"Maria João Rodrigues, ex-ministra no governo de António Guterres alertou ontem, na sua intervenção na reunião da Comissão Nacional do PS, para o facto de "alguns funcionários", que estão presentes nas negociações em Bruxelas, poderem ser mais permeáveis a discursos mais "financistas" de alguns países da Europa. A conselheira de Sócrates para os assuntos europeus terá feito a ressalva de que a fragilidade dos funcionários nem seria culpa do governo, porque podem nem ter ligações ao executivo ou à diplomacia portuguesa, mas que nem sempre acabam por defender devidamente os interesses de Portugal junto às instâncias europeias. As declarações da conselheira, contaram ao i várias fontes socialistas, terão sido aproveitadas pela eurodeputada Ana Gomes para tecer críticas à diplomacia portuguesa. Depois de Maria João Rodrigues ter falado, a dirigente socialista apontou o dedo ao sistema diplomático português por, em diversas ocasiões, não defender devidamente os interesses do país. Aos jornalistas cá fora, ainda antes da intervenção na reunião, Ana Gomes pediu um PS "exigente, vigilante e crítico" à actuação do governo, mas nem por uma única vez pediu remodelações da equipa de José Sócrates. Nem Ana Gomes nem nenhum outro membro da Comissão Nacional. Uma eventual mexida na equipa governamental não foi motivo de conversa na reunião que durou cerca de três horas apesar dos rumores da substituição de responsáveis em algumas pastas. Na Comissão Nacional que decidiu a marcação do XVII Congresso do partido para os dias 8, 9 e 10 de Abril, no Porto, Sócrates pediu aos socialistas que se mobilizem para os tempos políticos difíceis que se aproximam e apelou a que o congresso seja "clarificador" do ponto de vista político. Depois da vitória de Cavaco Silva no domingo e das ameaças de uma moção de censura da oposição assim que for possível ao Presidente da República dissolver o Parlamento, o secretário-geral do PS pediu uma demonstração de força ao partido. Os socialistas acreditam que as eleições presidenciais não deram mais força a Cavaco nem ao PSD: "Acho que se frustrou aquela visão da direita de que as eleições seriam o início de um novo ciclo de mudança política", diz Eduardo Cabrita ao i. E, esclarece, essa frustração da direita acontece devido aos resultados de domingo "pouco expressivos" para uma reeleição do Presidente. A estratégia é agora afastar o fantasma das más relações entre Belém e São Bento. O porta-voz do PS, Fernando Medina, defendeu que o resultado das eleições, em termos de leitura, quase favorece o governo, dada a vontade de estabilidade dos portugueses. "Há um forte sentimento no país de necessidade de estabilidade política, ao nível do governo e das instituições cimeiras", disse. Depois de durante a campanha presidencial, Sócrates, sem nunca referir o nome de Cavaco Silva nos discursos, ter alertado para a possibilidade de instabilidade política caso Manuel Alegre não fosse eleito, a Comissão Nacional do partido segue a linha do secretário-geral e diz que os portugueses optaram pela "estabilidade" política ao votarem maioritariamente em Cavaco. Mas Cavaco Silva acabou por ser criticado por Almeida Santos. À saída da reunião, o presidente do PS disse que o presidente reeleito foi "cruel" nas palavras que dirigiu aos portugueses na noite eleitoral. "Houve um aspecto em que exagerou imperdoavelmente. Na noite das eleições, exige-se do vencedor uma atitude de tolerância, mas fez um julgamento feroz dos seus adversários e foi muito cruel", disse. E a crueldade, continuou, "não é uma boa característica de um Presidente da República". Foram as únicas críticas ao presidente reeleito que saíram da Comissão Nacional. O líder parlamentar, Francisco Assis, disse mesmo que "a haver uma crise política nunca resultará de uma falta de entendimento entre o Presidente e o governo, mas de desentendimentos no Parlamento". A estratégica passa assim por amenizar as relações com Cavaco e por apostar "na defesa do modelo social europeu numa altura em que o PSD está encostado mais à direita e mobilizar o eleitorado do centro e da esquerda", explicou ao i o dirigente socialista Eduardo Cabrita. Para isso, Sócrates vai apostar numa "maior concertação política no quadro da União Europeia". A diferença faz-se não só à direita para o PSD e CDS mas também para a esquerda e para o PCP e BE. Depois do apoio conjunto do PS e BE a Alegre, Sócrates estará empenhado em mostrar que não se tratou de uma coligação para o futuro. O PS e o governo vão "investir numa linha mais atenta às necessidade de se fazer reformas para o futuro e menos virado para o passado daquela esquerda conservadora de defesa de um Estado Social que em alguns casos não é sustentável", afirmou ao i Vitalino Canas. Sócrates sucede a Sócrates Não parece haver dúvidas de que o secretário-geral do PS será reconduzido no cargo. Para já, apenas um adversário admitiu entrar na corrida pela liderança. O antigo presidente da distrital de Leiria, Cândido Ferreira, vai apresentar-se às directas de Março e depois, em Abril vai apresentar uma moção ao congresso mas não será a única. A corrente de opinião "Margem Esquerda" vai propor uma moção ao congresso e uma lista alternativa para a Comissão Nacional. Para já uma candidatura à liderança não está em cima da mesa. Actualmente o movimento tem uma representação de cerca de 10% nos órgãos do PS mas o objectivo é aumentar o peso dentro do partido. "Os partidos estão debilitados e o PS também. Está débil, não há debate, não há contraditório", disse ao i” (pela jornalista do Jornal I, Liliana Valente, com a devida vénia)
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