quinta-feira, janeiro 20, 2011

Portugal é o terceiro país do euro que mais se endivida em 2011

Escreve o jornalista do Económico, Luís Reis Pires que "as necessidades brutas de financiamento valem 23% do PIB. Lisboa vai pedir mais dinheiro emprestado em 2011 do que em 2010, ao contrário do resto do euro. Portugal vai ser o terceiro país da zona euro que maior percentagem do PIB vai penhorar este ano. O país tem que obter junto dos mercados o equivalente a 23% da riqueza que vai produzir em 2011. Os dados foram ontem avançados pela Fitch, no dia em que o Estado realizou mais um leilão de dívida, pagando pouco mais de 4% para vender 750 milhões de euros em Bilhetes do Tesouro a doze meses. Num relatório intitulado "European Government Borrowing", a Fitch afirma que a Europa está a dar "passos no bom sentido", uma vez que vai reduzir o seu financiamento este ano, face a 2010 - a agência de ‘rating' faz, no entanto, a ressalva que no ano passado as necessidades de financiamento europeias foram as mais elevadas das últimas décadas. Já a economia nacional vai em sentido contrário. A Fitch avança que as necessidade de financiamento em 2011 caíram em termos homólogos para a maioria dos governos europeus e que "Dinamarca, Grécia, Portugal e Reino Unido são a excepção", já que vão ter que obter mais dinheiro junto dos mercados este ano do que em 2010. Tendo em conta que Dinamarca e Reino Unido não pertencem ao euro, Portugal é, a par da Grécia, o país mais mal comportado da moeda única neste capítulo. De tal forma que o país vai precisar de pedir emprestado aos mercados cerca de 40,2 mil milhões de euros, o equivalente a 22,6% do PIB. Pior só mesmo a Grécia (25,1%) e Itália (23,1%). "É um dos problemas adicionais de Portugal, comparado a outros países em apuros", comenta Silvio Peruzzo, economista do Royal Bank of Scotland, em relação às elevadas necessidades de financiamento. "Não é um problema em si mesmo", explica, "é um problema sobretudo porque têm que financiar esse montante a taxas insustentáveis". O economista considera que "é completamente impossível o país financiar tal montante a 6 e 7%" e, nesse sentido, afirma que "neste momento, o único que justifica a insistência em evitar o FMI é o custo político dessa operação", que envolve "perda de soberania política" e "queda de popularidade do Governo".
Estado paga 4% para colocar 750 milhões no mercado
O relatório da Fitch surgiu pouco depois de ser realizada a emissão de dívida. Num leilão em que a procura triplicou a oferta, o Estado colocou 750 milhões de euros no mercado em BT a doze meses, comprometendo-se com um juro de 4,029%. Na última operação comparável, em Dezembro, o juro situou-se nos 5,281%. O Governo considerou que o resultado foi positivo e, talvez encorajado pelo mesmo, decidiu colocar mais dívida ainda durante o dia de ontem, através de uma emissão privada. Já os economistas reconhecem que o resultado do leilão mostra algum alívio dos mercados, mas não partilham o entusiasmo do Executivo. "[A queda do juro no leilão] denota alguma acalmia dos mercados", diz Ricardo Marques, da IMF, apesar de ser claramente uma taxa alta a 12 meses. Já Filipe Silva, do banco Carregosa, concorda que "há a percepção de alguma diminuição de risco de Portugal a curto prazo", mas que um juro de 4% em maturidades tão curtas "continua a ser um custo elevado para o país se financiar". Depois do leilão, a ‘yield' da dívida nacional a dez anos caiu para 6,986%, mas durante a tarde voltou a subir, atingindo os 7,061%.
Emissões privadas já valem 2.460 milhões
Portugal fez ontem mais uma colocação privada de dívida, emitindo 110 milhões de euros em títulos com maturidade a dois anos. De acordo com dados da Bloomberg, a emissão foi feita tendo o Credit Agricole como intermediário e os títulos de dívida vão pagar um cupão inicial de 170 pontos base acima da Euribor a 3 meses - que ontem se situava em 1,014%. O prémio vai depois subir até um diferencial de 290 pontos base em 2012. Desde 17 Dezembro, já foram colocados 2.460 milhões de euros em dívida neste tipo de operações, sendo que 1,1 milhões de euros foram absorvidos pela China. Nesse sentido, o ministro das Finanças vai continuar com a colocação privada de dívida, que é uma das alternativas aos mercados financeiros, permitindo alargar a base de investidores".

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