terça-feira, janeiro 29, 2019

Saúde: Portugueses elegem hospitais públicos só para internamento

Primeiro inquérito alargado realizado pela associação de defesa do consumidor DECO revela que os portugueses valorizam mais as unidades hospitalares privadas nos casos SOS e no acompanhamento por especialistas. O Serviço Nacional de Saúde só ganha no internamento, que por ser gratuito fica logo em clara vantagem. Os portugueses “dizem ter vivido boas experiências nos hospitais, mas criticam o tempo de espera, o ruído e a alimentação”. A conclusão consta de uma avaliação alargada feita pela associação de defesa do consumidor DECO a 42 hospitais públicos e privados, no continente e ilhas, com base nas experiências de doentes nos seis a doze meses anteriores. O sector privado vence. Ganha o primeiro lugar na experiência total e empata na particular das Urgências e das consultas externas. As unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) só têm a liderança no internamento, estando logo em vantagem pela gratuitidade.
A partir de 1723 entrevistas sobre idas recentes ao hospital, a DECO conseguiu apurar que, “em termos globais, os portugueses relataram experiências muito positivas”, isto é, “todos os 42 hospitais estudados registaram mais de 74% na apreciação global”. E destacam: “Aos olharmos para as experiências com os profissionais de saúde, verificamos que estes podem mesmo fazer a diferença, por vezes os resultados são ainda mais elevados do que os registados pelo respetivo hospital como um todo.”

CUF INFANTE SANTO NO TOPO
Na classificação global, o topo do pódio pertence ao hospital privado CUF Infante Santo, Lisboa (98%), seguido pelo IPO-Porto (97%), Curry Cabral, Lisboa, (95%), a unidade dos bancários SAMS (94%) e Cascais (92%). Segundo os autores do estudo, “contribuíram para estes resultados, em especial, a experiência proporcionada pelos profissionais de saúde e as condições dos hospitais”.
Já na análise detalhada, por tipo de serviço, os resultados são ligeiramente diferentes cabendo a liderança também ao SNS. Nas Urgências, a área a que mais portugueses recorrem na rede pública, o primeiro lugar é dividido entre os hospitais CUF Infante Santo (95%) e Angra do Heroísmo, Açores (95%). Surgem depois CUF Descobertas, Lisboa (92%), e Ponta Delgada e Famalicão, ambos com uma avaliação de 90%. E aqui, “entre as principais queixas que impendem sobre os serviços de Urgências, contam-se a ajuda deficiente no controlo da dor ou de outros sintomas, a menor empatia dos enfermeiros e auxiliares, o ruído e a falta de envolvimento do doente nas tomadas de decisão relativas ao seu estado de saúde”.
A classificação semelhante de unidades públicas e privadas repete-se no capítulo das consultas externas. Os melhores são CUF Infante Santo e Hospital de Setúbal (98%), Curry Cabral e o Hospital dos Lusíadas, ambos em Lisboa e com 96%, e ainda IPO-Porto e SAMS (95%). Mas o público ganha em toda a linha no internamento: Setúbal (98%), Curry Cabral (96%), SAMS (95%), Beja (93%) e Cascais e Santo António, Porto, os dois hospitais pontuados com 92%. “No âmbito do internamento, foram reportadas experiências menos positivas a propósito da espera até ser iniciado o atendimento e do controlo da dor ou de outros sintomas. Já internados, os utentes reclamam, com frequência, do ruído e da alimentação. A dificuldade em contactar o hospital, por telefone ou e-mail, foi ainda assinalada. A mesma dificuldade foi referida no caso das consultas externas. Neste contexto, os utentes criticam ainda a alimentação no hospital e a pouca empatia dos funcionários. E, de novo, a facilidade de contacto com o hospital ficou aquém do desejável”, explicam os peritos da DECO.
MENOS ESPERA E RUÍDO, MELHOR COMIDA E COMUNICAÇÃO
Em conclusão, “pôr o cidadão no centro dos cuidados de saúde é um caminho que deve continuar a ser seguido”. Por outras palavras, “abordar o doente com dignidade e humanismo reforça a colaboração com os profissionais de saúde e a adesão aos tratamentos, e, apesar dos resultados encorajadores, continua a haver grande potencial de melhoramentos, em especial, na fase em que o doente tem de aguardar até ser atendido; o controlo da dor ou de outros sintomas nem sempre é devidamente considerado”. Mas não só. “Para o objetivo de colocar o utente no centro dos cuidados ser alcançado, a participação do doente nas decisões, o envolvimento da família e o apoio na fase pós-alta têm de ser a regra, e não a exceção. Também a comunicação com o hospital requer maior dose de eficácia.”
O que falta para tornar a experiência hospitalar mais positiva? “Esperas mais curtas e confortáveis, menos ruído, opções alimentares que vão ao encontro das preferências e necessidades dos doentes, e servidas a horas adequadas, assim como melhor comunicação com o hospital (…). Um recado que vai, certeiro, para o Ministério da Saúde.” (texto do Expresso, da jornalista Vera Lúcia Arreigoso)

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