sexta-feira, junho 29, 2012

Opinião: "(Açores) Falta de moral na política"

"O Presidente do Governo da Região, respondeu a um requerimento subscrito por Deputados do Parlamento Açoriano informando que gastou 43 mil euros na viagem que fez ao Brasil. É do interesse dos açorianos que o presidente do Governo dos Açores, Carlos César, diga quanto pagou o erário publico com uma visita que inclui a esposa do presidente e uma equipa de apoio (protocolo, fotografo, assessor de imprensa e um governante), numa viagem ao Rio Grande do Sul, no Brasil. Falta saber qual foi o retorno dessa viagem, a não ser a que resulta da vertente politica de procurar afirmar os Açores numa "recepção de Estado " no Rio Grande do Sul e assinar um protocolo que, se for como a maioria dos outros, fica esquecido no tempo. Em nosso entender, e sobretudo, nas circunstâncias de dificuldade extrema em que vivem muitos açorianos, a pompa e a circunstancia foi além do que devia. Mas, o pior é a forma como alguns membros do governo açoriano legalizam, no quadro da lei, a majoração do seu vencimento através de ajudas de custo. Um governante que reside em Ponta Delgada e, por a sede do seu departamento governamental ser no Faial, põe ajudas de custo em São Miguel, age sem vergonha utilizando dinheiro público a seu favor, beneficiando de uma lacuna da legislação. É verdade que está tudo legal e regular mas é imoral agir desta forma. Como se pode aceitar verbas que resultam desta majoração quando há milhares de açorianos que vivem abaixo do limiar da pobreza e dezenas de milhares de açorianos com ordenados que não chegam ao fim do mês e que deixaram de comer e de vestir para honrar os seus compromissos financeiros com a banca?
Como se pode aceitar que um governante ponha ajudas de custo numa viagem em carro oficial para assistir, num domingo, a uma procissão? Se é religioso e participasse na procissão por crença, acreditamos que não aceitaria dinheiro para nela se participar. Mas admitamos que não se incorpore na procissão por fé mas por dever de função. E, se assim for, o que ganham os açorianos pela participação deste ou daquele governante numa procissão quando ele representa um custo para o orçamento, equivalente a qualquer banda de música que tenha de ser paga pela Comissão das Festas?
Se soubessem que um governante recebe ajudas de custo e carro oficial de graça com choufer às ordens, os açorianos, certamente, dispensariam tal ornamento nas procissões. É inaceitável a falta de ética e a falta de moral praticada pelos políticos que destroem com os seus actos a arte nobre que é a política. Como também é inadmissível que, posto perante esta majoração de ajudas de custos, um governante venha dizer que tem de ser pago pelo seu trabalho, conforme notícia de ontem da RTP/A. Faz lembrar o dito popular de "quanto mais abrem a boca, mas se enterram". Tudo isso faz-nos ter saudade dos primórdios da Autonomia dos Açores com alguns políticos a suarem a camisola por amor ao projecto em que estavam envolvidos. Somos testemunhas vivas destes tempos…
" (texto do jornalista do Correio dos Açores, João Paz)

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