domingo, novembro 20, 2022

Inflação alta trama economia...

BCE veio alertar que as famílias com rendimentos mais baixos serão duramente atingidas pela inflação e pelas taxas de juro, que irão voltar a subir já em dezembro. A economia portuguesa está a dar sinais de abrandamento face a «um contexto de elevada inflação». O alerta foi dado pelo Instituto Nacional de Estatística ao referir que «os indicadores de curto prazo (ICP) relativos à atividade económica na perspetiva da produção, disponíveis para setembro, apontam para uma desaceleração da atividade», após ter acelerado em agosto, retomando o perfil de abrandamento registado entre março e julho e registando a taxa mais baixa desde março de 2021”.

Também o indicador de clima económico, que sintetiza os saldos de respostas extremas das questões relativas aos inquéritos qualitativos às empresas, diminuiu entre agosto e outubro, «reforçando o movimento descendente iniciado em março e atingindo o mínimo desde abril de 2021».  O montante global de levantamentos nacionais, pagamentos de serviços e compras em terminais TPA apresentou um crescimento homólogo de 12,9% em outubro (14,2% no mês anterior). 

Estes dados seguem-se às estatísticas divulgadas pelo Banco de Portugal esta quinta-feira, que também mostram que a atividade económica e o consumo privado estão a abrandar. O indicador que mede a atividade económica registou uma variação homóloga de 6,2% em setembro, depois de uma subida de 6,5% no mês anterior. Já o consumo privado evoluiu 2,3%, abaixo dos 2,9% verificados em agosto deste ano, de acordo com as estatísticas da instituição liderada por Mário Centeno.

O índice de preços na produção da indústria transformadora apresentou uma taxa de variação homóloga de 21,6% em outubro, desacelerando pelo terceiro mês consecutivo, após ter registado em julho o crescimento mais elevado da atual série (25,9%). Excluindo a componente energética, este índice aumentou 14,7% em termos homólogos (15,6% em setembro). O índice relativo aos bens de consumo continuou a acelerar, passando de uma variação homóloga de 15,3%, em setembro, para 15,7% em outubro. A variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) foi 10,1% em outubro de 2022, a taxa mais elevada desde maio de 1992, superior em 0,8 pontos percentuais (p.p.) à do mês anterior. 

De acordo com o Inquérito ao Emprego, a taxa de desemprego fixou-se em 5,8% no 3º trimestre de 2022, 0,1 p.p. acima do valor do trimestre anterior (6,1% no período homólogo). O emprego total aumentou 1,0% face ao mesmo período de 2021 (1,9% no 2.º trimestre). A remuneração bruta total mensal média por trabalhador (por posto de trabalho) aumentou 4,0% no 3º trimestre. Em termos reais, tendo como referência a variação do IPC, esta remuneração diminuiu 4,7%. 

Sinais de alerta 

Ainda esta semana, o Banco Central Europeu (BCE) afirmou que aqueles com rendimentos mais baixos irão ser «duramente» mais atingidos pela inflação e pelas subidas das taxas de juro a partir do final deste ano e correm mesmo o risco de não conseguir pagar as suas dívidas.

Um alerta que não surpreendeu os economistas contactados pelo nosso jornal. João César das Neves disse mesmo que «o risco não é futuro, mas presente», garantindo ainda que «já estamos a viver essa realidade e que ela vai agravar-se nos próximos tempos».

Uma opinião partilhada por Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, ao apontar para um aumento do risco de incumprimento de crédito em 2023, à medida que os juros mais elevados diminuem o rendimento disponível das famílias, penalizando os que têm orçamentos mais apertados, já por si debilitados pela elevada inflação. «O crédito à habitação em Portugal é maioritariamente indexado à Euribor, uma taxa de juro variável e que aumenta à medida que a taxa de juro do BCE sobe, aumentando os custos dos empréstimos dos portugueses, colocando as famílias de rendimentos mais baixos num contexto de insolvência». 

Também Nuno Mello, analista da XTB, afirmou que a inflação alta vai continuar durante o último trimestre deste ano e durante todo o ano de 2023. «Certamente que serão as famílias com rendimentos mais baixos que serão as mais afetadas e, por isso, cabe aos Governos europeus tomarem medidas de alívio que venham desagravar a situação financeira dessas mesmas famílias. O Governo português já tomou algumas medidas como a possibilidade de negociação do crédito à habitação para quem atingir uma taxa de esforço de 35%. Mas estou convencido que não será suficiente e que terá que ir mais além» (SOL, texto da jornalista Sónia Peres Pinto)

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