quinta-feira, fevereiro 04, 2021

Nota: Calado na corrida à CMF? A oposição aplaude este erro que fragilizaria o GRM em tempos exigentes e impróprios para maçaricos

 


Temos sido martelados nos últimos meses com a eventualidade do PSD-Madeira retirar Pedro Calado do GRM, onde é elemento fundamental, e com uma importância que vai crescer nos próximos tempos.

Isto atendendo às previsíveis pressões que se farão sentir na RAM, nomeadamente as de índole económico, orçamental e social (a recuperação será lenta e vai provocar grandes mudanças nalguns sectores de actividade), realidade que vai exigir pessoas aptas para esses desafios e não “maçaricos” sem expediente e sem experiência.

Julgo que depois das autárquicas algumas mudanças no GRM, para o dotar de uma outra dinâmica e de uma maior facilidade de comunicação com as pessoas, serão inevitáveis. Se fosse um GR do PSD-M diria que isso é obrigatório. Como se trata de um governo de coligação, os “melindres” – e não só… - podem impedir esse reajustamento, cada vez mais necessário.

Há sectores que me parecem “parados”, sem dinâmica, sem grande eficiência, e não é a pandemia a culpada disso. Mesmo sabendo-se que o GRM teve apenas 4 ou 5 meses a separar a sua tomada de posse da chegada da pandemia à RAM, com todos os seus efeitos nocivos multiplicadores conhecidos. E que persistem com consequências ainda imprevisíveis.

Não escolho a CMF

Embora desconfie que a reconquista da CMF para alguns, poucos, dos actuais dirigentes do PSD-M – e lembro que foi ainda no tempo de João Jardim, em 2013, que o PSD perdeu a edilidade da capital madeirense – se tenha transformado numa perigosa obsessão, estranha e intolerável – sobretudo quando isso implica, como parece ser o caso, colocar o PSD-M refém de um desejo de vitória, que está longe de estar garantida num quadro mais amplo de um certo “ajustes de contas” com o PS-M.


PSD-M que não pode ficar refém de intoleráveis ambições de grupo ou pessoais intoleráveis, muito menos nestes tempos de crise, cujos efeitos ainda nem chegaram à sociedade madeirense, em que será errado brincar à politiquice.

Duvido que PSD-M e CDS-M, parceiros da coligação regional no poder, façam depender o sucesso da governação – cujo sucesso depende apenas deles, das suas opções, das suas decisões e da forma como souberem lidar com as divergências políticas entre eles - – da vitória na CMF, que nem representa metade da população da Região.

Por falar em eventuais caprichos, direi que entre a estabilidade e a eficácia da governação regional até final da Legislatura, e a resolução de diversas ineficácias, algumas delas perduram desde 2015 (já falaremos disso), nomeadamente quanto ao diálogo institucional com Lisboa diz respeito, e que não pode continuar a funcionar nos moldes actuais (recados e contactos quase nulos entre as duas partes, em claro prejuízo da RAM) e uma vitória eleitoral na CMF, que nem é certa, e que caso se concretizasse – tenho fortes dúvidas, sobretudo depois de 2017 - será sempre “in extremis”, escolho a primeira. Sem qualquer dúvida ou hesitação.

Inverter estas prioridades e subverter esta lógica política da governação, é um erro que, mais do que ser mais uma infantilidade, demonstra que estamos muito longe, infelizmente, da consistência política que precisamos.

Temo que este processo autárquico - que me cheira a esturro, com imposições, algum amadorismo e patéticas consultas populistas que podem escolher nomes sugeridos mas não dão votos nem vitórias - possa significar mais do que um reles jogo de xadrez, desta feita com pessoas, em que se mudam peças de um lado para outro, sem convicção, tudo para tentar derrubar alguém (normalmente acabam por ser eles os derrubados…). Pode significar mais do que muitos pensam, provavelmente a fragilização política da coligação regional no poder e o princípio do seu fim.


Recordo que as autárquicas deste ano serão as primeiras eleições partidárias na RAM depois das regionais de 2019. Acredito que muita coisa estará para ser mostrada por uma importante faixa de eleitores que votaram PSD-M nesse ano…

Acresce que a governação regional não se limita ao Funchal, mas sim a uma Região com outros concelhos e 250 mil pessoas.

Basta pensarmos nisto: dificuldades políticas nas relações com Lisboa, insuficientes transferências do OE para a Madeira, segundo a RAM, previsão de uma queda acentuada das receitas próprias devido à crise económica, encargos crescentes com os efeitos financeiros e sociais da pandemia, aumento do desemprego, tecido empresarial regional com enormes dificuldades, impreparado, vulnerável nalguns sectores e a roçar o colapso, a perspectiva de uma recuperação lenta, bastante lenta, do turismo, uma acentuada crise na aviação comercial que fará com que o sector recupere demorada e parcialmente – e sem que o futuro tenha alguma coisa a ver com aquilo que era passado anterior à pandemia desta indústria – a inevitabilidade de mudanças estruturais no tecido empresarial e no modelo de muitos dos negócios tradicionais que percebem que nada ficará como antes (e não sei se a Madeira, tal como outras regiões similares, estão preparadas para viabilizarem essas mudanças de adaptação a um novo tempo), os problemas com o CINM e a ameaça de perda de atractividade e de receitas da RAM, etc. Se conjugarmos tudo isso acham que este é o tempo para brincadeiras idiotas com eleições de camaras municipais?


