1. Eu não tenho nada a ver com o que se passa no PS regional, nem
sequer isso me importa para nada. Mas há uma situação - a de Paulo Cafofo -que
começa a roçar não diria o anedótico mas sim o absurdo e que precisa de ser
urgentemente clarificada, sob pena da oposição ter todo o direito de começar a
desgastar o autarca funchalense de uma forma concreta e contundente.
2. Vamos a factos.
É-me absolutamente indiferente o que Paulo Cafofo quer fazer em termos
do seu futuro político, que ambições alimenta - ou que lhe dizem que deve ter…
– nem sequer perco muito tempo a tentar perceber aquela novela estranha entre P.
Cafofo e o PS regional que não deixa de ser “sui generis” porque é única na
política regional e mesmo nacional.
É sabido que o líder do PS, Emanuel Câmara, num gesto de claro oportunismo
político e eleitoral interno, compreensível, anunciou antes de ter sido eleito
líder do PS madeirense, que o seu candidato à chefia do governo madeirense
seria Paulo Cafofo duplamente vencedor (2013 e 2017) da corrida eleitoral na
CMF.
Emanuel Câmara a corrida contra Carlos Pereira – que nunca “engoliu”
Cafofo e as habilidades da sua “entourage”, acabou vencendo por uma margem mais
curta do que alguns imaginavam, graças sobretudo aos contributos de alguns
"fidalgos" socialistas em concelhos e freguesias consideradas
essenciais e essa disputa.
O compromisso de Emanuel foi confirmado, depois, no congresso, mesmo
que careça de ratificação adequada, porque não são os congressos que aprovam as
listas de deputados - já que é disso que falamos, da eleição de deputados
regionais.
3. Afinal o líder do PS-Madeira não será o cabeça de lista às
eleições regionais? Ou não?
Paulo Cafofo, que não é filiado no PS-Madeira - e não se filia
porque ele sabe que o PS não tem votos suficientes para ganhar nenhuma eleição
regional e porque essa filiação o colaria demasiado ao PS, retirando-lhe margem
de negociação pós-eleitoral com a qual conta (apesar de ter necessitado para a
CMF de duas coligações políticas, pré-eleitorais), já que não se concretizarão alianças
com ele antes das eleições.
Acresce que uma colagem demasiado óbvia de P. Cafofo ao PS
regional – que continua a ser um partido sem grande credibilidade e apoio popular
(e 2019 vai demonstrá-lo) - teria sobretudo efeitos negativos na sua anunciada,
mas não ainda não oficialmente confirmada pelo PS local, candidatura à chefia
do governo regional.
4. Pergunta-se: afinal, P. Cafofo, que não é dirigente do
PS-Madeira vai destronar Emanuel Câmara e ser ele próprio o cabeça de lista às
regionais de 2019, catalogado como um falso “independente” – algo que julgo que nunca ocorreu nos grandes
partidos regionais, mas há sempre uma primeira vez em tudo na vida… - numa subversão do que seria a realidade partidária,
embora com o PS-Madeira - e isso aconteceu frequentemente ao longo de 40 anos
de autonomia - tudo seja possível.
Por exemplo: num cenário eleitoral concreto – e as europeias
podem dar os primeiros sinais – será que Emanuel Câmara, que está a milhas de
ter uma imagem pessoal que seja eleitoralmente uma mais-valia para o PS, e um
reforço positivo ou negativo a uma candidatura de Paulo Cafofo, salvo se este
obrigar o partido a render-se e submeter-se à sua pessoa, indicando-o como
candidato à chefia do governo regional apesar de ser um falso independente.
5. Outra dúvida - para além da incerteza sobre se o hoje PS decide,
faz escolhas e define estratégias em função das sondagens que são publicadas ou
não – tem a ver com a situação presente de P. Cafofo que acaba por não ser o
Presidente da CMF, mas antes um candidato à chefia do governo, pago pela
edilidade funchalense para andar uma permanente pré-campanha eleitoral. E não
se trata de uma provocação, trata-se de uma constatação que não deixa de ser
estranha, incluindo no plano da ética política.
6. Ninguém duvida que cabe ao PS tomar as medidas adequadas para garantir
a P- Cafofo que não seja prejudicado em termos pessoais, por querer envolver-se
numa corrida eleitoral que ele sabe, primeiro e mais que os outros, que está
longe de estar ganha. Bem longe, até porque ele sabe que as eleições não se
ganham no Facebook nem no Instagram, mas sim no terreno, com as pessoas, e com algum
contributo do espaço mediático pelo qual ele luta palmo-a-palmo, adequadamente
assessorado para o efeito. E como muita água vai correr debaixo das pontes até
Setembro logo veremos...
7. Eu até entendo os motivos pelos quais Paulo Cafofo pretende
continuar na Câmara até ao limite temporal possível, no fundo comportando-se
como um alegado candidato a presidente do Governo Regional - candidato pelo PS
que ainda não decidiu nada, dado que estatutariamente os órgãos que se
pronunciam sobre isso só se reunirão quando chegar esse momento - pago por uma
edilidade onde cada vez menos é o seu principal responsável e cada vez mais o
candidato a um lugar político externo que nada tem a ver com a função autárquica
para a qual foi eleito em final de 2017.
