Escreve a jornalista do Jornal I, Margarida Bon de Sousa que, "investir, criar emprego, pagar salários ao fim do mês. São experiências que só três eleitos pelo povo assumem. Há défice de experiência empresarial no parlamento português. Num universo de 230 deputados, apenas um foi empreendedor durante 10 anos. E quanto à gestão de empresas, a experiência fica-se praticamente confinada ao universo público ou autárquico, ligada essencialmente a nomeações partidárias. Para qualquer empresário ou gestor de uma empresa privada, seria difícil recrutar um colaborador entre os deputados da Assembleia da República, sobretudo com base na análise dos currículos disponibilizados online pelo seu site oficial. (Há pouca experiência profissional relatada, mas há quem expresse abertamente pertencer ao Lions, um elemento importante numa óptica de registo de relações pessoais). Ser maçon, pertencer ao Opus Dei ou a qualquer outra sociedade secreta não aparece em nenhum dos registos de interesse, embora seja pública a ligação de inúmeros deputados a este tipo de organizações. E ser professor, advogado ou jurista continua a ser uma mais-valia na hora dos partidos elaborarem as suas listas às eleições legislativas. Estas três profissões são maioritárias no parlamento: 149 deputados declaram estas actividades como principais, contra 23 economistas, 18 gestores e três empresários. Somente um jovem deputado do PSD assume ter sido empreendedor durante 10 anos, embora não especificando o seu trajecto profissional.
Sobrevivência
Imagine-se uma catástrofe natural em que São Bento ficaria isolado do mundo durante uma ou mais semanas. Em teoria, os 230 deputados seriam capazes de sobreviver sozinhos, já que entre eles existem electricistas, afinadores de máquinas, médicos, engenheiros e até um vitivinicultor, capaz – espera-se – de cultivar uvas e produzir vinho nos jardins que rodeiam o parlamento. Não faltam também psicólogos, engenheiros electrotécnicos e até jornalistas, que deixariam para a posteridade relatos minuciosos dessa experiência hipotética. Alguns quadros bancários acompanhariam de perto as contas dos parlamentares e 18 gestores estariam certamente à altura de organizarem todos os recursos. Já a venda dos skills para o bairro que circunda a Assembleia seria mais problemática, uma vez que os três únicos empresários que se assumem como tal não referem do sucesso ou insucesso das suas actividades.
Bancos
Dois deputados, Miguel Frasquilho e Vasco Cunha, ambos do PSD, declaram abertamente pertencer a dois grupos bancários, o BES e o BCP. São a única excepção nesta actividade, apesar de haver outros bancários, nomeadamente um director e um gerente. Entre as profissões mais sui generis está a de chefe de gabinete de uma câmara do Norte, referida por uma deputada também do PSD. A esmagadora maioria dos registos de interesses é, no entanto, bastante vaga. Contam-se pelos dedos casos como o do centrista Abel Baptista, que refere ser presidente do conselho fiscal da Coopalima, da assembleia geral da associação Luso--Britânica ou da assembleia geral da associação da Pessoa Especial Limiana. Para quem está de fora, toda a informação veiculada pelos deputados do parlamento sobre as suas actividades são prioritariamente para consumo interno e não para os cidadãos em geral: no final, e salvo raríssimas excepções, fica-se a saber muito do percurso político dos representantes do povo mas quase nada sobre o que fazem em acumulação com o cargo de deputados.
CDS mais jovem
Se há um item onde todos os deputados são específicos é na idade. Por isso é fácil de perceber que é no Bloco de Esquerda onde os máximos e os mínimos são mais extremos, o que faz com que a idade média deste grupo parlamentar acabe por ser a segunda mais elevada: 48,25 anos, só superada pelo do Partido Socialista: 50,1 anos. O CDS é o grupo parlamentar com a média de idades mais baixa: 43,8 anos. João Serpa Oliva, com 64 anos, e José Ribeiro e Castro, com 59, impedem que aquele número desça um pouco mais. PSD, PCP e PEV têm idades médias muito semelhantes: 46 anos, estando separados apenas por algumas décimas. Os deputados mais jovens de todo o hemiciclo são ambos do PSD, Cristóvão Simão Ribeiro, com 26 anos e Joana Barata Lopes, com 27. Mota Amaral (PSD), Basílio Horta e Ferro Rodrigues situam-se no extremo oposto em termos etários, sendo os veteranos desta assembleia, todos com 69 anos. Seguem-se o comunista Agostinho Lopes e o socialista José Lello, os dois com 68. José Lello é, aliás, outro dos deputados a ser explícito na informação posta online. Declara-se gestor e administrador da DST - Domingos da Silva Teixeira - uma empresa de gestão de activos não financeiros com sede em Palmeira, Braga, e vice-presidente da ILAC portuguesa, uma organização de cooperação internacional de organismos de acreditação de laboratórios e de inspecção formada há mais de 30 anos para ajudar a remover barreiras técnicas ao comércio".