Depois há uma coisa que não entendo: será que Albuquerque acha que só quem fez parte da equipa camarária por ele liderada na CMF é que é capaz de ganhar eleições? Rubina Leal perdeu-as em 2017… Agora quer que Pedro Calado arrisque perder em 2021?! Não entendo, sinceramente, estas manobras. Não há mais ninguém que para PSD-M e CDS-M seja um bom candidato a competir com Miguel Gouveia a vitória eleitoral no Funchal? E será que é só o candidato que ganha eleições? As equipas de vereadores também não influenciam os eleitores? Acham que não?

E que dizer desta teoria de tirar pessoas de um lado para tentar metê-las noutro - a maioria acaba derrotada e humilhada nas urnas – que funciona contra os partidos, dando deles uma ideia de escassez de recursos humanos, de falta de competências e de pessoas preparadas.

Cheira-me a rasteira, salvo se…

Cheira-me a rasteira política, quiçá mesmo um desejo de despachar Pedro Calado do GRM, provavelmente por ser hoje, mais do que antes, olhado como uma potencial "ameaça" que alguns sectores partidários temem.

Mas é isso que me faz uma confusão: quando o PSD-M, ainda no primeiro mandato de Albuquerque (2015 a 2019), remodelou o governo, fazendo entrar Pedro Calado para Vice-Presidente – aliás ele esteve, desde a primeira hora, para fazer parte desse governo - não foi voz corrente (discurso oficial)  sustentar que o executivo depois dessas mudanças ficou mais operacional e politicamente mais forte e coeso, e com menos cinzentos oportunistas e inexperientes?! O que é que mudou desde então até hoje?

Se com esta coligação essa premissa foi mantida, como é que a menos de meio mandato, e com a Madeira na fronteira daquela que poderá ser a sua pior crise social, económica e financeira de sempre, causada pelo impacto da pandemia (a que se junta a deliberada e perigosa intenção de matar o CINM), há quem ceda a meia dúzia de iluminados que nas redes sociais e nas sarjetas da política doméstica querem "despachar" Calado para a CMF? Ainda por cima sem garantias de nada, desde logo sem garantias de que ganha eleições - e quanto a isso não quero perorar demasiado porque não sei todos os contornos desta história mal contada – sabendo-se que existem sinais que não são animadores, embora não sejam fiáveis, deixando inclusivamente a dúvida se há ou não o propósito deliberado de o afastar, caso seja derrotado.

Num cenário desses, de derrota eleitoral, Calado perderia espaço político, a começar pelo PSD-M, e dificilmente seria um simples vereador numa autarquia onde já foi o número dois de Albuquerque. Ou será que uma pretensa afinidade política entre Calado e AJJ justifica tudo isto?

Estou confuso, e talvez não devesse. Erro meu porque provavelmente nestes últimos anos já devia ter aprendido que a irracionalidade e a incompetência na política e a incapacidade em antecipar factos é o que há demais. Mas enfim, prometo que vou tratar dessa minha insuficiência....

A outra possibilidade, digamos que a face B desta moeda, tem a ver com o risco do PSD-M estar refém, ou poder ficar refém, de obsessões relativamente à CMF, olhada como uma coutada que não pode ser gerida pela oposição. Como se isso implicasse problemas para a governação regional, porque é dessa que falamos e é essa a grande prioridade dos madeirenses, incluindo os funchalenses, cada vez mais fartos de esquisitas guerras pessoais de bastidores.

Outra possibilidade - a terceira neste puzzle demasiado complicado, porque pouco transparente - tem a ver com o facto de que sendo adquirido que PSD e CDS concorrerão coligados no Funchal (acho natural que o façam mas considero um insulto aos eleitores e aos partidos imporem uma coligação generalizada a toda a RAM, opção que terá efeitos eleitorais desastrosos que podem colocar em causa o futuro da coligação, pelo menos desta), podermos estar perante uma cedência, mais uma, de Miguel Albuquerque ao CDS-M, que deste modo, ao "despachar" Calado para cabeça de cartaz na disputa funchalense, ficaria com mais espaço de afirmação no governo de coligação, algo que com Pedro Calado não tem sido possível dadas as competências que ele acumula.


Finalmente - como quarta possibilidade que colocaria em causa toda a minha lenga-lenga anterior – temos a eventualidade de Pedro Calado pretender abandonar o GRM e estar disposto a sujeitar-se inclusivamente a um cenário de derrota eleitoral na autarquia da capital, que dificilmente o manteria na política activa. Estrou a perorar sem qualquer informação quanto a isso.

Dizem os manuais de ciência política que se uma pessoa não ganha hoje uma eleição (ainda por cima o cenário não é recomendável, porque pior ficará na altura das autárquicas, devido aos sinais de crise que se vão acentuar), não ganha as seguintes, a não ser que caia no esquecimento, efectuando uma travessia no deserto cuja temporalidade depende de muitos factores. Nos Açores, por exemplo, o PSD-A tem muita experiência nessas travessias do deserto que pura e simplesmente "acabaram" com muitos candidatos a muita coisa... E todos sabemos como é que o PSD-Açores regressou ao poder, em que condições e com que custos!

E os números (em queda) não valem nada?

Outra questão, finalmente, que eu penso que as pessoas ainda não perceberam muito bem, tem a ver com a evolução eleitoral dom PSD-M no Funchal e com a perda de eleitores em todas as eleições.

Elaborei um conjunto de quadros que mostram a realidade eleitoral no Funchal, em várias eleições, diferentes umas das outras, mas que ajudam a entender o peso da abstenção na capital madeirense e a realidade eleitoral expressa pelos eleitores nas urnas - e não puzzles montados em reuniões partidárias ou em "sondagens" que valem pouco mais que zero por que os militantes de um partido sozinhos não ganham eleições.

Mas como diz o outro, façam o que entenderem e sejam felizes. Para a história contam aqueles que merecem lá estar (LFM)

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