segunda-feira, dezembro 19, 2016

Alberto João Jardim ao Público: “É o mandato que se esperava, mas que ainda não teve grandes dificuldades”

E sobre o Presidente da República. Está surpreendido com a popularidade?
Não. É o Marcelo que eu conheço. Como sabe, trabalhei sempre muito perto dele e ainda sempre muito próximo das posições dele. Agora, não há dúvida que ainda não teve pela frente nenhuma situação complexa para resolver. Tem sido fácil. A própria desmarcação que ele faz de Pedro Passos Coelho ajuda muito. Por outro lado, o cuidado que o primeiro-ministro tem com ele também o ajuda. Portanto, penso que é o mandato que se esperava, mas que ainda não teve grandes dificuldades que o pusessem à prova. Mas também é verdade que o Presidente da República soube conquistar esta popularidade.

Votaria nele para um segundo mandato?
Votei neste e votaria outra vez. Até agora não vejo razões para não votar. Apenas estranhei – e já agora ele sabe que eu gosto de dizer as coisas, não as guardo só para mim –, que numa visita oficial que fez à Madeira, ter sido ele a deslocar-se à sede de uma empresa [Diário de Notícias do Funchal] de um dos grupos ingleses que mais tentou destruir o PSD. Magoou muito os autonomistas social-democratas, e foi de certa forma contra a história do que foi o domínio económico inglês antes da autonomia. Foi um passo em falso que ele deu.
E António Costa, já deu algum?
Anunciar pequenas coisas como grande êxitos que não são êxitos nenhuns. Para já é novidade, porque Passos Coelho nem o que fazia de bom sabia anunciar. Não tinha jeito para isso. Por outro lado, Costa tem uma vantagem que Passos não teve, que é gozar do ‘come e cala’ do PC e do BE. Mas dá-me vontade de rir quando os vejo anunciar estes sucessos. Portugal continua na cauda da Europa. A situação portuguesa é muito grave. E o Dr. Costa vai aparecendo, sorridente… Acho que sim, tem de dar um ar de confiança e de quem está a dominar a situação, mas nós estamos dominados pelos estrangeiros.
Lamenta não ter avançado para Belém?
Não. O que eu queria fazer era uma missão quase impossível. Era pôr o povo a exercer a sua soberania e referendar a Constituição. Sei que ia haver obstáculos por todo o lado contra isso, até de ordem legal. Ia ser preciso um grande apoio por parte das Forças Armadas para o povo poder exercer o seu direito. Iam aparecer os teóricos do Direito a dizer que o povo não tinha direito de a exercer a sua soberania. Às vezes nós aparecemos só para não esquecer, e em política faz-se muito isto. Mas eu tinha a sensação de que sem um partido a apoiar e sem dinheiro, não se ganha uma campanha presidencial. Não estou para fazer aqueles papéis de Dom Quixote que alguns candidatos fazem. É que tirando o Prof. Marcelo, aquilo era tudo uma pobreza evangélica. Tirando a Dr.ª Maria de Belém, os restantes opositores eram muito fracos. Até cheguei a dizer que o segundo candidato mais votado, parecia o Tino de Rans dos universitários. Ele sabia tudo, falava sobre tudo, mas nunca se percebeu quais as habilitações dele para aquele cargo.
O ‘bichinho’ da política não se reformou?
Vai existir sempre, com existe na maioria dos portugueses. Acho até que é um ‘bichinho’ que não devemos perder, pois temos o dever de estar civicamente interessados no que se passa à nossa volta. E quando se tem a experiência política que eu tenho temos o dever de não nos calar, de não fingir que não é nada connosco. Obviamente que tenho tido o cuidado, mesmo na política da Madeira, de não aparecer onde não sou chamado, mas não desiste da minha obrigação de falar (entrevista realizada pelo jornalista MÁRCIO BERENGUER, correspondente no Funchal)

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