Estudo realizado pelo Instituto de Medicina Molecular Professor João
Lobo Antunes revela que só 1,9% dos portugueses foram infetados na primeira
vaga pelo SARS-CoV-2. O que significa que o país conseguiu, de facto, achatar a
curva da transmissão. Em contrapartida, só uma pequena franja da população
criou anticorpos contra a covid-19. Grupo etário menor de 18 anos criou maior
seropositividade do que os grupos de outras idades, mas a nível.
Até setembro, 1,9% da população portuguesa criou seropositividade em
relação ao vírus SARS-CoV-2. Isto mesmo revela o Painel Serológico Nacional
(PSN) realizado pelo Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes,
financiado pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e o Grupo Jerónimo
Martins.
Ou seja, 1,9% da população já criou anticorpos contra o vírus. A
percentagem global é pequena, mas, no fundo, explica o IMM, revela que o país
conseguiu achatar a curva de transmissão da doença e atenuar o seu impacto na
sociedade.
No entanto, e segundo os resultados, esta prevalência de seropositividade aumenta quando se olha para os resultados regionais. "A seropositividade contra o vírus aumenta com a densidade populacional, assumindo um valor estatisticamente superior nas regiões de alta densidade: 2,5% nas regiões de alta densidade populacional, face a 1,4% nas regiões de média densidade e 1,2% nas regiões de baixa densidade populacional."
Quanto maior a densidade populacional, como é o caso de grandes centros
urbanos, maior é a seropositividade adquirida. O mesmo estudo veio ainda
revelar que a seropositividade é ainda maior quando se olha para os grupos
etários dos jovens com menos de 18 anos, embora estes não tenham grande
significado estatístico à escala nacional: 2,2% no grupo dos menores de idade,
face a 2,0% entre os indivíduos com idades compreendidas entre os 18 e os 54
anos e 1,7% entre os indivíduos com mais de 54 anos.
Ao cruzar-se os vários grupos etários com as densidades populacionais,
verificou-se uma seroprevalência significativamente superior, de 3,2%, nos
jovens com idades inferiores a 18 anos nas zonas de elevada densidade
populacional.
Este painel serológico veio demonstrar ainda que a proporção de
seropositivos é também muito superior, em 27%, nos participantes que tiveram
alguém do seu agregado familiar com a doença, uma percentagem que contrasta com
a de 1,1% nos que participaram no estudo e que não tiveram nenhum familiar
diagnosticado. No que respeita à seropositividade criada por homens e mulheres
o painel "não detetou diferenças de seroprevalência". Nos homens a
seroprevalência é de 1,9% e nas mulheres de 1,8%.
Os resultados obtidos "permitem fazer um retrato da primeira vaga
de covid-19 e mostram que o país conseguiu 'achatar a curva' na primeira onda
da pandemia".
Para o investigador principal deste estudo e vice-diretor do IMM, Bruno
Silva Santos, os resultados obtidos "permitem fazer um retrato da primeira
vaga de covid-19 e mostram que o país conseguiu 'achatar a curva' na primeira
onda da pandemia, o que se traduz numa prevalência estimada da infeção por
SARS-CoV-2 de apenas 1,9% na população".
O investigador sublinha a ideia, apesar de não ser surpreendente, de que
"esta prevalência aumenta com a densidade populacional, assumindo um valor
estatisticamente superior nas regiões de alta densidade", acrescentando
que a equipa que está com este estudo continua "ainda a trabalhar os dados
dos questionários de saúde, fatores associados com a sintomatologia da covid-19
e outras doenças, o que irá permitir fazer uma análise mais completa sobre o
retrato da primeira vaga da pandemia".
De acordo com Bruno Silva Santos, a situação pandémica é hoje diferente
da que foi retratada no estudo realizado a 13 mil portugueses entre os dias 8
de setembro e 14 de outubro. Por isso, salienta, é importante que agora se
continue "a seguir e a compreender a evolução da infeção através do
acompanhamento de um subgrupo representativo destes cidadãos".
Bruno Silva Santos, vice-diretor do IMM, é o investigador principal
deste estudo e diz que resultados
Recorde-se que a amostra que serviu de base ao PSN, que tinha como
objetivo avaliar a prevalência de anticorpos contra o SARS-CoV-2 na população,
reunia 13 mil pessoas que voluntariamente aceitaram participar neste estudo. Os
participantes estavam distribuídos por nove estratos que cruzam densidade
populacional e grupo etário de forma quase proporcional à população portuguesa
e eram de 102 municípios de Portugal continental e ilhas.
O IMM explica ainda que, dado que a produção de anticorpos aumenta a
partir do momento da infeção e podem ser necessárias duas semanas para os
detetar numa amostra de sangue através de um teste serológico, estes resultados
referem-se a pessoas que terão sido infetadas desde o início da pandemia até
meados de setembro.
A caracterização da amostra, desenhada em parceria com a Pordata,
apresentava uma estratificação quase proporcional da população portuguesa por
grupo etário - menores de 18 anos, entre 18 e 54 anos e 55 anos ou mais - e
densidade populacional das regiões - baixa, média e elevada. Luísa Loura,
diretora da Pordata, explica que "no planeamento da amostra foi dada
especial atenção à idade e à densidade populacional de residência dos
participantes pois são esses os principais fatores diferenciadores quanto ao
risco de contacto com o vírus e quanto à sintomatologia apresentada".
A diretora da Pordata sublinhou igualmente que os dados alcançados
mostram que "a probabilidade estimada de ter tido contacto com o vírus
diminuiu quando se progrediu do grupo etário dos mais jovens para o grupo
etário dos mais velhos, mas com diferenças pequenas e não significativas do
ponto de vista estatístico". Frisa também que "por densidade
populacional, é estatisticamente superior a probabilidade de ocorrência de
contacto com o vírus nas regiões de densidade populacional superior a 500
habitantes por quilómetro quadradp por comparação com as restantes regiões com
menor densidade", acrescentando que "os dados foram obtidos num
período curto de tempo que pouco excedeu um mês e que não coincidiu com uma
fase de forte crescimento pandémico, não havendo uma grande diferença ao nível
de propagação entre as primeiras e as últimas recolhas."
O grupo de trabalho coordenado pelo IMM vai apresentar à comissão de
ética responsável um estudo longitudinal que pretende estimar a evolução da
prevalência com testes serológicos longitudinais num painel de cerca de dois
mil voluntários que participaram no PSN.
Esta avaliação permitirá estimar a evolução da taxa de seroconversão no
tempo, permitindo agregar os vários retratos da evolução da pandemia,
fornecendo dados específicos sobre a evolução da seroprevalência. Por outro
lado, a equipa pretende ainda seguir os voluntários seropositivos (em
setembro-outubro) de forma a avaliar a dinâmica dos níveis dos anticorpos para
SARS-CoV-2 ao longo do tempo (DN-Lisboa, texto da jornalista Ana Mafalda
Inácio)
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