sábado, fevereiro 28, 2015

Semestre Europeu de 2015: decisões da Comissão Europeia


“A Comissão Europeia enviou hoje um sinal forte aos Estados-Membros no sentido de levarem a cabo as reformas estruturais e de prosseguirem a consolidação das finanças públicas. A decisão insere-se na sequência da abordagem que foi definida em novembro pela nova Comissão e está no cerne da Análise Anual do Crescimento de 2015: privilegiar o investimento, as reformas estruturais e a responsabilidade orçamental.
Eis os pormenores da decisão do colégio:
Dos 16 países que em novembro haviam sido identificados como apresentando desequilíbrios macroeconómicos, a Comissão reforçou o procedimento em relação a três países: França (fase 5), Alemanha (fase 3) e Bulgária (fase 5). Em relação a dois países, a Comissão deu início ao procedimento relativo aos desequilíbrios macroeconómicos (PDM): Portugal e Roménia; no que respeita à Eslovénia, a Comissão decidiu suavizar o procedimento. Os restantes dez países não sofrem qualquer alteração da sua situação (ver anexo).
No que respeita aos esforços orçamentais, a Comissão recomenda que não seja iniciado qualquer procedimento por défice excessivo em relação à Bélgica, à Itália e à Finlândia, embora os esforços destes países não estejam em consonância com o valor de referência para a dívida. Isto deve-se ao facto de a Comissão ter em conta fatores pertinentes ao abrigo do artigo 126.º, n.º 3, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia.
A Comissão recomendou ainda que França possa ter até 2017 para corrigir o seu défice excessivo. A recomendação fixa um calendário rigoroso para a trajetória de ajustamento orçamental, que passará a ser avaliada regularmente a partir de maio. Esta medida visa proporcionar a França tempo suficiente para aplicar reformas estruturais ambiciosas.
Segundo o Vice-Presidente do Euro e Diálogo Social, Valdis Dombrovskis: «o pacote hoje debatido pela Comissão constitui a próxima etapa no processo do Semestre Europeu, após a adoção da Análise Anual do Crescimento em novembro último. Obviamente que as nossas decisões têm em conta a situação económica a nível nacional e mundial, bem como a intensa interação mantida nas últimas semanas com Bélgica, França e Itália sobre os respetivos planos de reforma orçamental e estrutural».
Segundo o Comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, Fiscalidade e União Aduaneira,Pierre Moscovici: «este é um conjunto de decisões importante e equilibrado que reflete fielmente a atual situação económica. A Comissão ressalta a importância tanto das reformas estruturais como do respeito das nossas regras orçamentais. A maior parte dos Estados-Membros tem envidado os esforços necessários. Outros precisam de acelerar e de intensificar os esforços de reforma, bem como de reduzir os respetivos défices e dívidas. Continuaremos a incentivar os esforços nesse sentido e, para o efeito, utilizaremos todos os instrumentos legais à nossa disposição que se mostrem necessários».
Próximas etapas
A Comissão apresentou as referidas recomendações ao Conselho. Estas deverão ser debatidas em março na reunião do Conselho dos Assuntos Económicos e Financeiros (ECOFIN).
Em março, a Comissão organizará uma nova ronda de reuniões bilaterais com os Estados-Membros para debater os relatórios por país. Até meados de abril, os Estados‑Membros devem apresentar os respetivos programas nacionais de reformas e programas de estabilidade ou convergência. Com base em todos estes documentos, a Comissão apresentará, em maio, um novo conjunto de recomendações específicas por país para 2015-2016, centrado nas principais prioridades a resolver.
Contexto
O pacote de supervisão orçamental hoje apresentado surge na sequência da adoção da Análise Anual do Crescimento, em novembro último, e fornece a base analítica para a adoção, em maio, das recomendações específicas por país. É a primeira vez que a Comissão apresenta o pacote de supervisão económica neste formato e publica relatórios por país tão cedo no âmbito do ciclo do Semestre Europeu. Nos últimos anos, os relatórios — então designados por documentos de TRABALHO dos serviços da Comissão — eram apresentados juntamente com as recomendações específicas por país em maio/junho. Só as análises aprofundadas, agora incorporadas nos relatórios por país, eram publicadas em março. A sua publicação com três meses de antecedência proporciona mais tempo para debater com as partes interessadas e uma maior apropriação por parte dos Estados-Membros.

