Li aqui que apesar do equilíbrio no número de ministros, a remodelação hoje apresentada entrega quase toda a economia ao CDS-PP. Portas, como vice-primeiro-ministro terá a responsabilidade de coordenar a retoma num Governo onde os titulares da economia (Pires de Lima) e Segurança Social/Emprego (Mota Soares) fazem parte da cúpula política do CDS. A estes juntam-se ainda Paulo Núncio, secretário do Estado dos Assuntos Fiscais, também do CDS e António Lobo Xavier, que tem estado a coordenar o estudo para a reforma do IRC. Ou seja, na segunda metade de 2013, quase toda a economia passará pelo CDS, com Portas a assumir também a negociação com a troika - aqui dividindo com as Finanças -, bem como o estudo para a reforma do Estado. Na verdade, de todas as pastas económicas, só as Finanças foram entregues a uma ministra próxima do PSD (Maria Luís Albuquerque), já que Assunção Cristas e o CDS mantêm a Agricultura. Mesmo assim, e apesar do novo peso do CDS, ainda não é claro qual é o novo rumo que Portas para a política económica do Governo, depois de ter discordado publicamente da orientação seguida pelo Executivo e da escolha de Maria Luís Albuquerque para suceder a Vítor Gaspar. Na carta de demissão, Portas assumia as suas "diferenças políticas" com o ex-ministro das Finanças. E acrescentava: "a sua decisão pessoal de sair permitia abrir um ciclo político e económico diferente". No último mês, o CDS adiou por duas vezes o seu congresso nacional, evitando novos focos de conflito com o PSD. Agora, e com os centristas firmemente implantados no Governo - Portas lidera a Comissão Política, Pires de Lima o Conselho Nacional - será interessante perceber qual será a estratégia do Governo para oitava e nova avaliações da troika, onde estarão em cima da mesa os cortes previstos de 4,7 mil milhões. Ao mesmo tempo será importante perceber com quem fica a diplomacia económica, que era tutelada directamente pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e que Portas, nas últimas semanas, admitiu manter.