elétrica através do nuclear sofreram cortes, devido à reduzida quantidade de água nos rios, que é usada para arrefecer os reatores. Nesse quadro, França verificou uma redução de 57% da produção de eletricidade nuclear este ano (Multinews, texto do jornaista Filipe Pimentel Rações)
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