terça-feira, setembro 20, 2011

BURACOS, COMUNICAÇÃO E PRAGMATISMO

"Não é o facto de Miguel Sousa Tavares - que despeja na SIC o seu ódio visceral contra João Jardim e a reboque disso insulta os madeirenses chamando-os de chulos do orçamento do Estado (quantos serão os portugueses que chulam o Estado, nessa ordem de ideias?), defendendo claramente a independência da Madeira, pelo simples facto de, segundo ele esta ser um ónus para a República – debitar o que entende na SIC, sem contraditório, que ganha razão ou que a estação consegue credibilidade. Muito menos por se tratar de um indivíduo que engrossa a falange da maledicência contra a Madeira. Nem ele nem outros comentadores contratados ou ouvidos à pressa, com o compromisso de que dali não sairá nenhuma referência solidária com a situação. Até no PSD nacional as coisas são o que são – sempre foram - e já nem João Jardim, nem (assim espero…) os alegados falangistas locais, amigalhaços de peito de Passos Coelho ou de Miguel Relvas devem pensar que eles lhes servem para grande coisa, provavelmente porque todos já entenderam a realidade e o que nos espera.
Julgo que as pessoas também já assimilaram o que está em causa: não se trata apenas de discutir o alegado buraco financeiro de 1.100 milhões da Madeira (só no BPN o Estado espatifou 6.000 milhões, cerca de seis vezes mais aquele montante), mas essencialmente a suspeita, porque no fundo é isso que está em causa, de omissão de informação (facturas) reportada a obras realizadas na Região e não pagas. Ou seja, o que me parece que se passou - mas corro o risco de dizer alguma imprecisão, o que não é difícil ante tanta falta de informação - foi que o Governo Regional sem dinheiro para realizar obras, optou por realizá-las e, com ou sem acordo com os empreiteiros adjudicatários locais (sobre isso não me pronunciou porque não sei o que se passou), manteve a facturação “na gaveta” à espera de uma folga financeira que lhe permitisse proceder à sua regularização, o que nunca aconteceu (pelo contrário, com a nova lei de finanças regionais socialista tudo ficou pior…). Agora, com a contabilização de toda a dívida regional, toda essa documentação obrigatória e inevitavelmente teria que aparecer, ate para que a situação se normalizasse. A polémica era inevitável, até pelo facto, também, de estarmos em eleições regionais e de muita coisa estar em jogo neste acto eleitoral. Estavam encontrados os factores geradores da tal “tempestade perfeita” de que falava há dias. Ou seja, segundo o executivo as obras foram realizadas – e hoje não seriam concretizadas, de certeza absoluta, porque os recursos financeiros não existem e a banca não financia nada – mas falta pagá-las. Os críticos do costume, a oposição regional, que se comporta quais lobos esfomeados reunidos à volta de um pequeno bife à espera de saber qual é o mais espertalhão e dá a primeira dentada, correndo o risco de ser depois devorado pelos demais, e o Estado central – sem moral para falar seja do que for em matéria de “buracos” orçamentais, mas sobre isso falaremos nos próximos dias… - valorizam criticamente os procedimentos adoptados (alegada ocultação) e não as obras realizadas.
Aliás, penso que em termos de comunicação política este processo está a ser mal conduzido. Porquê? Porque me parece que o Governo Regional está a ir a reboque de factos exógenos e da especulação à medida que ela surge na comunicação social, reagindo caso a caso, o que não é recomendável e é mesmo perigoso em termos de desgaste público; em segundo lugar porque tem que passar a ter a iniciativa e precisa explicar as duas situações ocorridas: os 500 milhões de euros (que não foram um buraco oculto) relativos aos problemas surgidos com o financiamento da Viamadeira (estradas) e do SESARAM (saúde), porque as pessoas não sabem o que se passou, desconhecem que tipo de negociação (financiamento) tinha sido acordada nem quais os bancos envolvidos mas que, depois, “roeram a corda” e saltaram fora do processo, inviabilizando a solução pensada, situação que obrigou a um orçamento rectificativo para que fosse a Região a assumir esses encargos. Penso que estes factos e protagonistas deviam ser todos revelados assim como as razões das duas operações financeiras.
