terça-feira, fevereiro 16, 2016

TAP, chineses, hipocrisia, memória curta e manipulação

Confesso que não tenho uma opinião formada sobre o futuro da TAP, o que implica reconhecer que desconheço se a privatização total da empresa ou se, pelo contrário, a continuidade da TAP como empresa pública, detida total ou maioritariamente por capitais públicos, representam a melhor solução.
Desconfio que o estado não tem dinheiro para investir na TAP, aliás está inibido pela própria Comissão Europeia de o fazer. 
O anterior governo, de Passos Coelho e do CDS de Portas, na sua fobia privatizadora que a dada altura passou a ser a todo o custo, teve um comportamento estranho neste processo todo. Desde logo porque vendeu a TAP por um preço que causou estranheza; depois porque formalizou a privatização numa cerimónia realizada a 12 de Novembro no final da tarde, dois dias depois do referido governo de direita ter sido destituído, etc. Tudo muito estranho.
De facto, não deixou de ser estranho que o contrato de venda da TAP tenha sido assinado no final da tarde de 12 de Novembro, já depois das eleições legislativas e já depois do anterior governo de Passos e do CDS de Portas saberem que não passariam na Assembleia da República devido à coligação de esquerda. E que dizer do facto de tudo isto ter sido feito à pressa sem o visto do Tribunal de Contas que nem sequer foi emitido o que se compreende dada a complexidade do processo de privatização e de tudo o que com ele se relaciona. O que aumenta a desconfiança perante tanta pressa...
Aliás, a coligação de esquerda contestou a legitimidade do Governo PSD/CDS para tomar esta decisão em fim de mandato e 48 horas depois de ter sido demitido na Assembleia da República. Recordo que para além dos 61% agora vendidos, a Atlantic Gateway fica ainda com uma opção de compra de 34% a dois anos, estando fora disto os 5% para trabalhadores interessados.
O consórcio Gateway que integra David Neeleman e Humberto Pedrosa, adquiriu a TAP no quadro do processo de privatização do capital público da companhia no total de 61% da TAP.

