sexta-feira, outubro 04, 2019

Nota: se não gostarem de ler, sugiram que entrego o cartão

Se há coisa que não faço é calar-me por imposição. Por isso, e sempre numa lógica política onde os nomes nada importam - até porque respeito as naturais ambições de quem anda na política independentemente das motivações e dos interesses pessoais subjacentes a determinadas reivindicações - abordarei um tema incómodo, deixando-me de hipocrisias. Falo de um potencial embuste político que deixa o PSD-M refém de pessoas do CDS-M durante 4 anos - não do CDS-M e da sua estrutura institucional que pouco ou nada pode fazer, depois de ter aceite uma estranhíssima nomenclatura para o partido local e que se constata agora ter sido imposta com claras intenções subjacentes e que agora descortinamos. Tudo disfarçado por uma treta de um acordo que não garante estabilidade política coisa nenhuma. Há mais assanhados prontos a saltar para a arena com os dentes bem à vista, sedentos de vingança!
E quando digo que não há garantia de estabilidade para esta coligação faço-o no pressuposto de que se não for feita chantagem com a presidência da Assembleia como é hoje o caso, amanhã será feita chantagem sobre qualquer outra coisa e com os mesmos protagonistas, ou outros ainda camuflados (não eleitos), desta história. 
Aviso desde logo: se não gostarem do que escrevo, podem resolver fácil e rapidamente o assunto: sugiram que entrego imediatamente o meu cartão de militante do PSD, que data de 1974, quando ainda terminava o antigo Liceu e não havia a ânsia de sobrevivência no poder ou de finalmente chegar ao poder. Os desafios eram outros. Isto se entretanto não o fizer por “motu próprio”.
Direi apenas que este desfecho foi negociado entre 2 pessoas - se o PS-M precisasse do CDS para ganhar o poder. Desconheço quais foram as contrapartidas. Só sei que PS e CDS locais foram mantidos à margem de tudo, na medida em que tudo dependia dos resultados eleitorais...
Algumas ideias ou dúvidas que abordarei:
1.
Esta palhaçada foi negociada antes das eleições por JMR e Cafofo, que mantiveram o PS-M e o CDS-M desinformados de tudo, concretamente foi um entendimento abordado há quatro meses, depois das europeias, e selado durante uma festa religiosa em que os dois foram convidados de honra?
2.
Há uma troca de favores subjacentes a tudo isto ou há um "pagamento" prometido por favores pessoais que concedidos no âmbito de outras funções e noutras instituições? E que ramificações tudo isto tem com o mundo privado incluindo com operações de financiamento partidário?
3.
Se os deputados votam por voto secreto, nos termos regimentais, então porque razão fazem estes acordos prévios transformando os deputados em potenciais palhaços? Como é que se admite, sabendo o PSD-M e CDS-M de tudo isto, que eles assinem um acordo - pelo que li - através do qual o PSD-M garante ao CDS-M uma vice-presidência do parlamento (o CDS-M perdeu esse direito ao eleger 3 deputados)? Que raio de palhaçada é esta? Querem fazer as pessoas de idiotas ou passar-lhes um atestado de menoridade?
4.
Se são precisos 5 deputados, nos termos regimentais, para formalizar uma candidatura a presidente da Assembleia e o CDS-M (que perdeu 4 deputados, mais de 9 mil votos, ficou reduzido a 5%, etc, etc) apenas tem 3 deputados, quem vai fazer isso? Porque não vai JMR pedir as assinaturas do PS-M?
5.
Se alegadamente existe a ameaça de passagem a "independente" de alguém do CDS, e que inclusivamente teria garantido que se não fosse candidato à presidência do parlamento, se "vendia" ao PS-M - desculpem a frontalidade, mas é isso tem sido dito nos bastidores e será isso que vai ser usado como única explicação para que o PSD-M aceite se ridicularizado desta forma - então arrisquem e façam, com que isso aconteça. Logo veremos o povo se se vai revoltar ou não e qual o futuro do CDS. Deviam ter feito já antes destas eleições de domingo e logo veríamos...
6.
O PS-M só por incompetência e por burrice é que neste quadro não apresenta candidato próprio ao parlamento. Eu se fosse dirigente socialista dava isso por adquirido. Sei - não vou discutir como sei - que PCP e JPP não votam no candidato JMR. Desconheço se o PS-M - agastado por alegadamente não lhes ter sido feito o frete político e parlamentar prometido e negociado - votará na personagem, porque acho que entre os socialistas, mesmo que a fome de poder seja evidente, haverá ainda um rasgo de dignidade e de ética - mesmo que na política isso conte cada vez menos. Por isso isto promete.
7.
Finalmente, lembram-se do que se passou na Assembleia da República, em 2011 - maioria PSD de Passos e CDS de Portas - quando a eleição de Fernando Nobre, presidente da AMI e deputado do PSD sugerida - primeira grande asneirada do tipo - foi derrotada após duas tentativas surgindo então Assunção Esteves como alternativa? O CDS nem fez estas palhaçadas. Eu sei, a política, concorde-se ou não com o que fizeram, ainda tem senhores.
8.
Repito, não me interessam as pessoas - todas elas têm direito a ambicionarem o que acham que é melhor para elas que ninguém tem nada a ver com isso. Tenho medo, isso sim, das pessoas hipócritas que dizem que andam na vida sem objectivos, sem ambições. Nem falo sequer da capacidade das pessoas para exercerem cargos e funções, porque nem é isso que está em causa, nem poderia ser suscitado sequer neste caso em concreto. Falo apenas e só de política pura e dura, do principal órgão da autonomia regional - pelos vistos será protagonista der uma história pouco dignificante se o caos se instalar no processo eleitoral - que todos reconhecemos que não dá nem tira votos, é puramente emblemático o lugar, falo de uma triste ideia que se passa para a opinião pública - há que controlar estes danos rapidamente - de que em nome da sobrevivência no poder, tudo vale.
9.
Com algum humor, mas que na realidade esconde uma "fúria" interior, direi que ainda bem que resolveram fazer negociações rapidamente mesmo sem darem cavaco às bases - o processo é todo ele ao nível das elites dirigentes - porque por este andar a esta hora nem Miguel Albuquerque porventura saberia se seria candidato a Presidente do Governo no quadro desse acordo politico misterioso e das jogadas de bastidores que todos conhecem, mas todos garantem que "nada sabem"...  (LFM)

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