quarta-feira, fevereiro 07, 2024

Juros altos renderam 2,6 mil milhões de euros ao Santander e Novobanco


Diferença entre os juros cobrados aos clientes nos empréstimos e os juros pagos pelo banco nos depósitos permitiu que as instituições encaixassem, em conjunto, mais 1,22 mil milhões de euros do que no anterior. Cenário pode vir a alterar-se, já com o aproximar de 2025. A habitual ronda de apresentação de resultados anuais dos cinco maiores bancos a operar em Portugal iniciou-se ontem, com o Santander e o Novobanco a anunciarem lucros históricos respetivos de 894,6 milhões e 743,1 milhões de euros, na sequência de crescimentos que rondaram os 57% e os 33%, pela mesma ordem, os quais a quase duplicação da margem financeira ajuda a explicar.
Em 2023, ambas as instituições voltaram a beneficiar em larga escala da política monetária levada a cabo pelo Banco Central Europeu. A diferença entre os juros cobrados aos clientes nos empréstimos e os juros pagos aos mesmos nos depósitos permitiu encaixar, conjuntamente, 2,63 mil milhões de euros, mais 1,22 mil milhões de euros do que no ano anterior (+87%). 
Individualmente, a margem financeira do Santander ascendeu aos 1,49 mil milhões de euros, em resultado de uma subida homóloga de 708,1 milhões, e a do Novobanco cifrou-se em 1,14 mil milhões, refletindo um acréscimo de 517,1 milhões (ou de 83%, em termos percentuais). 
Na conferência de imprensa, Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander Totta, salientou a importância de ter um setor financeiro rentável, atestando que este é “uma fortaleza para o crescimento do país e um bom ponto de partida para as necessidades do futuro” - as das famílias e empresas. 
E facto é que tanto o Santander como o banco liderado por Mark Bourke exibiram nos seus relatórios melhorias em rácios tão importantes quanto os que medem a capacidade de uma empresa gerar retorno para o acionista. Enquanto o ROE do primeiro aumentou 11,1 pontos percentuais (p.p.), para 23,4%, o RoTE do segundo subiu 1,4 p.p, para 20,4%.
No entanto, o cenário pode vir a alterar-se com o aproximar de 2025, quando é expectável o movimento de descida das taxas diretoras: o CEO do banco pertencente ao grupo espanhol antecipou uma “boa rendibilidade” para o primeiro trimestre de 2024, uma  “rendibilidade razoável” para o conjunto do semestre, mas admitiu que, “muito provavelmente, desafios muito grandes” voltarão a fazer sentir-se a partir do próximo ano. O Novobanco, por seu turno, revela alguma cautela, ao apresentar nas contas de imparidades e provisões um reforço para crédito na ordem dos 74,9 milhões de euros.
A prosperidade em 2023 facilmente se comprova pelo produto bancário declarado por ambas as entidades bancárias - 1,95 mil milhões de euros (+52%) no caso do Santander, e 1,43 mil milhões (+57%) no da instituição liderada pelo gestor irlandês.
Não obstante, e contrariamente ao que nos têm acostumado os resultados dos últimos anos, este crescimento não se fez às custas de um acréscimo desmesurado nas receitas de comissionamento - pelo contrário, as comissões do Totta reduziram-se 2,8%, para 457 milhões, e as do Novobanco mantiveram-se praticamente inalteradas  relativamente a 2022 (+0,9%), nos 296,1 milhões de euros. O declínio observado na atividade creditícia, bem como as alterações legislativas que limitam a sua cobrança, terão sido os principais motivos.
Os dados do balanço destacam dinâmicas distintas para os dois casos no que respeita à carteira de crédito: se, por um lado, a instituição financeira presidida por Pedro Castro e Almeida registou um avanço de 3%, para 44,6 mil milhões de euros, o banco da Lone Star sofreu uma quebra de 0,5%, totalizando no final de dezembro um stock de 25,5 mil milhões de euros. Apesar de afirmarem ter captado novo negócio, os bancos reconheceram o peso das amortizações antecipadas, nomeadamente nos empréstimos à habitação, cujo volume foi tendencialmente relevante no primeiro semestre.
Quanto à qualidade dos seus ativos, o Santander indicou que o rácio de NPE situou-se nos 1,7% e que a respetiva cobertura se fixou em 89,2%. O Novobanco, por seu turno, apresentou um rácio de NPL bruto de 4,4%, com um nível de cobertura de 84,3%. “Praticamente não temos crédito malparado e não tenho conhecimento de entrega de casas ao banco”, disse o CEO do Totta, salientando o contributo das várias soluções para os clientes em situação vulnerável.
No que respeita aos recursos de clientes, verificou-se, respetivamente, um decréscimo de 5,4%, para 43,4 mil milhões de euros, e um ligeiro aumento de 0,2%, para  34,9 mil milhões. Contudo, a rubrica dos depósitos viu o seu montante diminuir em ambas as entidades bancárias: perdeu 3,26 mil milhões (-8,5%), para um total de 38,5 mil milhões de euros, no Santander; menos 272 milhões (-1%), para 28,1 mil milhões de euros, no Novobanco.
Entre janeiro e dezembro, o Totta viu sair 29 trabalhadores, fechando o ano com 4615, e encerrou sete agências, passando a 332. Já o Novobanco tinha, no final de 2023, 4209 colaboradores - mais 119 do que no período homólogo - e 292 balcões, menos dois face àquela altura (Dinheiro Vivo, texto da jornalista Mariana Coelho Dias)

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