quarta-feira, abril 22, 2020

Covid empurra 28 mil para o desemprego e há 5.902 famílias em que nenhum dos elementos trabalha

Desemprego registado aumentou 8,9% em março e o número de casais em que ambos estão no desemprego cresceu quase 11% num mês. São os primeiros dados oficiais do mercado de trabalho nacional em contexto de pandemia. Serão necessários mais indicadores para aferir o impacto real da covid-19 nas empresas e no emprego. Mas o cenário traçado esta segunda-feira pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional é já alarmante
No final de março estavam inscritos nos centros de emprego nacionais 343.761 desempregados. O número, divulgado esta manhã pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) traduz um aumento do desemprego registado de 8,9% em cadeia e de 3% face ao período homólogo, colocando-o em máximos de há 14 meses. Feitas as contas são mais 28.199 desempregados do que em fevereiro, a maioria "vítima" do impacto económico da pandemia. E entre os milhares de desempregados registados, há um dado que traduz a dimensão do problema social que o país terá em mãos nos próximos meses. O número de casais em que nenhum dos cônjuges tem emprego aumentou 11% num mês. São já 5.902 as famílias nesta situação.

São os primeiros indicadores sobre o impacto da pandemia no mercado de trabalho e, admitem os economistas, não permitem ainda traçar a real dimensão do desemprego nacional já que muitos dos trabalhadores foram dispensados na segunda metade de março e poderão ainda não registado a sua inscrição nos centros de emprego. Contudo, ainda possam pecar por defeito, há já algo que como certo e não apresenta grandes dúvidas nem para o Governo, nem para os especialistas em economia do trabalho: abril será pior.
E foi a própria ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, quem o traduziu em números na passada semana, ao partilhar os dados da evolução do desemprego nos primeiros 15 dias de abril. Tomando como referência apenas os dados continente, nas primeiras duas semanas do mês o desemprego registado terá aumentado mais 10%, para os 353 mil. São mais 32 mil desempregados em 15 dias.
É preciso recuar quatro décadas para encontrar um aumento mensal no stock de desempregados desta natureza. Tipicamente, o desemprego registado não apresenta variações mensais superiores a 5%. Essa tem sido a prática nos últimos anos, com exceção para janeiro de 2009. Nesse mês, já em contexto de crise financeira, o desemprego registado aumentou 7,7% face a dezembro de 2019 e os centros de emprego a somaram 31.961 novos desempregados num só mês.
DESEMPREGO QUASE EM NÍVEIS DE 2008
Embora estejamos ainda longe dos 391 mil desempregados registados na crise de 2008, os economistas do trabalho que têm vindo a ser ouvidos pelo Expresso não têm dúvidas de que o valor será rapidamente superado. Quer Francisco Madelino, economista e ex-presidente do IEFP, quer João Cerejeira, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, consideram que os impactos reais da pandemia na economia e no emprego só poderão ser medidos com mais rigor a partir de abril, mas não têm dúvidas de que irão além da última crise. Se muito ou se pouco, tudo dependerá do tempo que a economia demorar a voltar ao normal.
Em entrevista ao Expresso no passado sábado, Francisco Madelino realça até que, o desemprego registado pelo IEFP é um indicador relevante, mas é importante aguardar pelo dados que o Instituto Nacional de Estatística divulgará na próxima semana e, no início de maio, pelos indicadores relativos ao primeiro trimestre do ano. Isto porque, realça, "o desemprego oculto, aquele que não aprece nas contas do IEFP, será já muito superior".
Com a margem que se reconhece face ao desemprego real apurado nas estatísticas do INE (ver infografia), os dados do IEFP hoje divulgados permitem medir medir o pulso à forma como as empresas e a economia estão a reagir à pandemia. Sabemos, por exemplo, que tendo como base uma análise em cadeia (face ao mês anterior) "para o aumento do desemprego registado contribuíram todos os grupos do ficheiro de desempregados, com destaque para os homens, adultos com idades iguais ou superiores a 25 anos, os inscritos há menos de um ano, os que procuravam novo emprego e os que possuem como habilitação escolar o secundário", revela o relatório do IEFP.
Sabemos também que o desemprego aumentou de forma transversal nas várias regiões do país, com exceção dos Açores, onde registou um decréscimo de 0,1%. Lisboa (+10,4%), Alentejo (+12,5%) e Algarve (+12,8%) registaram as maiores subidas no desemprego face ao mês anterior. Se a análise considerar o mesmo mês do ano passado, o Algarve regista um aumento de 41,4% no número de desempregados registados, sobretudo sustentado nas quebras no sector do turismo e restauração.
Em termos sectoriais, o desemprego aumentou nos três sectores económica face ao mesmo mês de 2019. O dos serviços foi aquele em que o aumento registou maior expressão, mais 5,9%. Desagregando este ramo de atividade é possível perceber que que as subidas percentuais mais acentuadas acontecem no alojamento, restauração e similares (+17,9%), atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio (+10,3%) e transportes e armazenagem (+9,4%). Já no sector secundário, o ramo da indústria metalúrgica foi o que registou o maior aumento (+20,9%).
CASAIS NO DESEMPREGO AUMENTAM 11%
Outro indicador que merece atenção é o aumento registado nos casais em que ambos os cônjuges ficaram sem trabalho. São já 5.902, mais 11% (547) do que em fevereiro deste ano. Desde 2010 que o IEFP divulga informação estatística sobre os casais com ambos os elementos em situação de desemprego. Nessa altura eram 2.862 os casais nessa situação. O ano de 2013, em que a taxa de desemprego chegou a atingir os 17,6% (março), foi também o ano em que o número de "casais desempregado" atingiu o número mais elevado da série disponível, 13.315 (Expresso, pela jornalista CÁTIA MATEUS)

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