sexta-feira, maio 13, 2022

Madeira. Quando o brilho dos ilustres iluminou a joia do Atlântico

 


A ilha da Madeira atrai desde há séculos viajantes célebres de todas as nacionalidades. O livro Ilustres Visitantes na Madeira – 1952-1992 reúne fotografias de intelectuais, artistas, atores, políticos e aristocratas que por ali passaram na segunda metade do século XX. Paragem obrigatória na travessia do Atlântico Norte nos tempos da navegação à vela e do vapor, a ilha da Madeira funciona há séculos como um magneto para personalidades ilustres. Do livro de honra constam nomes tão célebres como o do capitão James Cook, o ‘descobridor’ da Austrália, que aporta no Funchal em 1768, na primeira viagem a caminho dos mares do Sul. Mas é no século XIX, com o nascimento da indústria do turismo moderno, que o arquipélago se torna um destino de eleição para viajantes de todas as nacionalidades. Grandes militares, estadistas, escritores, membros da realeza europeia rendem-se aos encantos da Madeira. Outros, como Thomas Jefferson, o autor da declaração de independência dos Estados Unidos, ou Grigori Rasputin, o monge louco que aconselhava os czares, não resistem à sedução do seu vinho...



“As estações na Madeira são a juventude, a maturidade e a velhice de uma Primavera que nunca acaba e está sempre a começar”, escreveu o poeta inglês Samuel Taylor Coleridge, em 1825. O almirante Nelson, vencedor da batalha naval de Trafalgar, passa por lá. O seu inimigo figadal, Napoleão Bonaparte, também, a caminho do exílio na ilha de Santa Helena. Em 1832, é a vez de o Beagle fazer escala no arquipélago, mas o naturalista Charles Darwin encontra-se demasiado doente para ir a terra.

Intelectuais, artistas, políticos e monarcas Da passagem destas individualidades, porém, pouco mais ficou do que a memória. Só com o século mais avançado começa a haver registo fotográfico, quando um antigo gravador, Vicente Gomes da Silva, funda o seu estúdio (1863) e se dedica a fixar as imagens fidedignas das importantes figuras que vão chegando à ilha.

Foi justamente a partir do Acervo da Photographia – Museu Vicentes, composto por 800 mil negativos, que se reuniram as imagens históricas constantes do livro Ilustres Visitantes na Madeira - 1852 a 1950, publicado em 2014. Agora, acaba de sair o segundo volume desta obra, que cobre a segunda metade do século XX: Ilustres Visitantes na Madeira – 1951 a 1991, com organização de Vítor Luís, Nuno Mota e Filipe dos Santos, e edição da Direção Regional do Arquivo e Biblioteca da Madeira.

A lista de visitantes de finais do século XIX e início do seguinte é impressionante: Isabel da Baviera, mais conhecida por Sissi, o futuro imperador Maximiliano do México, Carlos de Áustria (ali falecido), George Bernard Shaw, em 1925 (o ano em que recusa o Nobel da Literatura), Graham Greene, ou o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o Conde de Barcelona, D. Juan de Bourbon, ambos em 1950.

Neste segundo volume, dedicado à segunda metade do último século, o brilho dos nomes não é menos intenso. Encontramos intelectuais como o brasileiro Gilberto Freyre, Albert Schweitzer e John Dos Passos; figuras das artes e do espetáculo, como Pierre Vaneck, Cliff Richard e Omar Sharif; políticos e estadistas, como o ditador Fulgencio Batista, Bernard Montgomery e João Paulo II; e, claro, não podiam faltar os membros da realeza, nomeadamente o Príncipe Alexandre da Jugoslávia, o Rei Humberto II de Itália e o Príncipe Filipe, Duque de Edimburgo.  O estúdio fundado no Funchal por Vicente Gomes da Silva em 1863, cujo acervo está na origem desta recolha, funcionou continuamente até 1978, tendo passado por quatro gerações da família. Em 1982 abriu ao público como museu, voltando a encerrar em 2014 para obras de requalificação. Reabriu em julho de 2020, ano em que recebeu o Prémio Museu do Ano, da Associação Portuguesa de Museologia (jornal i, texto do jornalista JOSÉ CABRITA SARAIVA)

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