Em segundo lugar, e já no tocante ao alegado “buraco” escondido de 1.100 milhões de euros, o problema é simples, na minha óptica. Uma coisa é a acusação de ocultação de informação - mas essa “guerra” tem que ser dirimida pelo executivo regional de forma pragmática e eficaz – outra coisa é o uso dado a esse montante, onde foi gasto e como foi gasto o dinheiro. Realização de obras? Muito bem, coloquemos cá fora a listagem completa de todas as obras realizadas e abrangidas por esse montante para que as pessoas dissipem dúvidas, de uma vez por todas. É que uma coisa é perceber os argumentos de Jardim de que era preciso conseguir recursos financeiros para realizar obras, dado o torniquete financeiro imposto à Região com as conhecidas cumplicidades locais (os mesmos que agora, em cartazes ou em discursos da treta, querem resolver os problemas – que paradoxo!) outra coisa são as pessoas ficarem sem respostas e sem saberem se essas obram se realizaram e quais foram.
Há dias dizia o candidato imposto e auto-proposto dos socialistas locais - e que foi um dos apoiantes e mentores da lei de finanças regionais que, não tendo sido responsável por tudo, foi a grande causadora dos desequilíbrios financeiros que a região começou a sentir a partir de 2007 – paradoxalmente as eleições antecipadas não resolveram essa barreira financeira que nos foi imposta – que para o Jornal da Madeira esta polémica não existe. Como é que não existe? Não existe mas é sobre isso que estou a escrever. Como é que se poderia ocultar factos que são públicos e não falar verdade. Quando a política mergulha num pantanal de mentira e de ausência de verdade, então tudo começa a ser posto em causa.
Pergunta-se: e agora?
Agora há que encontrar uma solução enquadrada da solução global negociada para o Estado, na certeza de que a Madeira precisa de ver rapidamente resolvido este problema grave que é a falta de dinheiro. Aliás foi Alberto João Jardim que deu o mote – algo que nunca fizera antes – quando no comício do PSD, em Agosto passado no Porto Santo, reconheceu que a Madeira estava a braços com um problema grave de falta de liquidez. Como é que se vai a correr bater à porta da União Europeia e do FMI – como o fizeram os socialistas de Sócrates que faliram Portugal e foram os causadores do desastre que nos conduziu ao memorando de entendimento da “troika” que nos foi imposto - pedir quase 80 mil milhões e depois querermos resolver os problemas da banca com 12 mil milhões que serão pagos por todos nós, resolvemos os 6.000 milhões espatifados no BPN, pagos por todos nós, ou os cerca de 40 mil milhões de dívidas de um sector empresarial público falido e que serão pagos por todos nós e deixar outras situações de fora?
Enquanto isso os madeirenses devem estar preparados para o facto inevitável de que serão sujeitos diariamente, não só a formas de selecção manipulada de notícias cuidadosamente sugeridas (muitas delas de fora) e tratadas, com uma clara intenção política subjacente – incluindo por parte de alguns vira-casacas que parecem sonhar com um novo ciclo – mas a muita especulação. Os funcionários públicos serão os principais alvos dessa pouca vergonha, mas até 9 de Outubro não faltarão factos destinados a confundir as pessoas. O que me parece razoável defender é que as pessoas tenham calma nesta fase, que não de deixem influenciar nem por aquilo que parecem ser, claramente, campanhas orquestradas, penso mesmo que articuladas e organizadas, direccionadas contra a Madeira e que colocam em causa já a nossa dignidade colectiva, apresentando a Região como se fosse o único ”demónio” no meio de “anjinhos” disfarçados. A que se junta a convicção - aliás outro desfecho será impensável - que qualquer solução, que necessariamente terá que ser encontrada para resolver os nossos problemas financeiros e orçamentais, não se pode fazer à custa de uma maior penalização dos cidadãos. É um apelo à inteligência, à tranquilidade e à defesa, sobretudo à auto-defesa
" LFM/in JM

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