quarta-feira, fevereiro 20, 2019

Nota: As idiotices à volta da moção de censura

Realmente há coisas que não entendo. Uma coisa é o "timing" político, em ano eleitoral com datas já definidas, outra coisa é o oportunismo do CDS e as intenções claramente subjacentes à sua moção de censura, numa altura em que as sondagens não lhe são favoráveis, e quando começam a proliferar novos partidos na área ideológica do centro-direita que vão disputar o mesmo eleitorado que o CDS tenta conquistar. Outra coisa ainda é o discurso político usado pelos partidos para desvalorizar a iniciativa.
Falo do PSD e da esquerda aliada do PS na geringonça. "Nado morto" foi como Costa classificou a iniciativa. Todos sabem que sim no que à queda do governo da geringonça diz respeito. Porque a esquerda do PS tem medo de se comportar em coerência com o seu discurso crítico.
Mas o debate político na Assembleia da República vai realizar-se.
Comecemos pelo essencial: afinal, e salvo a queda do governo de Cavaco em 1987 que paradoxalmente viria a dar origem a dois mandatos com maiorias absolutas esmagadoras, para que servem as moções de censura? Para fazer política, apenas e só para desgastar o poder e provocar debates políticos. Quantas moções de censura o anterior governo da bandalhice troikana enfrentou sabendo a esquerda que elas estavam condenadas ao fracasso? Então os hipócritas do PCP e do Bloco podem justificar as moções de censura apresentadas contra o governo Passos-Portas mas agora irritam-se tanto com a moção de Cristas? O que é diferente entre os dois momentos?
Factos: o governo Passos-Portas foi alvo de 6 moções de censura, as mesmas que Sócrates enfrentou numa legislatura e meia. Cavaco Silva enfrentou 5. Nada resultou de todas elas.
Eu explico.
O PCP e o Bloco, parceiros do PS na geringonça, são os mais descarados jogadores oportunistas da política portuguesa. Fazem jogo duplo. Por um lado aceitam ser bengalas do  PS no parlamento porque temem que as eleições, antecipadas ou as de Outubro, possam dar ao PS uma vantagem eleitoral e parlamentar passível de os dispensar ou de reduzir a sua influência. Depois têm medo dos efeitos eleitorais de uma iniciativa que pudesse tomar e que porventura gerasse a queda do governo da geringonça. Mas depois do desastre eleitoral das autárquicas - uma banhada que eles ainda não se esqueceram - PCP e Bloco não só não dormem bem como temem que o PS continue a "engolir" eleitorado que alegadamente eles reclamariam.
Por isso adoptam uma postura hipócrita de andarem todos os dias a dizer mal do governo que suportam na Assembleia da República, radicalizando até o discurso contra Costa e o governo do PS em relação a temas concretos, mas depois, quando confrontados com a moção de censura - que é um desafio à sua incoerência - recusam e votam contra porque não assumem os seus medos, usando antes um discurso tonto que não engana nem convence as pessoas. Ficaram entalados, espernearam, ficaram bravos, continuarão a ser as bengalinhas dos socialistas de quem tanto dizem mal.
Quanto ao PSD o problema é mais fácil de entender. Ou não! O PSD é o partido principal da oposição nas sondagens. Só que na realidade, aos olhos das pessoas, a eficácia dessa oposição à geringonça tem sido discutida e questionada, facto que tem levado o CDS e Cristas a uma histeria patética, como a de terem afirmado há poucos dias que a oposição à geringonça é o  CDS! Perante esta hipocrisia - Cristas sabe que 2019 é decisivo para a sua sobrevivência na liderança do CDS -  seria mais fácil ao PSD deixar o CDS cavar sozinho o "batatal" em que se meteu. Mas como a oposição de Rio tem sido uma anedota, como o PSD tem sido acusado de ser uma "bengala oculta" do PS e de Costa, o PSD nunca poderia adoptar uma posição que não a de votar a favor da moção do CDS contra o governo da geringonça. Isso coloca o PSD a reboque do CDS? Sim. Mostra que o PSD não é capaz de impor uma agenda política no centro-direita, e por si definida? Sim. Então que alternativa tinham o PSD e Rio que não esta? Nenhuma. Só a de se assumir, de uma vez por todas, como um partido de combate, de oposição, sem paninhos quentes, sem confundir relações de amizade com praxis política, sem continuar metido no casulo redutor de um autarca promovido a líder de um partido nacional, porventura (?) sem estar preparado ou ter o perfil adequado para tal desafio. São estas respostas que o PSD quer de Rio, são estas respostas que  Rio tem que dar aos eleitores. Tudo isto se resolveria e o PSD poderia escolher o que fazer se a percepção das pessoas quanto ao papel e empenho do PSD na oposição à geringonça fosse inequívoca
A moção de censura é um episódio político, mais um, que rapidamente cairá no esquecimento. Nem politicamente ficará nada de útil e concreto do debate que como é habitual nestas coisas, e nestes momentos, tem uma durabilidade efémera, porque a agenda política em ano triplamente eleitoral rapidamente se altera. Fiquem bem! (LFM)

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