8. Acho que se a oposição for convincente e contundente, Paulo Cafofo
dificilmente contará com a compreensão tolerante da população que perceberá a
golpada. Mas quanto a questões éticas não me pronuncio, ressalvando apenas que
esta situação não se compara com o facto de no final do mandato de 2013 Paulo
Cafofo se ter comportado mais como o candidato a novo mandato na CMF do que o
presidente em funções. É normal que isso tenha sido assim. Trata-se da
recandidatura.
Neste caso tudo é diferente (ainda recentemente num mesmo
telejornal da RTP-M, tivemos o PC presidente da Câmara a falar de um elevador
na Barrerinha e o PC a perorar numa reunião de sonhadores socialistas realizada
com a subserviente presença de ministros do governo da geringonça (como se a
Madeira alguma vez pudesse confiar nessa gente).
Repito, existem questões pessoais em torno deste tema sobre as
quais não me pronuncio na certeza, e repito, de que o PS é que tem que garantir
a Cafofo as condições para abandonar a CMF para poder ser candidato a candidato
e ainda por cima sabendo que corre o risco de ser confrontado até Setembro com
situações penalizadoras, a par de conflitos políticos e partidários com os seus
parceiros na CMF que não querem ter nada a ver com o PS e com Cafofo nas
eleições regionais (a JPP, que fez parte da coligação autárquica de 2017, deu
um sinal recente quando anunciou que vai recorrer aos tribunais, numa disputa
com a CMF, para ter acesso a documentos da Frente Mar, que em meu entender
constitui um mistério da gestão funchalense mas que só o Tribunal de Contas
poderá ajudar a desvendar, caso queira).
9. As pessoas já perceberam que, ao contrário das autárquicas, as
regionais são eleições diferentes, porque significam a sobrevivência política e
financeira de alguns partidos locais que dispensam o paternalismo socialista,
ainda-por-cima sabendo - e sabem - que podem ser sugados por um cenário de voto
útil da esquerda em Cafofo. Não porque haja mais eleitores a votar no PS,
simplesmente porque o PS pode recuperar o eleitorado que tinha e perdeu - desde
2007, com o caso da Lei de Finanças Regionais - para outros partidos da
oposição, ao ponto de ter passado de 2ª para a 4ª força política regional.
Porque quando falamos do PS é disso que falamos, da 4ª força política regional
em termos eleitorais e de representação no parlamento regional.
10. Outro item que ajuda a entender o dilema de Paulo Cafofo na CMF
tem a ver com as questões intrinsecamente políticas, essas sim, relacionadas
com a visibilidade mediática que ser presidente da Câmara Municipal do Funchal
propicia, ao contrário do espaço que um candidato a candidato, seja ao que for,
merece (ou devia merecer) na comunicação social fora da pré-campanha e campanha
eleitoral. Mesmo que ele conte da parte desta com alguma subserviência. A
postura mediática em relação a PC presidente da CMF é uma, natural e óbvia, mas
a postura mediática em relação ao mesmo PC, circunscrito ao estatuto de
candidato a candidato poderá ser outra.
Por isso, caso não haja uma clara definição do posicionamento de
Paulo Cafofo, isso distorcerá o tratamento equitativo que também deve ser
garantido aos demais partidos, e nem falo no PSD. Nessa ordem de ideias, não me
espantaria nada que os demais partidos da oposição – casos do CDS, JPP, Bloco,
PCP, PAN. MPT, PTP, etc - decidissem também anunciar os seus candidatos a
candidatos a presidente do Governo e exigissem da comunicação social o mesmo
tratamento informativo que porventura seja propiciado a Cafofo que
provavelmente deixaria de contar com a vantagem de ter ao seu dispor - e nada a
opor quanto a isso - uma agência de comunicação experiente. E se esse
tratamento informativo não for equitativo a comunicação social sujeitar-se-á a
inconvenientes participações e queixas junto do regulador e a chamadas de
atenção ou multas.
11. Acresce que financeiramente os partidos locais - graças a
medidas que aprovaram (sem terem assegurado atempadamente alternativas exequíveis)
em nome de um populismo idiota que apenas fragilizou os partidos com mais responsabilidades
e não lhes deu nem mais credibilidade nem mais votos - estão sem dinheiro,
(sobre) vivendo apenas dos recursos financeiros decorrentes da representação
parlamentar regional.
12. Portanto é tempo se haver uma clarificação inequívoca quanto a
isto, quanto ao papel de Cafofo na CMF "versus" no PS. E a oposição,
caso queira, tem ao seu dispor mecanismos legais para despoletar junto de quem
de direito, desde a PGR ao Tribunal Constitucional, Comissão Nacional de
Eleições, e outras entidades locais. Aguardemos. (LFM)
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