segunda-feira, janeiro 21, 2019

Madeira pré-eleitoral: a pressão que vai aumentar sobre Cafofo e o PS


1.    Eu não tenho nada a ver com o que se passa no PS regional, nem sequer isso me importa para nada. Mas há uma situação - a de Paulo Cafofo -que começa a roçar não diria o anedótico mas sim o absurdo e que precisa de ser urgentemente clarificada, sob pena da oposição ter todo o direito de começar a desgastar o autarca funchalense de uma forma concreta e contundente.
2.    Vamos a factos.
É-me absolutamente indiferente o que Paulo Cafofo quer fazer em termos do seu futuro político, que ambições alimenta - ou que lhe dizem que deve ter… – nem sequer perco muito tempo a tentar perceber aquela novela estranha entre P. Cafofo e o PS regional que não deixa de ser “sui generis” porque é única na política regional e mesmo nacional.
É sabido que o líder do PS, Emanuel Câmara, num gesto de claro oportunismo político e eleitoral interno, compreensível, anunciou antes de ter sido eleito líder do PS madeirense, que o seu candidato à chefia do governo madeirense seria Paulo Cafofo duplamente vencedor (2013 e 2017) da corrida eleitoral na CMF.
Emanuel Câmara a corrida contra Carlos Pereira – que nunca “engoliu” Cafofo e as habilidades da sua “entourage”, acabou vencendo por uma margem mais curta do que alguns imaginavam, graças sobretudo aos contributos de alguns "fidalgos" socialistas em concelhos e freguesias consideradas essenciais e essa disputa.
O compromisso de Emanuel foi confirmado, depois, no congresso, mesmo que careça de ratificação adequada, porque não são os congressos que aprovam as listas de deputados - já que é disso que falamos, da eleição de deputados regionais.

