sexta-feira, junho 01, 2012

Passado

O Luís Calisto fez o favor no seu blogue Fénix do Atlântico de me fazer recordar factos da minha vida e do meu percurso profissional que não podem sair nunca do meu baú de memórias. Mas, mais do que esse testemunho da amizade, fez-me sobretudo recuar aos tempos idos dos anos setenta e oitenta, quando os jornalistas madeirenses de então funcionavam como um bloco de betão inexpugnável, colocando sempre acima das diferenças de opiniões a amizade e o facto de estarem todos a trabalhar em por de uma causa comum. As rivalidades entre imprensa, rádio e televisão se existiam, ninguém dava por elas. Precisavamos todos uns dos outros e sabíamos disso. As dificuldades empresariais já existiam então, sim senhor. Mas a frequência com que os jornalistas se encontravam - conhecíamos praticamente todos os cantos da cidade - a convivência fora das redacções que existia sem complexos de qualquer espécie, tudo isso constituía o universo de poucos, mas de gente boa, homens e mulheres. A política, o futebol, ou seja lá o que fosse, não nos podia separar, não tinha sequer o direito de sobrepor-se aos valores mais altos no relacionamento humano. O LC fez-me recordar dos tempos em que não havia ferro em brasa nenhum que conseguisse penetrar naquele nosso bloco de gelo. Corporação? E depois? E as outras corporações?

Agradeço ao LC pela amizade e por isso. Porque a nossa amizade, desde os tempos do Liceu e das futeboladas - ele mais velo que eu - não se questiona. Sabemos ambos. Mas o LC pode estar certo de uma coisa: hoje como no passado a política não pode esbarrar na relação de amizade entre as pessoas. Tal como pode acreditar que não há pagamento a "peso de ouro" coisa nenhuma. Fui, e nunca neguei, um profissional da comunicação social. Por isso mesmo não sou, nunca fui, funcionário público nem faço parte de nenhuma empresa privada, por razões que têm a ver com opções profissionais que tomamos em determinados momentos. Lembro-me de ter pedido opinião e apoio aqueles que eram os meus colegas, sobretudo aos mais velhos. Tinha a consciência do que mudaria. Estamos a falar de 1991. Não falo de outras opções pessoais que tomamos noutros momentos, mais preventivas, por precaução do que por outra coisa, porque pessoais, não justificando por isso sequer comentários. O que sei é que são quase 40 anos de carreira contributiva para a Segurança Social (como o tempo voou!). Demasiado tempo para não ter a liberdade e o direito de decidir como entender.

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