segunda-feira, janeiro 31, 2011

Presidenciais: o meu rescaldo (IV)

"Concluo hoje este rescaldo eleitoral depois de ter efectuado uma pesquisa e efectuado comparação de resultados que envolvem actos eleitorais diferentes, que não se podem misturar, mas nada me impedindo também de optar por estas projecções meramente matemáticas e que não representem antevisão nenhuma de actos eleitorais futuros. Mas antes disso confesso que parece-me que está a dar a doideira à oposição e compreende-se, nalguns casos, que assim seja. Bem vistas as coisas os resultados das europeias - pese o facto de não se dever, em nome da verdade, confundir actos eleitorais distintos nem projectar resultados de uma eleição para noutra, diferente mas que nem sequer foi ainda convocada, como se falássemos de inevitabilidades - deixaram marcas, mesmo alguns avisos sérios à oposição e ao poder, particularmente ao PSD e ao PS locais que foram, os mais afectados pelo fenómeno eleitoral de domingo passado. Supostamente, no caso dos socialistas, seriam eles os líderes de uma coligação eleitoral em construção para 2011, mas que na realidade não passava de uma farsa, mesmo de um embuste, apostada apenas em dar cabo dos partidos mais pequenos. Acho que o PS local, que insiste numa estratégia errada de verdades “absolutas” que ninguém vê, de hipocrisia desavergonhada e descarada, que recorre à arruaça, à mentira, à deturpação, à manipulação, à encenação rafeira e ao contorcionismo, acabou definitivamente por perder qualquer legitimidade política para liderar seja o que for. Vai daí, os “escribas” socialistas ao serviço das redes sociais, dos blogues, dos comentários nas edições online dos jornais, etc, muitos deles ou sob o anonimato ou recorrendo a pseudónimos ou até mesmo a falsas identidades, em vez de assumirem as responsabilidades do PS local e terem a coragem de reconhecer os erros e afastarem imediatamente os culpados de tudo isso - que não passam de medíocres aprendizes de feiticeiros falhados e de coveiros do partido – acusam, vejam, só (!), o PND de ser uma farsa ao serviço do poder regional e do PSD regional. É a loucura total, o descalabro, afinal, um estado de degradação que temo possa ser mais grave do que se imagina. O PS local não tem categoria, nem espaço, nem dimensão para deixar de continuar isolado. O Bloco de Esquerda acabou por ser arrastado para uma penalização que provavelmente não contava. E que pode ter efeitos nefastos. Roberto Almada e Paulo Martins têm em agora que rapidamente “montar a cerca” no seu terreno, para susterem futuras tentativas de invasões e não desaparecerem nas regionais deste ano. Quanto ao CDS/PP, terei que aguardar para perceber o que quer, onde se localiza exactamente e o que quer este ano. Confesso que tenho tido dificuldade, sobretudo depois de eleger um deputado para Lisboa à custa do PS, em entender os democratas-cristãos. O PCP, apesar de ter adoptado a estratégia calculista de sempre, assente nos manuais do partido, comportou-se de forma dúbia ao longo do ano, pagando agora a factura de não querer ser nem carne, nem peixe, como se porventura existisse alguma possibilidade de ser as duas coisas ao mesmo tempo. Aos comunistas faltou-lhes definição clara de posições políticas, não agora, mas de há uns anos a esta parte.
Começo por referir que os resultados nas regionais de Outubro de 2011 - embora condicionados pela dimensão da insatisfação popular que então se verificar e que eu temo possa ser ainda pior do que a que hoje já se constata existir… - nada terão a ver com os resultados das presidenciais. Mas estou como o antigo "capitão" do Porto quando um dia pediram a João Pinto uma previsão de um jogo qualquer e ele respondeu que "previsões só depois dos 90m"! Sinceramente julgo que andam muitos a fazer festas antecipadas em demasia, que há euforias despropositadas, que andam a exigir a cabeça deste ou o pescoço daquele, quando uma coisa não tem nada a ver com outra. Admito que seja natural este fenómeno de aproveitamento empolado de resultados conjunturalmente favoráveis. Mas o exagero pode ter custos, à “posteriori”. E a ideia de que por causa dos resultados nas presidenciais - provavelmente as eleições onde estes fenómenos eleitorais mais facilmente ocorrem - as eleições regionais de Outubro já estão decididas, é ridículo. Mas nada de ilusões. Desvalorizar o que é hoje uma evidência, pode ter um custo penoso. Os partidos com mais responsabilidades devem estar atentos, devem discretamente perceber porque e onde falharam, devem fazer as mudanças que forem tidas por convenientes para susterem o populismo. Desconfio que se caírem no erro de continuarem a alimentar certos discursos radicalizados de denúncia e contestação, vão pagar por isso. As pessoas, repito, começam a estar fartas, começam a desesperar, os problemas continuam, agravam-se, a demagogia de alguns crápulas já ultrapassa os limites do razoável - veja-se um partido que corta salários em Lisboa mas depois exige compensações na Madeira, que reduz ou elimina benefícios sociais, mas depois exige que a Madeira mantenha ou reforce as verbas que em Lisboa eliminaram, o mesmo partido que exige tudo isto, mas que aplaudiu e apoiou o corte nas transferências do Estado para a Madeira por via de uma lei de finanças regionais vergonhosa e persecutória, aprovada apenas por eles com base em evidentes motivações partidárias e sede de vingança política.
