sexta-feira, novembro 04, 2022

TAP teve lucro de mais de 100 milhões, mas isso “não é suficiente”

Regresso aos lucros tem de ser sustentável, referem os responsáveis da companhia aérea, devido ao “peso da dívida e dos juros” ligado ao crescimento rápido antes da pandemia e aos novos aviões. Depois de uma série de dez trimestres a gerar prejuízos (desde Janeiro de 2020 a Junho de 2022 foram 3031,5 milhões), a TAP anunciou esta quarta-feira que lucrou 111,3 milhões de euros no período de Julho a Setembro, ou 31,8 milhões sem a actual protecção cambial. No entanto, destacou o administrador financeiro, Gonçalo Pires, isso “não é suficiente” por si só e é algo que tem de ser consistente devido ao “peso da dívida e dos juros” a pagar pela companhia aérea.

A TAP, recordou o gestor, cresceu muito e rápido e isso foi pago com dívida, tornando a empresa mais endividada do que a concorrência. Por isso, tem agora de apresentar bons resultados de forma consecutiva e reduzir o endividamento (a dívida financeira estava nos 1620 milhões de euros em Setembro, mais 9% do que em Dezembro “devido aos novos leasings de aviões”, e os leasing operacionais estavam nos 2238 milhões, mais 6% face a Dezembro). Isto, para ser sustentável financeiramente.

Olhando para os nove meses do ano, a TAP sofreu prejuízos de 90,8 milhões, mas Gonçalo Pires mostrou-se confiante de que vai chegar ao final do ano com melhor resultado do que os 53 milhões de prejuízo que o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, referiu ser a meta para este ano. A empresa, vincou, está “a fazer melhor” do que o estipulado no plano de reestruturação negociado com Bruxelas.

O bom resultado do terceiro trimestre deste ano, com recorde de receitas operacionais (1119 milhões de euros, dos quais 1002 milhões de passagens aéreas), e de resultados operacionais, foi possível, segundo comunicou a empresa, graças ao “aumento das tarifas e maior capacidade, resultando num aumento das receitas do segmento de passageiros”. “Estamos a voar com menos aviões, mas mais cheios e a melhores preços”, explicou o administrador financeiro na conferência de imprensa de apresentação de resultados, acrescentando ainda a “boa performance” no controlo de custos. De acordo com o gestor, a tarifa média subiu 23% este ano face a 2021 numa tendência de alta dos combustíveis que levou a incrementos de preços no sector.

No controlo de custos, a TAP tem estado a analisar os contratos com fornecedores para baixar as facturas e, de acordo com o gestor, foi nesse âmbito que chegaram à análise das despesas com aviões comprados à Airbus pela anterior gestão, ligada aos accionistas privados David Neeleman e Humberto Pedrosa. O estudo, conforme lhe chamou Gonçalo Pires, foi entregue ao accionista, o Estado, que se faz representar pelo Ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, o qual por sua vez decidiu remetê-lo para a Procuradoria-Geral da República. “Temos uma frota mais cara do que devíamos”, sintetizou o gestor.

A TAP também optou por não renovar o contrato de aluguer de aviões e tripulação que tinha com a White, preparando-se para substituir esta empresa pela Xfly, da Estónia. Em termos de liquidez, a TAP diz estar com uma posição “sólida” de 775,1 milhões, menos 114,8 milhões face ao final de Junho, “seguindo o padrão de sazonalidade da indústria no que respeita ao consumo de liquidez”. Até ao final do ano, a empresa ainda vai receber mais 990 milhões dos 3,2 mil milhões de ajudas estatais, dos quais 2,55 mil milhões ligados directamente à reestruturação e o restante a apoios por causa da pandemia.

Interesse mostra que “a TAP tem valor"

Para a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, os resultados agora anunciados “mostram que o plano de reestruturação está a resultar”, e que este, sendo “exigente”, “depende do contributo de todos”, tal como o seu resultado “é de todos”. Segundo a gestora, as manifestações de interesse em entrar no seu capital, como o fez a Air France-KLM, devem ser vistas com contentamento porque mostram que “a TAP tem valor”. “Não seremos nós [gestão] a decidir quem será a noiva ou o noivo”, sublinhou.

Olhando para os primeiros nove meses após a aprovação do plano, defendeu a gestora, a empresa está “no bom caminho”. No entanto, disse, se há “resultados para celebrar”, também é preciso “precaução com o futuro”. Na apresentação, foram enunciados quatro grande desafios para 2023: a “salvaguarda de receitas em ambiente recessivo”, a “redução de custos com inflação”, o “aumento da satisfação do consumidor apesar da infra-estrutura restringida pela capacidade” e a “negociação de novos acordos de trabalho” com os sindicatos.

Para a presidente da TAP, se os tripulantes de cabina optarem por uma greve, isso seria “um desastre” para a companhia aérea. Reconhecendo esse direito, a gestora afirmou que não entendia o porquê dessa hipótese estar em cima da mesa na reunião agendada pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) para esta quinta-feira, na sequência da apresentação da proposta de um novo acordo de empresa (AE). “É uma proposta”, vincou, “que estou disponível para discutir”. Uma greve, destacou Ourmières-Widener, “iria prejudicar todo o bom trabalho feito até agora” (Publico, texto do jornalista Luís Villalobos)

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