Tirando a moção de estratégia global de Miguel Albuquerque, que basicamente serve de base ao futuro programa de governo a ser proposto pelo PSD na campanha eleitoral para as regionais, espero muito sinceramente que a discussão neste Congresso do PSD se centre no que realmente interessa e importa. O PSD-M não está em condições, nem tem tempo para perder tempo com banalidades, muito menos para ser tolerante com protagonismos exagerados ou tentativas de se colocarem em bicos-de-pés.
O PSD-M saiu de um acto eleitoral autárquico de 2017 penoso (perdeu as mesmas 7 câmaras que tinha perdido em 2013) e as sondagens publicadas desde então, mesmo que se caia no lugar comum de repetir que sondagens são sondagens e que valem por isso - e são e valem. A verdade é que há indicações concretas que não podem ser escamoteadas (como existiram em 2017 na disputa autárquica no Funchal que foram deliberadamente desvalorizadas e alvo de muita manipulação que apenas escondeu do partido uma realidade que era mais ou em perceptível..."lá fora").
Sabe-se que para este Congresso existem seis moções sectoriais - da Concelhia do PSD/Funchal, da ARASD (Autarcas Social-Democratas), da JSD (Jovens Social-Democratas), apresentada por Bruno Melim, e outras subscritas por Cláudia Monteiro de Aguiar, Paulo Neves e Rubina Berardo. Só espero e desejo que as pessoas saibam enquadrar as suas moções sectoriais,colocando-as neste contexto muito mais exigente no seu devido patamar - aplauda-se o trabalho dos autores mas um congresso não pode ser caixa de ressonância de banalidades ou de situações que todos assumem como indiscutíveis.
Evitando que se transformem o congresso em oportunidades para exibicionismos pessoais apostados no tempo mediático, muito francamente faço votos para que o congresso oiça as bases do partido, o chamado partido mais profundo, aquele que em primeira instância - e não são as elites dirigentes regionais - sente o pulsar da sociedade e percebe o sentimento das pessoas, as suas expectativas e frustrações, mas que muitas vezes não possuem canais de contacto que façam chegar a quem de direito as suas constatações.
Não percamos tempo - e hoje tivemos uma confirmação pública disso - com oportunismos e oportunistas, muitos deles a reboque da disputa interna de 2014 e que permaneceram ao lado dos vencedores enquanto tiveram lugares ou isso lhes interessou. O problema é que minaram as estruturas internas do próprio PSD-M com muita intriga oportunista à mistura. Quando isso deixou de acontecer, quando deixaram de ter lugares ou não lhes foi feita promessa de nada, viraram a casaca mostrando uma falta de carácter que existe hoje, é certo e sabido, mas que existia também em 2014 quando foi protagonizada a disputa pela liderança do partido. O PSD-M acabou por ser penalizado, nas freguesias e concelhos, entre outros motivos, também por estes oportunistas - um fenómeno que existe em todo os partidos, eu sei, mas que é mais perceptível nos partidos maiores e de poder. Não pode voltar a cair nesse erro. Há que separar o trigo do joio, a começar pelo Congresso de hoje, falando abertamente para si, dos seus problemas, do que é preciso ser feito, do modelo de funcionamento interno, das ligações entre secretariado e bases (essencial).
Quando se abriram estes congressos ao espaço mediático - sempre fui contra o espaço de debate interno e de intervenções e de discussão virasse um espaço público porque um partido não é propriamente um supermercado - isso inibiu as pessoas que prontamente começaram a não querer intervir, a sinceridade deixou de ser um dos atributos destas reuniões partidárias magnas, acabando os congressos por serem tomados de assalto pelas nomenclaturas dirigentes e suas ramificações. Veja-se uma vez mais o caso. Não há mal nenhum nisso, mas apostaram demasiado num debate institucional nos congressos, retirando deles a vertente da naturalidade, da sinceridade, basista, que no início da vida dos partidos - e alguns ainda se lembrarão disso - era fantástica e naturalmente salutar.
Hoje o que as pessoas percebem é que nada acontece por acaso, não há ingenuidade em nada do que é feito ou apresentado, Há sempre a expectativa de alguma coisa, há objectivos pessoais, há propósitos. E cabe aos partidos identificar isso e poder decidir em função dos seus interesses e não de qualquer pressão ou de insinuações.
Por exemplo, não se pode bater e rebater na tecla do inimigo externo - que sabemos que existe desde 1976 e que está identificado historicamente - e esconder os problemas internos concretos, reais, factuais, que em certa medida atrofiam o PSD-M e estiveram na origem de muitas situações adversas, muitas delas nos actos eleitorais e no perigoso aumento da abstenção.
Uma recomendação e algumas dúvidas: alguém vai exigir a limpeza dos cadernos eleitorais para que as eleições tenham resultados mais próximo da realidade? Alguém falará do modelo eleitoral vigente, se ele é o que aproxima mais as pessoas dos partidos, se é o mais justo em termos da representação de todos os municípios da Madeira em temos de parlamento regional? Alguém mostrará preocupação em recomendar um estudo sobre a mudança operada no universo eleitoral regional que hoje nada tem a ver com o que se passava no passado? As pessoas passaram a ter outras prioridades, passaram a ter acesso a outras formas de comunicação, passaram a ter políticos que porventura não terão o mesmo carisma de outros tempos. Alguém "perdeu tempo" a estudar o impacto das redes sociais na vida interna dos partidos, nos tempos de campanha eleitoral, e partilhar isso com os congressistas para percebermos se a doentia dependência das redes sociais representa uma mais-valia? No caso dos municípios onde o PSD-M foi derrotado não cabe às respectivas estruturas partidárias concelhias entender o que se passou e planificar de imediato uma estratégia política de oposição que lhes permita recuperar o espaço perdido e a representação eleitoral? Como é que se discute isso num congresso misturando municípios onde o PSD foi vitorioso e é poder e municípios onde o PSD-M foi derrotado e é oposição? Será este o caminho? E quando há um imenso trabalho pela frente de recuperação política, social e eleitoral do partido num ou noutro concelho é aceitável que as pessoas acumulem responsabilidades internas em vez de se concentrarem naquilo que deveria ser, deve sem, a sua principal causa? Duvido.Nunca aconteceu antes.
Pois é, cerca de um ano depois das eleições autárquicas e da realidade concreta que elas propiciaram, haverá razão, diria mesmo, haverá lógica e até legitimidade para que internamente nos comportemos como se nada se tivesse passado tentando branquear - perdoem-me o termo mas é isso mesmo - a realidade sob a capa de moções digam elas o que disserem? Reflexão, seriedade, pragmatismo e nada de populismos, demagogia, manipulação e banalidades. É só o que espero e desejo do fundo do coração (LFM)
Sem comentários:
Enviar um comentário