Passemos a alguns indicadores:
a) Manuel Alegre alcançou na Madeira (7,8%) o seu pior resultado em todo o país (-8,04%), seguido de Faro (menos 4,66%). A maior subida do candidato do PS e do Bloco foi nos Açores (mais 8,58%). Alegre, entre 2006 e 2011, só aumentou a sua votação nos Açores, Braga, Bragança, Vila real e Porto;
b) Entre 2006 e 2011 a abstenção aumentou em todos os distritos e regiões Autónomas, excepto em Bragança onde baixou 14,81%. Os Açores voltaram a ser a região com maior abstenção (68,9%!) e curiosamente a Madeira foi a região do país onde a abstenção, nas regiões onde ela cresceu, aumentou menos (cerca de 10,3%). Contudo, nas presidenciais de 2011, a abstenção na Madeira apenas foi superada por seis distritos continentais;
c) Cavaco Silva aumentou a votação em muitos dos distritos e regiões autónomas excepto em Bragança, Guarda, Leiria, Viana do Castelo, Viseu (com pequenas oscilações entre 2006 e 2011) e Madeira (meros 14,5%) onde acabou por conhecer a maior queda;
d) No caso da abstenção na Madeira, ela baixou entre 2006 e 2011 apenas nos concelhos da Calheta, Porto Santo e Santa Cruz (menos eleitores e menos percentagem de abstenções), verificando-se uma redução dos eleitores participantes em todos os restantes concelhos excepto em Santa Cruz onde até votaram em 2011 mais 61 eleitores que em 2006;
e) Tomando os resultados das regionais de 2007 como referência, e somando os votos do PS e do Bloco de Esquerda, apoiantes de Manuel Alegre, este candidato perdeu mais de 12.500 votos, com especial destaque para Funchal (mais de 7.200 votos a menos) e Santa Cruz (quase 2.900 votos a menos). Estamos a falar de 21.699 votos nas regionais (socialistas e bloquistas) contra apenas 9.105 de Alegre este ano. Em termos percentuais a queda foi geral e na Região ascendeu a cerca de menos 10,7%;
f) Na mesma ordem de ideias, e face ao somatório dos votos do PSD e do CDS nas regionais de 2007, a perda para cavaco Silva nas presidenciais deste ano foi de cerca de 48.700 votos (!) com destaque para o Funchal (menos quase 20 mil votos), Santa Cruz (menos 6.600 votos), Câmara de Lobos (menos 5.600 votos) e Ribeira Brava (menos 5.400 votos). Se não me engano foram os concelhos mais afectados pelos temporais de Fevereiro de 2010! Em termos percentuais, e com base na mesma projecção comparativa, Cavaco perdeu 25,53% face aos que foram obtidos em 2007 por PSD e CDS, seus apoiantes, tendo sido Santa Cruz (mais de 30%), Funchal (26,4%), Ribeira Brava (26,3%) e Câmara de Lobos (25,9%) aqueles onde a queda percentual foi mais significativa;
g) Quanto aos candidatos, Manuel Alegre perdeu entre 2006 e 2011, quase 11.500 votos, dos quais 6.300 no Funchal e 2.100 em Santa Cruz. Em termos percentuais a queda foi superior a 8%, a maior das quais em Santa Cruz com mais de 12%. Já Cavaco Silva perdeu, entre 2006 e 2011, mais de 27.400 votos, particularmente no Funchal (mais de 9.800 votos a menos) e Santa Cruz (queda de mais de 3.300 votos). Igual tendência, menos 14,5% na queda percentual na Região, tendo sido a Ribeira Brava aquele onde a queda foi maior (menos 19,7%);
h) A apreciação comparativa aos resultados de Coelho com o PND é pior, pois este partido ficou-se pelos 2.928 votos nas regionais de 2007 e 5.638 votos nas autárquicas de 2009, contra os 46.247 votos do candidato presidencial! Aqui é um caso evidente de que não se pode fazer nenhuma projecção entre Coelho e PND. Não há qualquer possibilidade. No caso das autárquicas a situação ainda se torna pior pois o PND apenas apresentou candidaturas em Câmara de Lobos (Coelho teve então 901 votos contra 4.648 agora) e no Funchal (4.737 nas autárquicas de 2009 e 1.744 votos nas regionais de 2007 contra 20.414 agora). Nem os 2,1% nas regionais ou 4,1% nas autárquicas do PND têm alguma coisa a ver com os 36,9% de Coelho nas presidenciais;
i) Finalmente quanto ao PCP o candidato Francisco Lopes perdeu, comparativamente aos votações dos comunistas na regionais de Maio de 2007, um total de 3,46% (Funchal e Santa Cruz em destaque) e perdeu ainda mais de 5.300 votos, dos quais quase 3.900 no Funchal.

Uma nota final: numa região onde entre 2006 e 2011 votaram menos 12.248 eleitores, onde Cavaco Silva perdeu cerca de 27.400 votos, Alegre perdeu cerca de 11.500 e Francisco Lopes perto de 5.300 votos, se fizermos o somatório destas três perdas ela ascende a 44.200 votos, que são sensivelmente os 46.247 votos que José Manuel Coelho totalizou a mais que o PND nas regionais de 2007. E nem falo sequer nos 986 votos do absurdo deputado socialista Defensor Moura (obviamente saídos do eleitorado do PS), nem dos quase 7.700 votos de Fernando Nobre, supostamente uma candidatura influenciada pela ala soarista do PS contra Alegre, em nome de um ajuste de contas que se percebeu ter existido. Deixo às pessoas a liberdade de tirarem as suas conclusões, sobretudo quando se fala em eleitorado flutuante e nos contributos partidários para a votação obtida pelo candidato Coelho" (in Jornal da Madeira)

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