segunda-feira, setembro 13, 2010

"Portugal recupera parte dos turistas, mas perde alguns para a concorrência"

"O território nacional está a ser mais procurado pelos mercados externos, mas ainda está longe dos níveis pré-crise. Norte de África, Turquia e América do Sul são dos principais adversários Muitos britânicos, espanhóis e alemães riscaram Portugal do mapa de férias quando rebentou a crise. E o turismo nacional, que vive essencialmente de estrangeiros, entrou numa estrada sem saída. As contas de 2010 mostram que o país está a ganhar alguma orientação, mas o número de dormidas provenientes do exterior continua longe dos níveis registados no passado. Além de a recuperação ser lenta, as ameaças são cada vez maiores. Muitos britânicos, espanhóis e alemães deixaram de visitar de Portugal, mas não reduziram as viagens para outros destinos. No ano passado, houve menos 3,6 milhões de estadias de turistas estrangeiros em Portugal, face a 2007, um dos melhores anos de sempre do sector. Para este ano, as previsões são mais optimistas, tendo em conta os resultados registados pelos estabelecimentos de hotelaria. De acordo com o INE, os residentes no exterior realizaram 2,9 milhões de dormidas em Portugal em Julho, o que significou um crescimento de 8,3 por cento face a 2009. Os franceses foram responsáveis por uma subida de 9,1 por cento, os britânicos de 8,4 e os espanhóis de 8,2 por cento. A Irlanda foi o único, de entre os principais mercados emissores, a assistir a uma quebra, na ordem de 1,3 por cento. "Os dados de Julho vêm confirmar uma tendência de recuperação. Pela primeira vez este ano, o comportamento dos não residentes foi melhor do que o dos residentes", afirmou ao PÚBLICO o secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade.
Descidas e subidas
No entanto, apesar deste crescimento, os resultados de 2010 continuam longe dos registados antes da crise. Em Julho de 2007, o Reino Unido, que é o país de onde chegam mais turistas, realizou mais de 880 mil estadias em Portugal. Em igual período deste ano, os cidadãos britânicos ficaram-se pelas 694 mil dormidas. O mesmo se passa com os alemães, os irlandeses e os holandeses. De acordo com os dados do INE, apenas França e Espanha já conseguiram superar os resultados de há três anos. Os espanhóis, por exemplo, já levam um crescimento de 18,3 por cento, comparando os meses de Julho. A perda de turistas estrangeiros em 2009 é justificada pelo impacto negativo da conjuntura económica no poder de compra. No ano passado, todos os países cujos cidadãos geralmente passam férias em Portugal apresentaram descidas no número de viagens ao estrangeiro. O Reino Unido teve a maior quebra desde os anos 70, registando menos 10,4 milhões de visitas ao exterior. No entanto, apesar de o território nacional ter sido um dos mais afectados (com a perda de 722 mil britânicos), houve destinos que apresentaram crescimentos. O relatório Travel Trends, do Office for National Statistic (o organismos que trata a estatística do Reino Unido), conclui que todos os países preferidos pelos britânicos para viajar sucumbiram à crise. Mas revela que alguns territórios alternativos conseguiram crescer, apesar do contexto de instabilidade económica. O Sri Lanka recebeu mais 23 por cento de turistas do Reino Unido, a Lituânia mais 14 por cento e o Egipto e a Jamaica mais 13 por cento. E acrescenta que, desde 1984, "a escolha por destinos que antes não faziam parte das preferências está a crescer a um ritmo de 7,1 por cento ao ano". Isto significa que, enquanto Portugal perdeu o interesse para alguns britânicos, muito por causa da desvalorização da libra face ao euro, outros países foram capazes de os atrair. "Vivemos à escala global, pelo que concorrentes são todos os destinos que elegeram o turismo como actividade económica essencial na sua estratégia de desenvolvimento", explicou o secretário de Estado, admitindo que, de entre os principais rivais de Portugal na captação de estrangeiros, estão "os países do sul da Europa e do Magreb" (Marrocos, Argélia e Tunísia, por exemplo).
Oscilações alemãs
As oscilações nas escolhas dos alemães dão razão a Bernardo Trindade. No ano passado, Portugal registou cerca de 3,3 milhões de dormidas provenientes da Alemanha - menos 509 mil do que em igual período de 2007. Mas, em 2009, estes turistas não cortaram por igual nas viagens ao estrangeiro. Um relatório do instituto de estatística alemão Destatis mostra que, entre 2009 e 2007, o número de viagens para a Argélia subiu 58,8 por cento e para Marrocos 18,4 por cento. Porém, o peso destes destinos no total de visitas é ainda inferior ao do território português, que registou uma descida de 1,7 por cento.

O factor preço
Na Holanda, passou-se o mesmo. O número de dormidas destes turistas em Portugal, durante o mês de Julho, subiu face a 2009. Porém, continua num nível 12,5 por cento abaixo do registado há três anos. E, apesar de haver menos holandeses hoje em solo nacional, outros destinos apresentam subidas. Um estudo do Statistics Netherlands mostra que a Turquia tem subido na lista de preferências destes turistas. No primeiro trimestre de 2010, houve um crescimento de 12,7 por cento no número de viagens a este destino, face a 2008. Um comportamento semelhante ao do Egipto, que registou um aumento de 11,2 por cento. Numa entrevista recente ao PÚBLICO, o presidente da Confederação do Turismo Português, José Pinto Coelho, admitiu que Portugal perdeu estrangeiros, "porque houve uma diminuição global da procura e porque a procura que resistiu foi repartida por outros destinos mais baratos, nomeadamente a Turquia, o Egipto e a América do Sul". No que diz respeito a esta última região, os números da Organização Mundial do Turismo mostram que apresentou um crescimento de quatro por cento nas chegadas de turistas internacionais, durante o primeiro semestre de 2010. A Europa foi responsável pela recuperação mais lenta (dois por cento). Para o secretário de Estado do Turismo, um dos factores que mais influencia na escolha do destino de férias é a componente qualidade/preço. Sobretudo quando os principais mercados emissores são afectados por uma desvalorização da moeda, como aconteceu com o Reino Unido, que também enfrentou "um aumento de impostos e a não renovação de contratos na função pública", explicou Bernardo Trindade. Conter a fuga de turistas para territórios concorrentes implica "uma atitude pró-activa na procura da melhoria do produto [promovido]", uma estratégia de preço que reflicta uma solução de melhor relação qualidade/custo, e, finalmente, "que todos estes valores sejam comunicados de modo a ser devidamente percepcionados por quem procura [Portugal] como destino turístico", acredita o governante”. (pela jornalista do Público, Raquel Almeida Correia, com a devida vénia)
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- Segundo os dados disponíveis até agora, Portugal está este ano a registar uma recuperação, mas o número de dormidas provenientes do exterior mantém-se longe de níveis anteriores.
- Diversos turistas de países como o Reino Unido, Espanha e Alemanha deixaram de visitar Portugal, mas não reduziram as viagens para destinos alternativos.
- Países como Marrocos, Argélia, Egipto e Tunísia são alguns dos mercados que concorrem cada vez mais com o território nacional.
- Para o secretário de Estado do Turismo, um dos factores que mais influencia a escolha é a relação preço/qualidade".
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- 10,4 milhões foi a quebra de visitas ao exterior por parte de cidadãos do Reino Unido no ano passado, a maior quebra desde os anos 70. O território nacional foi um dos mais afectados, mas houve destinos que cresceram".

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