Li no DN de Lisboa que "Carlos Mulas- Granados afirma que crise está a ser aproveitada pelos conservadores para mudar papel do Estado e reduzi- lo.“Uma redução de défice pode ser obtida através de muitas diferentes combinações de aumentos da receita e de cortes na despesa; não tem de ser exclusivamente associada a cortes dolorosos nas despesas sociais. (…) Os conservadores estão a tentar usar os ajustamentos orçamentais durante o tempo de crise para reduzir o papel e o tamanho do Estado.” Estas afirmações estão inclusas no documento Acertar contas com os conservadores na disciplina orçamental, co-assinado por Carlos Mulas- Granados e Carmen de Paz, disponível na página web do primeiro( carlosmulasgranados. com). Nada teriam de extraordinário se Mulas- Granados, professor de Economia na Universidad Complutense e há muito colaborador do FMI, não fosse um dos co- autores do relatório encomendado ao Fundo pelo Governo português com o objetivo de “repensar o Estado”. No qual, além de se usarem números errados que falseiam conclusões de estudos e de se fazerem afirmações não consubstanciadas ( como a de que as prestações socias em Portugal beneficiam os mais ricos, desmentida esta semana por um estudo do Banco de Portugal ), se propõem cortes brutais em todas as prestações sociais e o despedimento de dezenas de milhar de funcionários públicos. Propostas que têm sido criticadas como ideológicas e não técnicas – algo que dificilmente Mulas- Granados refutaria, já que em novembro de 2010 escrevia no El País: “A quem vem proclamando que os ajustamentos não podem ter ideologia [ lembre- se que] a política com maiúscula versa exatamente sobre isso: a decisão sobre quem recebe o quê, como e quanto.”
Como identifica Mulas-Granados a ideologia subjacente às propostas do relatório que assinou não é difícil perceber. No mesmo documento citado no início desde texto, critica o ataque ao Estado Social efetuado pelo PM britânico Cameron, considerando que reduzir as despesas sociais em 1,3% do PIB põe em causa os seus objetivos, e o aumento brutal das propinas ( que o relatório do FMI também aconselha). Em contrapartida, elogia Zapatero, que em tempo de crise aumentou a fatia do orçamento para as prestações sociais, criando subsídios especiais para os desempregados de longo termo e incrementando as bolsas no ensino superior.
Mas este professor de Economia na Universidade Complutense e noutras instituições académicas prestigiadas, membro do PSOE ( colaborou nafeiturados programas de 2004, 2008 e 2011 e foi assessor económico de Zapatero) e presidente da Fundação Ideas, através da qual lançou em maio último uma campanha contra a austeridade (que propagandeou noTwitter) não se limita a produzir opinião mais ou menos fundamentada contra a austeridade. É co- autor de um estudo do FMI sobre a eficácia da política orçamental na sequência de crises financeiras ( HowEffectiveis Fiscal PolicyResponseinSystemicBanking Crises?, 2009) que, examinando 118 episódios de crises bancárias, conclui: “Respostas contraciclo atempadas ( combinando medidas específicas e estabilizadores automáticos), acompanhadas de ações que lidem com a fragilidade do setor financeiro, contribuem para encurtar as crises. Políticas orçamentais expansionistas contribuem para encurtar as crises emquase umano.” Aconselha assim, para combater a recessão pós- crash financeiro, exatamente o que a Europa estava a fazer até que, no início de 2010, surgiu a crise das dívidas soberanas e a austeridade passou asurgir como caminho único. E vai mesmo ao ponto de garantir que“pacotes de estímulo que assentam sobretudo em gastos do Estado são mais eficazes no encurtar dacrise que os baseados no investimento público.” Apesar de várias tentativas de contacto, por telefone e mail, não foi possível chegar à fala com Mulas- Granados. No FMI, o serviço de mediainforma que os autores do estudo, entre os quais se conta o português Paulo Silva Lopes ( que está em licença prolongada), preferem que todas as perguntas lhes sejam endereçadas através do Fundo.
Polemica
A questão das limitações impostas aos jornalistas pela organização da conferência foi previamente discutida no Governo. Escreveu-o ontem no seu blogue um assessor do Governo, João Gonçalves ( que no início do ano transitou do gabinete de Miguel Relvas para o de Álvaro Santos Pereira): “Quando me perguntaram a opinião sobre este exercício, manifestei- a em sede e em tempo próprios os quais, manifestamente, não são os deste blogue.” Gonçalves escreveu ter sido contra as limitações que acabaram por vingar ( apenas cobertura ilimitada para o secretário de Estado adjunto do primeiro- ministro, Carlos Moedas, na terça- feira, e para o próprio primeiro- ministro, ontem; citações dos restantes intervenientes apenas com autorização destes; e proibição de gravações de som e imagem). Assessores de Passos e de Relvas garantiram ao DN que as limitações aos jornalistas foram decididas pela organização. Uma assessora do primeiro- ministro acrescentou ao DN que o Governo deu “apoio logístico” a Sofia Galvão na organização do evento, cedendo, por exemplo, o Palácio Foz ( que está sob a alçada do ministro adjunto, Miguel Relvas, enquanto tutela da comunicação social)".