Mais de um euro por cada cinco euros de crédito concedido pela banca não está a pagar juros e/ou prestações ao abrigo do regime de moratória. Os bancos portugueses têm 46 mil milhões de euros de crédito em moratória, cerca de 22% do total da carteira de crédito. Isto é, mais de um euro por cada cinco euros de empréstimos concedidos pela banca não estão a pagar juros e/ou prestações ao abrigo do regime de moratórias criado para proteger famílias e empresas face ao choque da pandemia. Portugal é dos países onde se recorreu mais às moratórias. De acordo com o Banco de Portugal, por conta do período de carência conferido por este regime, os bancos vão deixar de receber cerca de 13 mil milhões de euros em prestações e juros até setembro do próximo ano.
Foram as empresas que mais recorreram à suspensão do crédito: um total de 24,4 mil milhões de euros de crédito empresarial está sob moratória, o que corresponde a cerca de 32% do total de crédito bancário neste segmento. No Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado esta quinta-feira, o supervisor sublinha que “a proporção dos empréstimos a SNF (sociedades não financeiras) em moratória, em junho, foi superior em Portugal por comparação ao observado no conjunto dos países da União Europeia, aproximadamente 30% face a 9%”.
Em relação ao crédito às famílias, incluindo crédito à habitação e ao
consumo, os empréstimos em moratória ascendem a 21,6 mil milhões de euros,
cerca de 17% da carteira dos bancos neste segmento. Também é uma das taxas mais
elevadas na Europa, que registava uma média de 6,2% em junho.
São números que dão corpo a uma das maiores preocupações com o impacto
da crise. Se as moratórias ajudaram a amparar o choque inicial da pandemia,
poderá estar a esconder a dimensão do problema de incumprimento face à queda
abrupta da atividade económica. Daí que as autoridades regulatórias insistam
para a necessidade de os bancos monitorizarem de perto a evolução de todos os
clientes, incluindo aqueles que têm os seus créditos sob moratória.
Em Portugal, as moratórias foram prolongadas até setembro do próximo ano.
Os banqueiros já pediram ao Governo para ter atenção a esse prazo: não querem
que as empresas e as famílias fiquem desamparadas se chegados até lá se
mantenham as condições de aperto financeiro.
Para assegurar uma “transição suave”, o ministro da Economia já disse
que deverá apresentar novas medidas no primeiro semestre do próximo ano, que
deverão “passar por uma combinação de soluções desde converter dívida em
capital até injeção de capital novo que precisa de robustecer o balanço das
empresas”, segundo disse Siza Vieira numa conferência do ECO.
Apesar das preocupações, o Banco de Portugal lembra que há vários
mitigantes quanto ao potencial impacto das moratórias: por exemplo, cerca de
20% do crédito das pequenas e médias empresas que está em moratória está
coberto por depósitos das empresas no próprio banco que deu a moratória, sendo
um importante mitigante contra eventuais defaults; por outro lado, no momento
em que os particulares pediram a moratória, mais de metade não teve quebra de
rendimento, um sinal de que nem todas as famílias solicitaram uma suspensão das
prestações devido a problemas financeiros.
Neste cenário, o governador do Banco de Portugal sublinhou a necessidade
de manter os apoios à economia. Mas Mário Centeno também lembrou esta quinta-feira
que prolongar em demasia as moratórias pode dar um sinal errado aos agentes
económicos. “As moratórias são úteis num determinado quadro, podem ter até
efeitos negativos na sinalização que é necessária dar aos agentes económicos na
retoma de atividades que existiam antes da crise”, explicou (ECO digital, texto
do jornalista Alberto Teixeira)
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