Quase dois terços
dos portugueses estão preocupados com a possibilidade do resultado final de
umas eleições vir a ser manipulado. Apesar disso, mais de metade subscreve a
ideia de que promover o voto remoto (eletrónico, online ou correio) levará a
uma maior participação eleitoral, de acordo com o Eurobarómetro dedicado ao
tema "Democracia e Eleições".
A sondagem
encomendada pela Comissão Europeia realizou-se em todos os 27 países da União,
entre outubro e novembro do ano passado. Mas são visíveis algumas disparidades
nas respostas dos cidadãos de diferentes nacionalidade. Quando questionados
sobre vários tipos de interferência nos processos eleitorais, os portugueses
estão sobretudo preocupados com a manipulação do resultado final (61%) - uma
subida de 18 pontos percentuais face ao inquérito realizado dois anos antes
(2018). Muito acima dos receios manifestados por suecos (25%), mas ainda longe
dos temores dos lituanos (80%).
Por ordem decrescente de preocupação, surge depois o receio de manipulação eleitoral através de ciberataques (58%); com as pressões sobre os cidadãos para votarem de uma determinada forma (56%); com a possibilidade de atores externos ou grupos criminosos influenciarem as eleições (55%); e, finalmente, com o voto de pessoas que não têm esse direito (54%).
Comparando os
resultados a nível europeu, o estudo conclui que os inquiridos de países como a
Roménia, Lituânia, República Checa e Hungria são os mais preocupados com os
vários tipos de interferência no processo eleitoral, enquanto austríacos,
alemães, dinamarqueses e suecos estão entre os mais despreocupados.
DESCONFIANÇA COM
VOTO REMOTO
Quando
confrontados com a possibilidade de introduzir mecanismos de voto remoto, uma
maioria de portugueses (54%) até acreditam que isso pode conduzir a uma redução
da abstenção. Mas nem por isso diminuem a sua desconfiança quanto a tudo o que
pode correr mal num processo eleitoral desse género. No que diz respeito a
modelos de voto eletrónico, online, ou por correio, estão mesmo entre os mais
desconfiados da União Europeia.
A preocupação com
as dificuldades que isso causaria ao voto de pessoas com deficiência ou à
população mais envelhecida está no topo das preocupações dos portugueses (82%),
que são mesmo os mais preocupados com esta questão entre os cidadãos dos 27.
Mas é também muito elevado o receio de que esse tipo de métodos potenciem a
fraude e os ciberataques (70%) e até a segurança do boletim de voto em concreto
(70%).
IMPOR REGRAS ÀS
REDES SOCIAIS
Num tempo em que
as campanhas eleitorais têm uma componente cada vez mais digital (o que a
pandemia de covid-19 veio aliás exacerbar), o Eurobarómetro também quis obter
algumas respostas sobre o uso da Internet e das redes sociais em tempo de
eleições.
Uma das questões
em que gera uma quase unanimidade entre os cidadãos europeus tem a ver com a
necessidade de impor, seja às redes sociais, seja às plataformas e atores da
Internet, as mesmas regras que os meios de comunicação tradicionais têm de
cumprir nos períodos que antecedem o dia das eleições, ou seja, o período de
reflexão e de silêncio, o equilíbrio no tempo e no espaço dedicado a cada
candidatura, e controlo estrito das campanhas de angariação de fundos - é o que
defendem 80% dos europeus e 73% dos portugueses.
Relativamente aos
conteúdos com que foram confrontados online, 39% dos portugueses (51% dos
europeus) consideram que já estiveram expostos a desinformação; 27% a conteúdo
divisivo, criado especificamente para criar fraturas sociais (45% dos
europeus); 24% a conteúdo que deixa dúvidas sobre se é ou não publicidade
política (37% dos europeus); e 15% já testemunhou intimidação a políticos
através de ameaças ou mensagens de ódio (24% dos europeus) (Jornal de Notícias,
texto do jornalista Rafael Barbosa)
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