segunda-feira, fevereiro 11, 2019

Nota: e a violência doméstica que ninguém vê?

E o que dizer daquela violência doméstica, pior que todas as outras, a violência doméstica silenciosa, que cresce todos os dias no recato da intimidade, que vai aumentando o grau de agressividade, que se torna cada vez mais violenta, mas que ninguém sabe, porque no nosso país os vizinhos mesmo que saibam estão obrigados a calar-se e a nada saber? Essa é a violência pior, a que ninguém vê ou ouve, a que ninguém fala, nem mesmo as vítimas, por temerem retaliações ou a condenação social sempre vesga quando se trata de ajuizar sobre casos destes. E ainda há quem se espante - a dimensão da hipocrisia social é deveras misteriosa... - que sempre que os meios de comunicação social pedem às pessoas que se pronunciem sobre qualquer autor de um acto criminoso dessa natureza, ou de outra ainda bem pior, todos os entrevistados garantem a pés juntos que "era boa pessoa", que "nunca pensaram que ele pudesse fazer o que fez", que era uma "simpatia de homem ou rapaz", que "falava com todos, ria-se", que "até tomava café todos os dias aqui sentado", etc, etc. O costume, a idiotice de sempre, a hipocrisia de quem na realidade, se sabia do que se passava, fechou sempre os olhos por medo e por querer manter-se bem distante. O problema é que há dois mundos separados pela ténue fronteira da privacidade, pelos limites naturais de um agregado que não conseguir dissipar que existe o mundo real, cá fora, à vista de todos, e o reverso da moeda, o tal mundo sobre o qual ninguém quer saber nada porque, diz o ditado, com séculos de vigência, ninguém deve meter o nariz na casa do vizinho ou simplesmente porque na conversa entre marido e mulher ninguém mete a colher. Pois é, até acontecer a catástrofe como a do Seixal num país onde em escassos dois meses são já mais as vítimas de violência doméstica do que aquelas que que foram registadas em todo o ano passado. Pensem nisso, por favor! (LFM)

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