O ECO comparou os números da TAP no ano passado com o setor em seis métricas diferentes. A recuperação da companhia aérea portuguesa está atrasada em quatro deles. A TAP apresentou um prejuízo recorde de 1.600 milhões em 2021, em grande parte devido aos custos extraordinários de mil milhões com o fecho do negócio de manutenção e engenharia no Brasil, mas o ano foi de recuperação na atividade da companhia aérea. Transportou mais passageiros e as receitas subiram. Mas como compara com o setor? A comparação pode ser feita com algumas métricas para as quais existem dados internacionais da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) ou indicados pela própria TAP. O ECO reuniu seis indicadores usados pela indústria. Na maioria, a transportadora portuguesa fica aquém do setor. O que poderá não ser alheio ao plano de reestruturação que a empresa teve de implementar a partir do início de 2021 para ver autorizado pela Comissão Europeia um auxílio de Estado de 3,2 mil milhões.
Crescimento no número de passageiros
A TAP transportou 5,83 milhões de passageiros em 2021, um crescimento de 25,1% em relação ao ano anterior. A própria companhia aérea afirma no comunicado de apresentação de resultados que esta evolução fica acima dos 20,1% previstos pela indústria, de acordo com a IATA.
A transportadora portuguesa fez também uma apresentação onde estabelece uma comparação com as pares, elegendo a Lufthansa, Air France KLM e a International Airlines Group IIAG), dona da British Airways, Iberia ou Vueling. Estas três companhias tiveram, em média, um crescimento superior no número de passageiros: 28%.
Conclusão: a TAP teve um crescimento superior à indústria.
Número de passageiros face a 2019
As comparações na aviação, como noutros setores, tendem a ser feitas com o ano anterior à pandemia, para aferir quão perto ou longe está de voltar ao seu melhor ano de sempre. No caso da TAP, ainda está 66% abaixo dos 17 milhões de passageiros transportados em 2019.
Uma distância maior (mas não muito diferente) dos pares, que estão a 64%. A diferença na companhia portuguesa é até inferior à da Lufthansa (-68%) e à da IAG (-67%). A Air France KLM é que baixa a média, tendo transportado menos 57% de passageiros do que no último ano antes da covid-19.
Se recorrermos aos dados da IATA, a diferença para a TAP é maior, já que a indústria como um todo terminou 2021 com menos 53% de passageiros do que em 2019. Se for considerada apenas a Europa (60%) a diferença é menor.
Conclusão: a transportadora liderada por Christine Ourmières-Widener está mais longe que o setor dos números que tinha em 2019.
Oferta de lugares face a 2019
A oferta nas companhias aéreas é habitualmente medida usando um indicador chamado Lugares-quilómetro Oferecidos (Available Seat‐Kilometers – ASK), que multiplica a capacidade das aeronaves operadas pela distância percorrida. No caso da TAP, o ASK cresceu 28,8% no ano passado, ficando 55% abaixo do nível de 2019. A indústria como um todo regista uma recuperação mais rápida, tendo terminado o ano passado 48,8% abaixo do pré-pandemia (51,9% no caso da Europa), segundo dados da IATA.
A TAP faz também aqui a comparação com os pares. Neste caso reclama um crescimento superior em 2021, com os seus 28,8% a baterem a média de 23% das três companhias, que é muito penalizada pelos modestos 8% da IAG. Na comparação com 2019, há um empate nos 55%.
Conclusão: a companhia portuguesa está em linha com os pares na recuperação da oferta, mas fica abaixo do setor.
Procura por passagens face a 2019
Neste caso, o indicador mais comum é o Passageiro-quilómetro (Revenue Passenger‐Kilometers – RPK), que corresponde ao número total de passageiros multiplicado pelo número de quilómetros voados. O RPK da TAP cresceu 25,6% em 2021, mas ficou ainda 64,5% abaixo do nível de 2019. Segundo a IATA, o setor terminou o ano 58,4% abaixo do valor registado antes da pandemia. Na Europa a diferença foi de 61,3%.
Conclusão: também na procura a TAP está mais longe de voltar aos níveis de 2019.
Taxa de ocupação
Outra métrica importante é a taxa de ocupação, que se encontra dividindo a procura (Passageiro-quilómetro) pela oferta (Lugares-quilómetro oferecido), conhecida em inglês como load factor. Segundo os dados da IATA, a taxa de ocupação do setor foi de 67,2%, recuperando ligeiramente face aos 65,1% de 2020. Na Europa chegou aos 68,6%.
O relatório e contas de 2021 da companhia aérea indica um load factor de 63%, ligeiramente abaixo dos 64,6% registados no ano anterior. Em 2019 tinha sido de 80,1%,
Conclusão: a taxa de ocupação da TAP está ainda aquém do resto do setor.
Crescimento do negócio de carga
Um dos destaques das contas da TAP foi o crescimento do negócio de carga e correio, que contribui com 236,2 milhões para as receitas de 2021 (17% do total). Um crescimento de 88%, que segundo a transportadora “acompanhou o mercado”.
A TAP diz também no relatório e contas que quer a taxa de ocupação quer a rentabilidade (yield) gerada ficaram “acima da média do mercado”. A companhia portuguesa aumentou a yield em 25% no ano passado, uma evolução superior aos 15% do setor.
O segmento de carga continuará a ser uma aposta em 2022, estando em fase de certificação dois aviões convertidos para servir em exclusivo este mercado.
Conclusão: a fazer fé no relatório e contas, a TAP registou um desempenho em linha ou acima do mercado (ECO digital, texto do jornalista André Veríssimo)
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