A Organização Internacional do Trabalho (OIT)
estima que quatro em cada cinco trabalhadores tenham sido afetados pela suspensão
total ou parcial dos seus empregos, no contexto da epidemia da Covid-19, que
impôs o confinamento social. O mais recente relatório da OIT sobre as
repercussões da epidemia no emprego, divulgado hoje, prevê igualmente que 6,7
por cento das horas de trabalho desapareçam já no segundo trimestre de 2020, em
todo o mundo. Essas horas equivalem a 195 milhões de trabalhadores a tempo
inteiro (dos 3,3 mil milhões em todo o mundo). Essa redução das horas de
trabalho será mais elevada nos Estados Árabes (8,1 por cento, cinco milhões de
trabalhadores), na Europa (7,8 por cento, 12 milhões de trabalhadores) e na
Ásia e Pacífico (7,2 por cento, 125 milhões de trabalhadores).
A OIT identifica ainda os setores de atividade mais
expostos ao risco: alojamento e restauração, manufatura, comércio e atividades
comerciais e administrativas. Esta atualização da OIT (que divulgou um primeiro
relatório em 18 de março) estima que 38 por cento da força de trabalho global
(1,25 mil milhões de trabalhadores) esteja empregada nos setores de maior
risco, já com aumentos “drásticos e devastadores” nos despedimentos e na
diminuição de salários e horas de trabalho. A proporção de trabalhadores
naqueles setores varia entre os 43,2 por cento nas Américas e os 26,4 por cento
na Ásia e Pacífico, com a Europa a registar uma taxa de 42,1 por cento. Outras
regiões debruçam-se com a desproteção do trabalho informal, que envolve dois
mil milhões de pessoas, na maioria em países em desenvolvimento e economias
emergentes, e em particular em África.
Ainda que o aumento do desemprego mundial em 2020
dependa, consideravelmente, das “medidas políticas que venham a ser adotadas”,
a OIT reconhece, desde já, o “risco elevado” de que a estimativa apontada para
que este ano venha a ser “significativamente mais alta” do que a previsão
inicial, que apontava para 25 milhões de desempregados. “A pandemia de covid-19
tem um efeito catastrófico no tempo do trabalho e nos rendimentos, à escala
mundial”, resume a OIT, reconhecendo que o seu impacto supera os efeitos da
crise financeira de 2008-2009.
A OIT fala na “pior crise mundial desde a II Guerra
Mundial”
Todos os níveis de rendimento sofrerão “enormes
perdas”, mas a OIT estima que o maior impacto recaia sobre os rendimentos
médio-altos. Os trabalhadores que continuam a laborar nos serviços públicos,
especialmente os profissionais de saúde, estão expostos a “riscos sanitários e
económicos significativos” atesta a OIT, reconhecendo ainda que, no setor da
saúde, o impacto “afeta desproporcionadamente as mulheres”. Face à atual
situação, “é preciso adotar medidas políticas integradas e de grande escala,
centradas em quatro pilares: apoiar as empresas, o emprego e os rendimentos;
estimular a economia e o emprego; proteger os trabalhadores no local de
trabalho; e utilizar o diálogo social entre governos, trabalhadores e
empregadores para encontrar soluções”, recomenda a OIT. “Os trabalhadores e as
empresas enfrentam uma catástrofe, tanto nas economias desenvolvidas como nas
economias em desenvolvimento”, disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, citado
no comunicado. “Temos de agir com rapidez, decisão e coordenação. As medidas
certas e urgentes podem fazer a diferença entre a sobrevivência e o colapso”,
assinalou, considerando que “este é o maior teste à cooperação internacional em
mais de 75 anos”. Guy Ryder acredita que “as medidas certas” poderão limitar o
impacto da crise “e as feridas que deixará”, e defende que os novos sistemas de
trabalho que surjam devem ser “mais seguros, mais justos e mais sustentáveis”
(Jornal Económico)
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