segunda-feira, janeiro 21, 2013

Opinião: "Notas soltas"

"I.Uma coisa é eu pensar que esse pretenso debate na sociedade portuguesa em torno desse futuro modelo do Estado, de pouco ou nada serve, porque este governo de coligação viciou o jogo, manipula as pessoas, mente-lhes, esconde dados, deturpa realidades, afasta jornalistas, restringe o debate (veja o que aconteceu com a palhaçada de uma conferencia organizada por encomenda do governo), não tem condições políticas, nem morais, nem sociais para liderar com credibilidade este processo de discussão inevitável e que tem que ser uma discussão muito séria quão pragmática. Não estamos a falar de dogmas nem de disputas ideológicas; estamos a falar de dinheiro, apenas e só de dinheiro! Estamos a falar do futuro da política fiscal imposta aos portugueses e às empresas.
Independentemente de acreditar que este governo de coligação, apesar de não o dizer, já tem um documento interno, confidencial, e muito reservado, enumerando todas as decisões que pretende tomar até 2014, com vista ao tal corte de pelo menos 4 mil milhões de euros de despesa pública mas que na realidade podem ascender aos 6 mil milhões de euros, a verdade é que nada pode ser feito nas costas do povo.
Neste contexto fica mal a determinados partidos políticos com responsabilidades no estado em que nos encontramos, só porque pensam mais nos votos – veja-se a “sinceridade” de José Lelo a propósito da polémica em torno do ADSE – colocarem-se à margem de uma discussão séria, para depois, se porventura voltarem ao poder – a memória do povo é realmente muito curta… – se limitarem a executar essas medidas restritivas que outros tomarem e que eles contestaram quando estavam na oposição, por mero oportunismo eleitoralistas do mais saloio que pode haver.
II. Portugal é de facto um, pais com uma “sorte do caneco”. Com amigos destes nem vale a pena andarmos a nos preocupar com os que nos exploram pela surdina. Vejam só mais um exemplo do que é a amizade desinteressada que os alemães, neste caso e mais uma vez os alemães, têm por nós. Os mesmos alemães que embora sabendo que estávamos a ficar nas lonas e a caminho da falência – até porque a conservadora Merkel defendia tanto Sócrates e dava-se às mil maravilhas com o anterior governo socialista – nos venderam por milhões os submarinos e os carros de combate, no fundo repetindo o que já antes tinham feito à Grécia, já depois de iniciadas as negociações com a “troika” para o resgate do país que estava numa desgraçada situação financeira.
Recordo a notícia que me despertou tanta curiosidade, mas que ao mesmo tempo que ajudou a perceber por que razão aqueles que nos emprestaram 78 mil milhões de euros são os mesmos que nos obrigaram a pagar quase 35 mil milhões de euros só em juros:
“Os alemães podem ganhar milhões de euros com a ajuda técnica que vão prestar na constituição da futura entidade financeira que será responsável pelo financiamento das pequenas e médias empresas públicas. Segundo apurou o CM junto de fontes governamentais, negociações secretas entre responsáveis do Ministério das Finanças e elementos do KfW, o banco de fomento alemão, decorrem desde novembro de 2012 e foram iniciadas pouco depois da visita da chanceler Merkel a Portugal. Os encontros têm também a participação de elementos do Banco de Portugal. Normalmente os serviços do KfW são remunerados tendo em conta o universo dos fundos sob gestão. A prática da instituição é de cobrar uma percentagem de 3%, que significa que por cada 1000 milhões de euros geridos, 30 milhões vão para os cofres do banco alemão”. Uma pergunta que não ofende: nestes casos não funciona o ajuste direto? Ou será que o ministro das finanças Gaspar resolveu fazer um favor especial aos seus amigalhaços, quem sabe se a pensar com o futuro e com algum lugar no BCE a reboque de um empurrãozinho germânico?
III. Passos Coelho anda numa roda-viva por causa dos mercados. Gaspar empurra e Coelho abre o trombone. Mercados para aqui, mercados para acolá, mercados até quando toma duche a cantarolar lá com a mania que é um tenor de pacotilha. Financiamento da economia (?) para a direita, financiamento mais barato dos bancos (?) para a esquerda, financiamento da economia portuguesa por parte da banca e a juros mais acessíveis (deixa-me rir) para cima e financiamento para as famílias para baixo.
Mas como será que estes anormais explicam que as famílias portuguesas, cada vez mais pobres, cada vez com menos rendimento disponível, muitas delas já sem dinheiro para pagar os compromissos com a banca, para comprar alimentos para os filhos, para pagar as propinas dos filhos nas universidades, etc, se atrevem, repito, se atrevem, a ir à banca? Já não basta a pouca vergonha de terem obrigado os portugueses a pagar os 12 mil milhões de juros para a capitalização da banca enquanto esta continua a somar lucros com a própria compra de dívida pública do país? E que dizer do facto dos impostos dos portugueses, resultantes dos cortes dos salários, das pensões e das reformas, servirem para pagar o legado dos aldrabões que obrigaram o Estado a espatifar 7 mil milhões só no BPN?
IV. Finalmente, mais uma pergunta, daquelas que não ofendem mas convidam à reflexão ou exigem uma clarificação: será que as empresas por onde andou Coelho, durante o seu percurso profissional curricular tão experimentado e revelador de uma competência estonteante que até nos faz chorar, tiveram alguma relação com determinados bancos, casos do BPN e do BPP, que custaram os “olhos da cara” aos portugueses? Eu não sei, nem quero insinuar seja o que for. Mas como ninguém conhece quem foram os aldrabões que andaram a roubar o estado, que usaram esses bancos para encher a pança quais ladrões de fato e gravata, e que geraram a falência dos bancos e buracões que agora todos pagamos com os nossos impostos, a pergunta faz sentido, ou não?
Quando é que se conhece a lista de todos aqueles que estiveram envolvidos nas negociatas mafiosas do BPN? E, já agora, porque é que o Estado teve comportamentos diferentes com o BPN e com o BPP quando se trataram de duas falências sob suspeita? Os "tubarões", ou como diz o povo, os principais mamões estavam todos só no BPN? Fala-se de empresários até ligados à comunicação social, de políticos, de dirigentes desportivos, de antigos governantes e de conhecidos empresários da praça. Será mesmo assim" (JM)