RESUMO DAS DECISÕES DE 25 DE FEVEREIRO PARA OS PROCEDIMENTOS RELATIVOS AOS DESEQUILÍBRIOS MACROECONÓMICOS (PDM) DE 2015


            - A Bélgica está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. A evolução da situação no que diz respeito à competitividade externa das mercadorias continua a apresentar riscos e merece atenção, dado que uma nova deterioração da situação ameaçaria a estabilidade macroeconómica. Novas medidas para garantir a convergência dos parâmetros de custos poderiam abrandar a redução do emprego nos setores de bens transacionáveis e progressos concretos para reduzir a histórica diferença de custos poderão ser induzidos pela deslocação da pressão fiscal para outras fontes que não os rendimentos laborais. A dívida pública continua a ser elevada mas há vários fatores que atenuam os riscos macroeconómicos associados.
            - A Bulgária está a registar desequilíbrios macroeconómicos excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Concretamente, a turbulência que afetou o setor financeiro em 2014 suscitou preocupação quanto à existência nos estabelecimentos bancários nacionais de práticas com implicações potencialmente consideráveis para o setor financeiro e a estabilidade macroeconómica global. Além disso, o facto de a situação das contas externas ser ainda negativa, embora tenha registado algumas melhorias, o endividamento excessivo das empresas, assim como a rigidez do mercado laboral, continuam a representar riscos macroeconómicos e merecem uma atenção especial.
            - A Alemanha está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas decisivas. Os riscos aumentaram, dada a persistência do insuficiente investimento público e privado, que constitui um travão ao crescimento e contribui para o elevado excedente da balança de transações correntes, que continua a merecer uma atenção especial. É particularmente importante adotar medidas para reduzir o risco de efeitos adversos sobre a economia alemã e, dada a dimensão desta, de repercussões negativas na União Económica e Monetária.
            - A Irlanda está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. A Irlanda concluiu o programa de assistência financeira UE-FMI em 2013 e é atualmente objeto de supervisão pós-programa e de vigilância no âmbito do Semestre Europeu. Apesar da melhoria clara das perspetivas económicas, os riscos relacionados com os elevados níveis de endividamento dos setores público e privado, os desafios que ainda se colocam ao setor financeiro, nomeadamente quanto à rentabilidade dos bancos, e o ajustamento de um mercado laboral caraterizado por um elevado desemprego estrutural, continuam a merecer uma atenção especial.
            - A Espanha está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. A Espanha saiu do programa de assistência financeira para a recapitalização das instituições financeiras em 2014, sendo atualmente objeto de supervisão pós-programa e de vigilância no âmbito do Semestre Europeu. Apesar de se terem verificado algumas melhorias no reequilíbrio da balança de transações correntes, os riscos relacionados com os altos níveis de endividamento dos setores público e privado e a posição líquida altamente negativa do investimento estrangeiro continuam a merecer uma grande atenção, num contexto que se carateriza por uma taxa de desemprego muito elevada. É particularmente importante adotar medidas para reduzir o risco de efeitos adversos sobre a economia espanhola e, dada a dimensão desta, de repercussões negativas na União Económica e Monetária.
            - A França está a registar desequilíbrios macroeconómicos excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Em maio, com base nos programas nacionais de reforma e nos outros compromissos de reformas estruturais anunciados até então, a Comissão decidirá quanto à ativação do procedimento por desequilíbrios excessivos. Num contexto de fraco crescimento e baixa inflação, associados a uma reduzida rentabilidade das empresas e tendo em conta a insuficiência das medidas adotadas até à data, os riscos decorrentes da deterioração da competitividade, baseada ou não nos custos, e do elevado e crescente endividamento, em especial da dívida pública, aumentaram consideravelmente. É particularmente importante adotar medidas para reduzir o risco de efeitos adversos sobre a economia francesa e, dada a dimensão desta, de repercussões negativas na União Económica e Monetária.
            - A Croácia está a registar desequilíbrios macroeconómicos excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Em maio, com base nos programas nacionais de reforma e nos outros compromissos de reformas estruturais anunciadas até então, a Comissão decidirá quanto à ativação do procedimento por desequilíbrios excessivos. Num contexto de crescimento lento, de atraso na reestruturação das empresas e de fraco desempenho do emprego, os riscos associados à baixa competitividade, à volumosa dívida externa e ao aumento da dívida pública, associados a uma pobre governação do setor público, têm aumentado significativamente.
