quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Opinião: Jornalistas postos em causa

Li no DN, na rubrica aberta aos leitores e à liberdade de opinarem, um texto que me surpreende, dado que o mesmo acaba por colocar em causa a dignidade profissional e deontológica dos profissionais da comunicação social. E espanta-me que assim seja, porque ninguém, parece comentar as dúvidas levantadas pelo leitor que vão muito mais além  do que seria lógico. Da referida "carta do leitor", enviada a propósito de um jogo de futebol, entre deputados e jornalistas, realizado há dias na Boaventura e que nem sequer constitui novidade, porque isso ocorre pelo menos há mais de 20 anos, retiro as seguintes passagens:
  • "Tudo isto seria normal se não fosse as duas classes em questão, a minha crítica vai essencialmente direccionada para a classe jornalística (...)";
  • "Num Mundo onde cada vez é mais sentida a influência dos média na nossa vida politica e social, nunca é demais relembrar que muitos cidadãos gostariam de ver algum decoro numa classe tão importante e que é um dos pilares do mundo livre e da liberdade de expressão em democracia, como é a comunicação social e acabar com a ideia e suspeitas das relações perigosas entre estes dois" (...);
  • "Com a quantidade de informação que temos acesso todos os dias através dos imensos canais e redes on-line, onde é muito difícil distinguir o que é verdade ou mentira, era muito importante que pudéssemos depositar nos média oficiais alguma confiança, mas com este tipo de relação próxima entre jornalistas e políticos como podemos acreditar na independência daquilo que é escrito e dito?" (...);
  • "No sábado, na Boaventura, políticos e jornalistas fazem um jogo de futebol, logo depois há o almoço da praxe, onde todos confraternizam e que em alguns casos se criam amizades e empatias pessoais. De repente aparece uma situação que tem que ser exposta/denunciada pelo jornalista e aí a isenção, a transparência e a objetividade da notícia pode ser posta em causa… Eu sei que a resposta de qualquer jornalista será: Eu serei isento, profissional e objetivo, o problema é que todos nós somos humanos e conhecemos bem as nossas reações do nosso coração e da efectividade, as situações passam a ser avaliadas e divulgadas de outra forma, menos objetiva, vamos lá dizer a verdade, mais sentimental…(...)".

Eu não conheço o autor da carta, nem sequer ouso contestar a liberdade de ele dizer o que bem entender. Também não vou tentar perceber se a carta foi ou não um instrumento para visar também, e sobretudo, o deputado que é lá referido, e que não conheço. Tão pouco me preocupo em entrar em polémica com o autor porque acho que os profissionais da comunicação social que lá estiveram - eu não estive presente porque não fui informado disso, caso contrário teria aparecido sem qualquer problema - estão mais habilitados que eu para defenderem a sua honra, dignidade, deontologia, isenção e valores.
O que posso dizer - e disso não abdico - é que uma coisa é uma pessoa discordar de mim e ter a liberdade para me atacar ou até para me enxovalhar - sobretudo se com isso se sente realizado pessoalmente e não comete a loucura de se atirar de uma ponte abaixo - outra coisa é a minha liberdade para recusar com frontalidade, qualquer insinuação por causa da merda de um jogo de futebol ou de um almoço de confraternização, qualquer tipo de moralismo idiota, travestido seja de que forma for, qualquer tentativa de colocar em causa a minha isenção opinativa e profissional, enquanto jornalista detentor da Carteira Profissional nº 318 e independentemente do que são as minhas opiniões pessoais, a todos os níveis, que não se podem confundir com a actividade profissional. Nunca deixei que essa confusão acontecesse, nem sequer tenuemente. Não admito que tal aconteça. Se assim for, então jornalismo e sectarismo são incompatíveis. Quanto a isto, acredito que a minha forma de pensar é partilhável pelos jornalistas que participaram nesse jogo de futebol e no almoço de confraternização que se lhe seguiu. E que não merecem que seja posta em causa a sua dignidade pessoal e profissional. Como claramente aconteceu (LFM)

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