A
pandemia de covid-19 está mesmo a arrasar os portugueses: 92% dos inquiridos
numa sondagem da Aximage para o JN e a TSF estão muito ou bastante preocupados
com a crise e 55% sofrem um impacto grande ou muito grande na saúde e bem-estar
emocional. Nada que surpreenda o psiquiatra Pedro Morgado, "tendo em conta
a dimensão dos problemas que se abateram sobre a nossa sociedade".
Os
entrevistados mostram-se mais preocupados com os efeitos na economia (31%) e a
saúde e o bem-estar emocional (21%). Destacam-se, neste caso, os jovens: 69%
estão afetados. A classe mais baixa é a que mais sofre (68%). O professor da
Universidade do Minho crê que "cerca de 24% das pessoas poderão estar a
sofrer significativamente com as medidas". Face às ameaças, "foram
ativados os mecanismos de resposta ao stresse que incorporam sintomas de
ansiedade e ativação, o que gera uma sensação de mal-estar e preocupação
permanente". É evidente o "agravamento da insatisfação com a vida em
diferentes domínios", diz.
Antes da covid, 79% dos inquiridos estavam satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida social. Agora, são 27%, menos 52 pontos percentuais. Os insatisfeitos/muito insatisfeitos são agora 49%. Quanto à saúde, a satisfação/muita satisfação desce para 61% e a insatisfação sobe para 15%.
Modificação
brutal
Isso
"é explicável pelo facto de vivermos uma emergência de saúde pública que
modificou de forma brutal os nossos hábitos sociais" . De facto,
"deixámos de poder ver a cara uns dos outros, de nos podermos tocar,
abraçar ou beijar e de conviver como antigamente". O sofrimento que o
isolamento gera e o "consequente descontentamento com a vida social não tem,
necessariamente, um impacto na saúde. E isso é muito positivo".
Vida
familiar alterada
O
nível de vida regista o segundo maior impacto. Apenas 44% dos inquiridos estão
satisfeitos e a taxa de insatisfeitos atinge 26%. Os idosos ainda estão no topo
(86% antes, 68% agora), mas jovens baixaram 41 pontos, de 79% para 38%. "A
maioria dos idosos depende dos rendimentos das suas pensões, que não sofreram
alterações durante a pandemia", ao contrário de setores como o comércio, o
turismo e a restauração, explica Pedro Morgado. Já a insatisfação dos jovens
está "seguramente relacionada com o impacto na saúde e bem-estar
emocional".
Quanto
à vida familiar, o grau de satisfação desce 28 pontos e o de insatisfação
agrava-se em dez. O caso das mulheres é singular: antes, era idêntico ao dos
homens (82%). Agora é menor, baixando elas para 52% e eles para 60%.
"A
vida familiar também se reconfigurou", nota o psiquiatra. "Passámos a
viver mais tempo em família o que , em algumas situações, reforçou as disfunções
existentes e noutras contribuiu para reforçar os laços". Mas a vida em
família "também se viu muito limitada nos espaços e nos momentos de
fruição". E "o teletrabalho sobrecarregou em particular as mulheres,
que, infelizmente, continuam a acumular com o trabalho grande parte das tarefas
domésticas. Isto explica a maior quebra na satisfação".
Jovens
afetados por quebra de socialização
Na
autoavaliação do impacto na saúde e bem-estar emocional, 69% dos jovens (18-34
anos) referem um impacto grande ou muito grande , uma percentagem maior do que
nos outros grupos e superior em 19 pontos ao dos idosos (65+). De facto,
comenta o psiquiatra, "aparecem particularmente afetados, o que poderá
estar relacionado com a quebra da socialização, que é muito relevante nesta
fase do desenvolvimento. Além disso, as perspetivas acerca do futuro
alteraram-se radicalmente, o que coloca em causa os projetos e as expectativas
que muitos jovens idealizavam para o seu futuro a curto e médio prazo"
(Jornal de Notícias, texto do jornalista Alfredo Maia)
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