segunda-feira, dezembro 30, 2013

Opinião: “A dívida para além do défice”



“É recorrente ouvir dizer que a consolidação orçamental não se justifica porque, apesar dela, a dívida continua a aumentar. Não é demais lembrar que não só há vida para além do défice (que apesar de tudo seria bem melhor se não o tivéssemos) como há dívida para além do défice, isto é, a dívida pública cresce não apenas pelo défice orçamental do Estado, no sentido tradicional do termo (só administrações públicas sem empresas públicas), mas também devido ao défice das empresas públicas reclassificadas e a variadas dívidas que o Estado se sente obrigado a “regularizar”.
Até Novembro o Estado já desembolsou 1577 milhões de euros (cerca de 1% do PIB a preço de mercado) só para regularizar dívidas da Região Autónoma da Madeira, dívidas do sector da saúde e de certos municípios. A esse valor haverá que somar os reforços de capital das empresas públicas incluídas no perímetro orçamental (EPR) e um défice estimado dessas EPR em 881 milhões. Tudo isto significa necessidades de financiamento acrescidas do Estado, em que se tivesse que ir ao mercado a dez anos se financiaria a 6% (obrigações do Tesouro a 10 anos), uma taxa obviamente proibitiva. Falo na dívida antes do défice, para que as prioridades sejam claras (o nosso problema é uma dívida excessiva) e para contextualizar a análise do défice. 
Conforme referimos em Novembro, tudo indica que o objectivo para o défice orçamental deste ano irá ser alcançado. Neste momento, derivado sobretudo do sucesso com a regularização, por parte de particulares e empresas, de dívidas ao fisco e à segurança social o défice no final do ano deverá rondar os 5,25%. A única rúbrica orçamental onde existe ainda alguma incerteza é a aquisição de bens e serviços dos fundos e serviços autónomos (FSA) que, como se sabe envolve três realidades completamente distintas: os FSA tradicionais (Institutos Públicos, Universidades, Politécnicos, etc.), as empresas públicas reclassificadas e a aquisição de serviços aos hospitais EPE.
Os impostos vão dar um contributo mais positivo que o esperado no rectificativo de Maio (ver infografia), o subsídio de desemprego terá sido sobre orçamentado, assim como as despesas com acção social (ou a sua execução está abaixo do que deveria). A afectar pela negativa as previsões para o défice está a despesa com pensões da segurança social, bastante superior ao previsto, e do lado da receita uma sobre orçamentação das contribuições para a Caixa Geral de Aposentações” (artigo de Paulo trigo Pereira, professor do ISEG/UL e Presidente do Instituto de Políticas Publicas TJ-CS, Público, com a devida vénia)