A 13 de Outubro, a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) deu parecer positivo à venda da TAP ao consórcio Gateway, mas pediu esclarecimentos sobre a estrutura accionista do consórcio comprador, para verificar se ela é controlada pelo português Humberto Pedrosa, como as regras europeias impõem. Um negócio que ficou a aguardar o parecer definitivo da ANAC e do Tribunal de Contas.
Tudo isto teve lugar - o que pode explicar o desespero - numa altura em que se multiplicavam as notícias dando conta que a empresa entraria em dificuldades, precisava da entrada urgente de dinheiro nos seus cofres e estava ameaçada de não haver dinheiro para pagar nem salários, nem combustível já no final do mês de Novembro.
Os chineses
Mas afinal o que é que se passou com os chineses e estará Passos, sim ou não, e uma vez mais, a querer enganar as pessoas e a recorrer à hipocrisia idiota e manipuladora dos factos, que é tanto do seu agrado. Tudo por causa da eventual entrada de capital chinês na empresa, não por via da venda da participação do estado na TAP - os 50% que passou a deter depois da reversão do negócio que parece que seria, em determinadas circunstâncias ruinoso para o nosso país - mas por via da participação dos privados, a Gateway, detentores de 45% da companhia.
A polémica surgiu a 13 de Fevereiro passado quando foi noticiado que os chineses da Hainan Airlines (HNA) poderiam ser accionistas da TAP, através do consórcio privado Atlantic Gateway, dos empresários Humberto Pedrosa e David Neeleman, operação que terá sido autorizada pelo governo  do PS, através do memorando de reversão do negócio de venda da TAP. Segundo o Expresso, o memorando incluía uma cláusula - que foi omitida pelos socialistas, a trapalhada habitual de quem parece não ter apreendido com o que se passou com Sócrates - que dizia que “o Estado português autoriza desde já a entrada no capital social da Atlantic Gateway pela HNA, em percentagem a acordar entre os accionistas da Atlantic Gateway e a HNA.” E mais: "estando previsto o financiamento de €120 milhões à empresa, dos quais €30 milhões pelo Estado e €90 milhões pelo consórcio privado, o Estado português autoriza igualmente que a HNA possa vir a subscrever directamente parte das obrigações, sendo que os direitos que neste memorando de entendimento se referem à Azul se referirão à HNA”.
Ou seja, o novo dinheiro que vai ser emprestado à TAP será de facto chinês. E - diz o Expresso - como essas obrigações serão transformadas em acções, a HNA poderá ficar indirectamente com 10% a 13% da TAP, embora a proporção tenha de ser definida de forma a não pôr em causa a regra de controlo europeu que pelos vistos será garantido.
Aliás se assim não fosse obviamente que o negócio seria vetado por Bruxelas um risco que o governo socialista de Costa não quer correr sob pena de colocar a  TAP à beira da falência ou mesmo em falência técnica.
Alegam os especialistas que a TAP poderá beneficiar desta ligação e envolver-se em ligações ao oriente através da HNA que permitem receber viajantes chineses com escala em Lisboa para as rotas dos Estados Unidos e América Latina.
Quando na sua fobia demagógica vemos Passos Coelho considerar “lamentável” que o governo socialista tivesse omitido aos portugueses - e não devia ter feito, o que desde já constitui um aviso para eventuais situações semelhantes futuras que devem ser denunciadas - a eventual entrada de capital chinês na TAP, reclamando sobre isto esclarecimentos rápidos, questionando mesmo se o chamado interesse público está salvaguardado, então nada melhor do que recordar algumas datas, até para que a memoria curta não transforme este processo numa palhaçada:
  • a) O contrato de venda da TAP foi assinado à pressa, pelo governo de Passos e do CDS de Portas no dia 12 de Novembro de 2015;
  • b) No dia 24 de Novembro de 2015, o empresário brasileiro Neeleman abriu a porta a capital chinês na Azul e encaixa 424 milhões com esta operação de venda. Lembro que depois da norte-americana United Airlines, o grupo chinês HNA passou a integrar os accionistas da Azul Linhas Aéreas, a transportadora brasileira de David Neeleman, o sócio de Humberto Pedrosa na TAP - a Azul é detida pela DGN, a empresa que se juntou à HPGB (a holding de Humberto Pedrosa) para formar a Atlantic Gateway, o consórcio que comprou 61% da TAP. A United Airlines comprou uma posição de 5% na Azul (por cerca de 100 milhões de dólares ou 89 milhões de euros), o HNA Group comprou 23,7% da empresa de Neeleman por 450 milhões de dólares (423 milhões de euros). A Azul admitiu a possibilidade de vir a entrar no mercado asiático através, por exemplo, de acordos de partilha de voos com a Hainan sendo objectivo deste investimento é beneficiar do crescente número de passageiros que circula entre a China e o Brasil, revelou a empresa. Não me lembro de ouvir Passos Coelho e o seu amigalhaço Portas se preocuparem com visto, aliás nenhum comentário fizeram sobre o assunto. Quem sabe se para eles o negócio são os vistos gold para chineses que tantos milhões renderam a Portugal apenas para ajudar a disfarçar as contas públicas e que estiveram na origem de um processo de corrupção envolvendo algumas personagens do PSD. Curioso...
  • c) Em Novembro de 2015 foi noticiado que até Junho de 2015, a transportadora aérea Azul registou prejuízos de aproximadamente 53 milhões de euros, o que colocava o empresário brasileiro que comprou a TAP, na berlinda.  E não só por terem surgido dúvidas sobre quem seria o patrão, de facto, do consórcio que comprou os 61% da TAP entretanto revertidos. Ora que eu saiba, e repito, a Azul de David Neeleman é detida pela DGN, a empresa que se juntou à HPGB (a holding de Humberto Pedrosa) para formar a Atlantic Gateway, o consórcio que comprou 61% da TAP.  Não me recordo de comentários do governo de Passos e do CDS de Portas sobre se este empresário brasileiro oferecia garantidas para o futuro da TAP, provavelmente porque a pressa teve tudo a ver com a falta de dinheiro para salários e combustíveis;
  • d) Não me recordo de ter ouvido Passos ou o CDS de Portas esclarecerem as pessoas - incluindo sobre se isso seria a melhor forma de defender o interesse público e os próprios interesses do estado - sobre um documento confidencial que também não foi divulgado. Refiro-me, no quadro do processo de venda apressada da TAP aos privados, ao facto da Parpública ter assinado um acordo com os bancos credores da TAP onde as instituições bancárias recebem a garantia de que no caso de incumprimento no pagamento das prestações aos bancos o Estado volta a comprar as acções e assim repõem a garantia pública à dívida bancária. Em causa estavam cerca de 770 milhões de euros onde já estavam incluídos os 120 milhões adicionais pedidos pelo consórcio liderado por Humberto Pedrosa e David Neeleman. E podíamos falar de uma outra carta da Parpública, sobre o reforço das garantias aos bancos onde era referido que a dívida da TAP estará sempre protegida pela "rede de segurança" do Estado.

Percebem porque considero que há muita hipocrisia neste processo e que nem o desejo de vingança política pode constituir pretexto para o abandalhamento da política. Mas para que tenham a noção de toda esta trampa, recomendo o visionamento do video abaixo. (LFM)
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Chineses convidados por governo de Passos para privatização da TAP

A empresa chinesa que vai injectar dinheiro na TAP já tinha sido convidada pelo anterior governo a participar na privatização da companhia, mas na altura recusou. A Hainan, ou HNA, quer lançar voos de Pequim para Lisboa e, daqui a 5 anos, pode ser dona de parte da TAP

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