            - A Itália está a registar desequilíbrios macroeconómicos excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Num contexto de fraco crescimento prolongado e de persistente baixa produtividade, os riscos decorrentes da dívida pública muito elevada e da baixa competitividade, baseada ou não nos custos, aumentaram consideravelmente. É particularmente importante adotar medidas para reduzir o risco de efeitos adversos sobre a economia italiana e, dada a dimensão desta, de repercussões negativas na União Económica e Monetária.
            - A Hungria está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas decisivas. Concretamente, continuam a merecer atenção os riscos decorrentes da posição internacional líquida ainda altamente negativa, apesar dos progressos registados no reequilíbrio das contas externas, da elevada dívida pública, bem como da forte sobrecarga regulamentar que incide no setor financeiro e do elevado montante de crédito malparado, o que dificulta a redução do endividamento.
            - Os Países Baixos estão a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Persistem os riscos decorrentes do elevado endividamento privado, que merecem atenção apesar das medidas recentemente adotadas para apoiar a recuperação no mercado da habitação e a contenção do crescimento do crédito hipotecário. Embora o elevado excedente da balança de transações correntes se deva em parte às características estruturais da economia, a estrutura dos regimes fiscal e de pensões podem ser uma fonte de afetação ineficiente do capital.
            - Portugal está a registar desequilíbrios excessivos, que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. Portugal terminou o programa de ajustamento económico em 2014 e é atualmente objeto de supervisão pós-programa e de vigilância no âmbito do Semestre Europeu. Apesar dos consideráveis progressos registados durante a execução do programa, tanto no que respeita ao ajustamento económico como às medidas adotadas, subsistem riscos importantes associados aos elevados níveis de endividamento, tanto interno como externo, em diversos setores que merecem uma atenção especial. Registam-se igualmente fortes pressões para reduzir o endividamento, num contexto de fraco crescimento, baixa inflação e elevado desemprego.
            - A Eslovénia está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento específico e de adoção de medidas decisivas. O reequilíbrio encontra-se em curso e as medidas políticas globalmente decisivas, o aumento das exportações, assim como a melhoria das condições de crescimento reduziram os riscos em relação ao ano passado, em especial os associados à sustentabilidade das contas externas. Contudo, as carências a nível do governo das empresas, a elevada participação do Estado na economia, o nível ainda excessivo do endividamento das empresas, bem como o aumento da dívida pública, implicam riscos para a estabilidade financeira e o crescimento, devendo ser objeto de uma atenção especial. Esses desequilíbrios deixaram, assim, de ser considerados excessivos, mas continuam a merecer uma atenção especial.
            - A Finlândia está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Concretamente, devem ser objeto de atenção os riscos relacionados com o fraco desempenho das exportações num contexto de reestruturação industrial. Embora tenha sido, em grande medida, posto termo à quebra no setor das exportações e das indústrias transformadoras, o investimento continua a ser reduzido e o crescimento potencial diminuiu. A dívida do setor privado estabilizou e não parece ser uma fonte de preocupação imediata, mas o seu nível relativamente elevado exige uma supervisão atenta.
            - A Suécia está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Concretamente, o endividamento das famílias mantém-se em níveis muito elevados e continua a crescer em resultado do aumento dos preços do imobiliário, da persistência das baixas taxas de juro, dos incentivos fiscais ainda atrativos e das limitações da oferta de habitação. Os desenvolvimentos macroeconómicos associados à dívida privada continuam a merecer atenção.
            - A Roménia está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Nos três programas da UE/FMI consecutivos, os desequilíbrios externo e interno foram consideravelmente reduzidos. Todavia, os riscos decorrentes da posição líquida relativamente negativa do investimento estrangeiro e das fracas capacidades de exportação a médio prazo devem ser objeto de atenção. Por outro lado, a estabilidade do setor financeiro tem sido preservada, mas persistem as vulnerabilidades, internas e externas, do setor bancário.
            - Reino Unido está a registar desequilíbrios macroeconómicos que devem ser objeto de acompanhamento e de adoção de medidas. Concretamente, os riscos relacionados com o elevado nível de endividamento das famílias, decorrente das características estruturais do mercado da habitação, continuam a merecer atenção. A capacidade de resistência da economia e do setor financeiro aumentou. No entanto, a escassez de habitação deverá persistir, o que permitirá sustentar a médio prazo os elevados preços da habitação, continuando a prejudicar a resiliência do setor face aos riscos” (fonte: Comissão Europeia, Bruxelas, 25 Fevereiro 2015)