Um dos piores males humanos, não circunscrito a
Portugal, mas abundante q.b. entre nós, é a auto-consideração. Os portugueses
levam-se muito a sério, têm demasiadas certezas absolutas e ofendem-se por
pouco. A história dos duelos não é mais do que a história dos homens com
excesso de auto-consideração. De todas as figuras retóricas, a ironia é a mais
incompreendida. Em 2004 Santana Lopes teve essa dificuldade. Viu numa ironia um
insulto capaz de pôr em causa, “de forma grave e séria”, o seu bom nome pessoal
e profissional e, além disso, a sua capacidade para ser primeiro-ministro. Esta
era a frase: “Será um delírio provocado por consumo de drogas duras, uma nova
originalidade nacional ou apenas um disparate sem nome?” Santana Lopes é um
homem sério e com homens assim não se brinca. Pediu 150 mil euros. O tribunal
deu-lhe razão, mas baixou para 30 mil. Doze anos depois, o Tribunal Europeu dos
Direitos Humanos veio dizer o contrário e lembrar que o jornalista quis, “como
é evidente”, ser irónico. E apenas isso (Público)
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