Paulo Pedroso está a trabalhar para a associação mutualista do Montepio.
Administração tem quatro membros, dois com clara ligação ao PS. Amaior
associação mutualista do país, o Montepio, ganhou mais um nome ligado ao
Partido Socialista. Ainda que se tenha afastado recentemente do partido, Paulo
Pedroso é mais um antigo nome ligado ao PS que está a trabalhar com a
instituição, que, só na sua administração, tem um ex-autarca e uma
ex-secretária de Estado pelo PS. Entre os membros eleitos do Conselho Geral,
são mais quatro.
Segundo noticiou o jornal Eco esta segunda-feira, 11 de maio, Paulo
Pedroso foi contratado pela associação, que conta com 600 mil membros, para
realizar “estudos concretos de âmbito mutualista e de economia social”, tendo
em conta, diz, o “novo enquadramento” que se está a sentir atualmente. Não terá
responsabilidades de gestão.
Conta o mesmo jornal que há, internamente, vozes que questionam o
crescimento da influência socialista na associação. Pedroso foi ministro do
Trabalho e da Solidariedade do Governo de António Guterres, entre 2001 e 2002,
sendo que chegou também a ser candidato pelo PS à Câmara de Almada, em 2009.
Segundo o registo de interesses no site do Parlamento, é casado com Ana
Catarina Mendes, deputada pelo PS, líder do grupo parlamentar e que foi até ao
ano passado secretária nacional adjunta de António Costa.
Esta contratação pela Montepio Geral – Associação Mutualista acontece
depois de o ex-governante ter abandonado o partido, o que ocorreu no início
deste ano. E acontece também depois de ter sido apontado, em dezembro, como o
nome proposto por Tomás Correia, quando este ainda estava na presidência da
associação, para administrador não executivo do Banco Montepio, como noticiou o
Público. Não se concretizou essa contratação. Também não terá um cargo de
gestão na associação que é dona do banco, mas junta-se, enquanto consultor, à
entidade, que, já de si, é muito ligada ao PS.
Contactado pelo Expresso, Paulo Pedroso não quis comentar a entrada no
Montepio, remetendo qualquer reação para a associação, que disse, ao final da
tarde, que é "independente de ideologias e religiões".
. A associação mutualista, que é supervisionada pela Autoridade de
Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), está sob a tutela do
Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que tem, aliás, de
aprovar os seus estatutos, à luz das novas regras das mutualistas (um diploma
que afeta sobretudo o Montepio e que demorou anos a ser finalizado).
METADE DA ADMINISTRAÇÃO DO PS
Depois da saída de António Tomás Correia, a administração do Montepio –
associação que tem o sexto maior banco do sistema português (Caixa Económica
Montepio Geral, conhecida como Banco Montepio) e é também dono de seguradoras
(a Lusitania é a principal marca) – passou a ser liderada por Virgílio Lima, há
anos ligado a várias entidades do grupo. Dos restantes três membros do conselho
de administração, dois têm ligação ao PS.
Idália Serrão foi deputada pelo PS entre 2005 e 2019, quando renunciou
ao mandato para ir para a administração do Montepio. No passado, esteve também
na junta de freguesia de Almoster, em Santarém, sendo que foi também vereadora
da câmara. Ocupou, igualmente, cargos governativos: foi secretária de Estado
Adjunta e da Reabilitação nos dois governos de José Sócrates.
Carlos Beato, militar de Abril, foi presidente da Câmara de Grândola
entre 2001 e 2013, eleito pelas listas do PS como independente. Deixou o cargo
em 2013, quando já não se podia recandidatar, para ingressar na associação.
CONSELHO GERAL COM QUATRO PRESENÇAS SOCIALISTA
Mas a força socialista na associação – em que a presença da maçonaria
tem sido sempre referida, até pelo símbolo do pelicano – não se fica pela
administração. No conselho geral, que tem funções de supervisão do trabalho dos
administradores, também há outros nomes socialistas, a maior parte eleita pela
lista que era liderada por Tomás Correia.
Maria de Belém Roseira, ex-ministra socialista, foi o primeiro membro a
ser eleito para o conselho geral nas eleições de 2019, onde está também Luís
Patrão, ex-secretário de Estado do primeiro Governo de António Guterres, antigo
chefe de gabinete de José Sócrates, cargo que abandonou para presidir ao
Turismo de Portugal. É atualmente administrador da ANA, a empresa
concessionária dos aeroportos nacionais. Outro membro, Menezes Rodrigues,
também ocupou vários autárquicos pelo PS. Alberto Ramalheira foi secretário de
Estado nos primeiros governos constitucionais, sob liderança de Mário Soares (e
Maria de Lourdes Pintassilgo).
Neste conselho, que é eleito através de um método proporcional das
listas a votação, há também elementos ligados a outros partidos, como o PSD
(Alípio Dias), o CDS (Gonçalo Caetano Alves) e o PCP (Maria das Dores Meira). A
autarca de Setúbal foi eleita pela lista de Tomás Correia, que também tinha
nomes do PSD, como o ex-deputado José Matos Correia. Mas os socialistas têm
maior peso. A ligação partidária tem merecido críticas de um ex-diretor do grupo,
João Simeão, que tem escrito vários artigos de opinião nos jornais portugueses,
um deles em que acusa a gestão de Tomás Correia de ter tornado o Montepio numa
“coutada do PS”. Atual presidente da mesa da assembleia-geral, mas há décadas ligado ao
grupo, Vítor Melícias defendeu já que a associação não se dobra perante ministros.
“Deus nos livre que a sociedade civil – desde logo, uma mutualista com o peso
que tem o Montepio – se desdobrasse às suas excelências senhores ministros,
secretários de Estado e não sei o quê”, declarou, numa entrevista ao Observador
(Expresso, texto do jornalista Diogo Cavaleiro)
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