domingo, dezembro 29, 2019

Auditoria e audiências tramam TVI

A Media Capital vale menos €50 milhões do que o antecipado até aqui. A auditoria às contas do primeiro semestre, que baixou os resultados da dona da TVI, e a quebra das audiências, que se tem intensificado ao longo do ano, contribuíram para a redução do preço a pagar pela Cofina na operação de compra. A detentora do “Correio da Manhã” pode, assim, limitar o financiamento necessário para concretizar a operação, que inclui um aumento de capital junto de investidores como Mário Ferreira. O valor da compra da Media Capital pela Cofina desceu de €171 milhões para €123 milhões, segundo acordaram a compradora e a vendedora, a espanhola Prisa, esta semana. A desvalorização deveu-se à queda do valor atribuído à empresa, que passou de €255 milhões, em setembro, para €205 milhões. A diferença entre o valor da compra e o valor da empresa é de cerca de €80 milhões — valor idêntico ao dos financiamentos obtidos pela Media Capital. Com esta descida, chega-se ao preço final da operação: a empresa espanhola garante que não há, a partir daqui, possibilidade de ajustes. A Prisa justificou, em comunicado, que a modificação do preço de compra “reflete o acordo entre as partes para dar total certeza da execução da operação”. Nada mais foi dito.

Quando apresentou as contas do terceiro trimestre, a sociedade espanhola que detém o “El País” referiu que o preço final de venda estaria sujeito aos “ajustes habituais”, especificando a quota de audiência no prime time e o EBITDA acumulado (resultado operacional, antes do impacto de juros, impostos, depreciações e amortizações) no mês de dezembro.
No segundo trimestre, a SIC conquistou as audiências no horário mais nobre da televisão, o que se manteve no trimestre seguinte, e tem continuado a acontecer à medida que o ano se aproxima do seu fim. Já o EBITDA até setembro — o único divulgado — é praticamente metade do verificado nos primeiros nove meses do ano passado (desceu de €25 milhões para €12,7 milhões). Por sua vez, o lucro afundou 90% para €1,2 milhões.
Estes números do final de setembro são influenciados pela auditoria “voluntária” às contas semestrais da Media Capital, e que detetou “incorreções” que tinham sobreavaliado o lucro semestral em €3,2 milhões.
Mas há mais incertezas no balanço da Media Capital. A empresa liderada por Luís Cabral revelou existir um diferendo de €3,3 milhões, por reclamações de agências de meios e de publicidade relativas a prestações de serviços que a empresa diz não ter formalizado.
Além disso, a Media Capital enfrenta processos judiciais, relacionados com “difamação, liberdade de imprensa, responsabilidade civil e ações de carácter regulatório”. A IURD é o caso mais polémico, sendo que o caso Banif também tem ensombrado a empresa. Há provisões de €2,7 milhões, sendo que está envolvida em outras ações que ascendem a €8,7 milhões — nestas últimas, não há dinheiro colocado de lado para possíveis perdas. Um outro diferendo, de €19,6 milhões, opõe a subsidiária TVI à GDA — Cooperativa de Gestão dos Direitos dos Artistas Intérpretes ou Executantes.
Cofina ganha folga
De €171 milhões a €123 milhões vão €48 milhões de distância. E essa é a folga que a Cofina consegue na aquisição da Media Capital (em 2017, quando a TVI era líder de audiências, a Altice tinha proposto um preço de €440 milhões).
Em setembro, os planos da Cofina implicavam um aumento de capital de €85 milhões “destinado ao financiamento parcial da referida operação de aquisição”. O empresário da Douro Azul, Mário Ferreira, e o banco espanhol Abanca, já acionista minoritário da Media Capital, eram os potenciais novos acionistas da empresa. Só que esse número tinha em conta um preço de aquisição que agora baixou. A “folga” é, agora, mais de metade do aumento de capital previsto.
Para se ter uma noção do montante, a empresa liderada por Paulo Fernandes arrecadou, entre janeiro e setembro, €22 milhões em receitas. Ou seja, a poupança conseguida com a redução do valor de compra representa mais de 18 meses em proveitos. A empresa de media não respondeu se havia implicações no financiamento.
A Cofina pode ainda gastar mais €10,5 milhões na oferta pública de aquisição (OPA) que lança sobre os cerca de 5% que não estão nas mãos da Prisa. Este valor já estava estimado e não baixa. Aliás, pode ainda subir, porque há um auditor independente a avaliar a Media Capital. É ele que vai determinar o preço da OPA — que não influenciará a compra à Prisa.

Para a conclusão do negócio faltam ainda a autorização da Autoridade da Concorrência (a posição preliminar foi favorável) e a aceitação por parte de credores da Prisa e dos acio­nistas de ambas (Expresso, texto de DiogoCavaleiro)

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