3.    Afinal o líder do PS-Madeira não será o cabeça de lista às eleições regionais? Ou não?
Paulo Cafofo, que não é filiado no PS-Madeira - e não se filia porque ele sabe que o PS não tem votos suficientes para ganhar nenhuma eleição regional e porque essa filiação o colaria demasiado ao PS, retirando-lhe margem de negociação pós-eleitoral com a qual conta (apesar de ter necessitado para a CMF de duas coligações políticas, pré-eleitorais), já que não se concretizarão alianças com ele antes das eleições.
Acresce que uma colagem demasiado óbvia de P. Cafofo ao PS regional – que continua a ser um partido sem grande credibilidade e apoio popular (e 2019 vai demonstrá-lo) - teria sobretudo efeitos negativos na sua anunciada, mas não ainda não oficialmente confirmada pelo PS local, candidatura à chefia do governo regional.
4.    Pergunta-se: afinal, P. Cafofo, que não é dirigente do PS-Madeira vai destronar Emanuel Câmara e ser ele próprio o cabeça de lista às regionais de 2019, catalogado como um falso “independente” – algo   que julgo que nunca ocorreu nos grandes partidos regionais, mas há sempre uma primeira vez em tudo na vida… -  numa subversão do que seria a realidade partidária, embora com o PS-Madeira - e isso aconteceu frequentemente ao longo de 40 anos de autonomia - tudo seja possível.
Por exemplo: num cenário eleitoral concreto – e as europeias podem dar os primeiros sinais – será que Emanuel Câmara, que está a milhas de ter uma imagem pessoal que seja eleitoralmente uma mais-valia para o PS, e um reforço positivo ou negativo a uma candidatura de Paulo Cafofo, salvo se este obrigar o partido a render-se e submeter-se à sua pessoa, indicando-o como candidato à chefia do governo regional apesar de ser um falso independente.
5.    Outra dúvida - para além da incerteza sobre se o hoje PS decide, faz escolhas e define estratégias em função das sondagens que são publicadas ou não – tem a ver com a situação presente de P. Cafofo que acaba por não ser o Presidente da CMF, mas antes um candidato à chefia do governo, pago pela edilidade funchalense para andar uma permanente pré-campanha eleitoral. E não se trata de uma provocação, trata-se de uma constatação que não deixa de ser estranha, incluindo no plano da ética política.
6.    Ninguém duvida que cabe ao PS tomar as medidas adequadas para garantir a P- Cafofo que não seja prejudicado em termos pessoais, por querer envolver-se numa corrida eleitoral que ele sabe, primeiro e mais que os outros, que está longe de estar ganha. Bem longe, até porque ele sabe que as eleições não se ganham no Facebook nem no Instagram, mas sim no terreno, com as pessoas, e com algum contributo do espaço mediático pelo qual ele luta palmo-a-palmo, adequadamente assessorado para o efeito. E como muita água vai correr debaixo das pontes até Setembro logo veremos...
7.    Eu até entendo os motivos pelos quais Paulo Cafofo pretende continuar na Câmara até ao limite temporal possível, no fundo comportando-se como um alegado candidato a presidente do Governo Regional - candidato pelo PS que ainda não decidiu nada, dado que estatutariamente os órgãos que se pronunciam sobre isso só se reunirão quando chegar esse momento - pago por uma edilidade onde cada vez menos é o seu principal responsável e cada vez mais o candidato a um lugar político externo que nada tem a ver com a função autárquica para a qual foi eleito em final de 2017.
8.    Acho que se a oposição for convincente e contundente, Paulo Cafofo dificilmente contará com a compreensão tolerante da população que perceberá a golpada. Mas quanto a questões éticas não me pronuncio, ressalvando apenas que esta situação não se compara com o facto de no final do mandato de 2013 Paulo Cafofo se ter comportado mais como o candidato a novo mandato na CMF do que o presidente em funções. É normal que isso tenha sido assim. Trata-se da recandidatura.
Neste caso tudo é diferente (ainda recentemente num mesmo telejornal da RTP-M, tivemos o PC presidente da Câmara a falar de um elevador na Barrerinha e o PC a perorar numa reunião de sonhadores socialistas realizada com a subserviente presença de ministros do governo da geringonça (como se a Madeira alguma vez pudesse confiar nessa gente).
Repito, existem questões pessoais em torno deste tema sobre as quais não me pronuncio na certeza, e repito, de que o PS é que tem que garantir a Cafofo as condições para abandonar a CMF para poder ser candidato a candidato e ainda por cima sabendo que corre o risco de ser confrontado até Setembro com situações penalizadoras, a par de conflitos políticos e partidários com os seus parceiros na CMF que não querem ter nada a ver com o PS e com Cafofo nas eleições regionais (a JPP, que fez parte da coligação autárquica de 2017, deu um sinal recente quando anunciou que vai recorrer aos tribunais, numa disputa com a CMF, para ter acesso a documentos da Frente Mar, que em meu entender constitui um mistério da gestão funchalense mas que só o Tribunal de Contas poderá ajudar a desvendar, caso queira).
9.    As pessoas já perceberam que, ao contrário das autárquicas, as regionais são eleições diferentes, porque significam a sobrevivência política e financeira de alguns partidos locais que dispensam o paternalismo socialista, ainda-por-cima sabendo - e sabem - que podem ser sugados por um cenário de voto útil da esquerda em Cafofo. Não porque haja mais eleitores a votar no PS, simplesmente porque o PS pode recuperar o eleitorado que tinha e perdeu - desde 2007, com o caso da Lei de Finanças Regionais - para outros partidos da oposição, ao ponto de ter passado de 2ª para a 4ª força política regional. Porque quando falamos do PS é disso que falamos, da 4ª força política regional em termos eleitorais e de representação no parlamento regional.
10.     Outro item que ajuda a entender o dilema de Paulo Cafofo na CMF tem a ver com as questões intrinsecamente políticas, essas sim, relacionadas com a visibilidade mediática que ser presidente da Câmara Municipal do Funchal propicia, ao contrário do espaço que um candidato a candidato, seja ao que for, merece (ou devia merecer) na comunicação social fora da pré-campanha e campanha eleitoral. Mesmo que ele conte da parte desta com alguma subserviência. A postura mediática em relação a PC presidente da CMF é uma, natural e óbvia, mas a postura mediática em relação ao mesmo PC, circunscrito ao estatuto de candidato a candidato poderá ser outra.
Por isso, caso não haja uma clara definição do posicionamento de Paulo Cafofo, isso distorcerá o tratamento equitativo que também deve ser garantido aos demais partidos, e nem falo no PSD. Nessa ordem de ideias, não me espantaria nada que os demais partidos da oposição – casos do CDS, JPP, Bloco, PCP, PAN. MPT, PTP, etc - decidissem também anunciar os seus candidatos a candidatos a presidente do Governo e exigissem da comunicação social o mesmo tratamento informativo que porventura seja propiciado a Cafofo que provavelmente deixaria de contar com a vantagem de ter ao seu dispor - e nada a opor quanto a isso - uma agência de comunicação experiente. E se esse tratamento informativo não for equitativo a comunicação social sujeitar-se-á a inconvenientes participações e queixas junto do regulador e a chamadas de atenção ou multas.
11.     Acresce que financeiramente os partidos locais - graças a medidas que aprovaram (sem terem assegurado atempadamente alternativas exequíveis) em nome de um populismo idiota que apenas fragilizou os partidos com mais responsabilidades e não lhes deu nem mais credibilidade nem mais votos - estão sem dinheiro, (sobre) vivendo apenas dos recursos financeiros decorrentes da representação parlamentar regional.
12.     Portanto é tempo se haver uma clarificação inequívoca quanto a isto, quanto ao papel de Cafofo na CMF "versus" no PS. E a oposição, caso queira, tem ao seu dispor mecanismos legais para despoletar junto de quem de direito, desde a PGR ao Tribunal Constitucional, Comissão Nacional de Eleições, e outras entidades locais. Aguardemos. (LFM)

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