quinta-feira, abril 30, 2020

Metade dos trabalhadores do planeta pode ficar sem meios de subsistência

Quase metade da força de trabalho global, o equivalente a 1,6 biliões de pessoas, está em «risco imediato de perder todos os meios de subsistência financeira» devido ao impacto da pandemia da Covid-19 nas suas economias, segundo um alerta da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado esta quarta-feira, e citado pelo ‘The Guardian’. Dos 3,3 biliões de pessoas activas no mundo, cerca de 2 biliões trabalham na chamada «economia informal», geralmente com contratos de trabalho a curto prazo ou como trabalhadores independentes, e já sofreram uma quebra de 60% nos seus salários no primeiro mês da crise. Desses, 1,6 bilião enfrenta mesmo a perda dos seus meios de subsistência, alertou a OIT. «Isto mostra que, nos termos mais severos possíveis, a crise do emprego e todas as suas consequências estão a agravar-se quando comparadas com as nossas estimativas de há três semanas», afirmou o director geral da agência da Organização das Nações Unidas (ONU), Guy Ryder.

O responsável indica ainda que «para milhões de trabalhadores, não receber salário significa não ter comida, segurança ou futuro. Milhões de empresas em todo o mundo mal conseguem respirar», disse Ryder, acrescentando que «estes trabalhadores não têm poupança ou acesso ao crédito. Esta é a realidade do mundo do trabalho. Se não os ajudarmos agora, eles não vão aguentar».
As regiões financeiramente mais afectadas são as Américas do Norte e do Sul, após a rápida propagação do vírus nos Estados Unidos e no Brasil. Contudo, na Europa também existem trabalhadores em risco iminente de ver os seus meios de subsistência desaparecerem.
No continente americano, a perda de horas de trabalho no segundo trimestre deverá atingir os 12,4% em comparação com o nível pré-crise. Na Europa e Ásia central, o declínio é estimado em cerca de 11,8%.
Estes números traduzem-se numa quebra de 81% no rendimento dos trabalhadores dos continentes africano e americano, 21,6% da Ásia e do Pacífico e 70% da Europa e da Ásia Central.
A China aliviou algumas medidas restritivas impostas pela pandemia do novo coronavírus, o que fez com que milhares de empresas tenham reaberto e aumentado as horas de trabalho dos funcionários. Segundo a OIT, esse desenvolvimento fez com que o rendimento dos trabalhadores aumentasse ao nível global.
No entanto, o agravamento da crise em muitas outras regiões do mundo deixou mais de 436 milhões de empresas a enfrentar sérios riscos de perturbações graves, afirmou a OIT. E estes empregadores operam nos sectores económicos mais afectados pela crise: 232 milhões nos sectores de comércio a retalho, 111 milhões nas indústrias de transformação, 51 milhões em alojamento e serviços de alimentação e 42 milhões em imóveis e outras actividades comerciais.
A OIT aconselha os governos de todo o mundo a prolongar urgentemente os seus programas de resgate para incluir «medidas direccionadas e flexíveis que apoiem os trabalhadores e empresas, particularmente pequenas empresas, empresas da economia informal e outras mais vulneráveis».
Ryder disse esperar que os governos reconheçam que é necessário reconstruir as suas economias através de melhores práticas de trabalho e «não de um retorno ao mundo do trabalho precário para a maioria» das empresas.
«A pandemia revelou o quão precário, quão frágil e quão desigual é o nosso mundo do trabalho. É comum dizer que esta pandemia não discrimina e, em termos médicos, isso está correcto. Contudo, em termos económicos e sociais a epidemia discrimina massivamente e, acima de tudo, discrimina aqueles que não têm protecção, que não têm recursos, nem sequer têm o que consideramos essencial para uma vida normal», conclui (Executive Digest, texto da jornalista Simone Silva)

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