Estudo serológico do Instituto de Medicina
Molecular e Sociedade Francisco Manuel dos Santos aponta diferenças no nível de
anticorpos entre o litoral e o interior do país, além de vários contrastes
entre grupos profissionais. É nos jovens até aos 18 anos residentes em grandes
centros urbanos que está a maior taxa de infeção com covid-19, sendo mais do
dobro do que entre os jovens das mesmas idades a residir no interior do país. A
conclusão foi divulgada esta sexta-feira pelo Painel Serológico Nacional, um
estudo desenvolvido pelo Instituto de Medicina Molecular (IMM) e financiado
pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e Grupo Jerónimo Martins. O estudo
teve como objetivo perceber que percentagem da população desenvolveu anticorpos
por ter sido infetada com SARS-CoV-2 na primeira vaga da pandemia.
Com base em amostras de sangue colhidas entre 8 de setembro e 14 de outubro de um total de 13.400 voluntários de diferentes zonas geográficas e grupos etários, o estudo veio confirmar que a prevalência da infeção “aumenta com a densidade populacional”. E nas grandes cidades não atinge todos com a mesma intensidade. “Sabemos que a doença poupa os jovens do ponto de vista dos sintomas e por isso não chegam a suspeitar que estão infetados. E por isso podem ser uma porta de entrada do vírus nas famílias”, explica Bruno Silva-Santos, vice-diretor do iMM e investigador principal do estudo.
“Nesta altura de Natal, isso ainda é mais
relevante, dado o risco de poderem infetar os avós, que são os que podem sofrer
maior impacto da doença”, indica. Cerca de um quarto (27%) das pessoas que
tiveram alguém infetado no seu agregado familiar desenvolveram anticorpos,
mostram ainda os dados.
TAXA MUITO BAIXA ATÉ SETEMBRO
O estudo concluiu que até setembro apenas
300 dos 13 mil voluntários tinham desenvolvido anticorpos, ou seja, 1,9% da
população (195 mil pessoas). “O facto de ser mais baixo do que os 2,9% apontados
no estudo serológico do Instituto Dr. Ricardo Jorge deve-se ao tipo de
amostragem”, explica o investigador do IMM. “A diferença está na dimensão e
natureza da amostra. A nossa amostra é composta por voluntários e é mais
específica.”
Outra das diferenças deste estudo, em
relação ao que tinha sido feito em junho pelo Instituto Dr. Ricardo Jorge
(INSA), é o facto de apontar para um número real de infetados três vezes acima
do que era conhecido em setembro, enquanto que o INSA concluía que a taxa real
de infeção era seis vezes mais alta do que o total de casos diagnosticados até
ao verão.
Esse fator de multiplicação tende a variar
consoante a fase da epidemia e a transmissão do vírus, explica o investigador
do IMM. "Mais testagem tem o potencial de baixar este fator. Mas se o
vírus se comportar de maneira diferente, alastrar mais e com menos
sintomatologia, gerando um maior número de assintomáticos, então este fator
pode aumentar. Quando fizermos a próxima colheita em janeiro é que vamos
perceber quanto é que este fator variou entre a primeira e a segunda vaga. E
nessa altura até já poderá ser de seis."
Entre setembro e o momento atual, a
realidade mudou muito. Só os casos diagnosticados através de testes de deteção
do vírus (358 mil) já abrangem 3,5% da população. “Após esta segunda vaga, a
taxa já será mais elevada, mas acredito que esteja abaixo dos 10%, o que
evidencia a importância das vacinas”, defende Bruno Silva-Santos.
Comparando várias atividades
profissionais, é na Saúde que a taxa de infeção é mais alta (4%), indica Bruno
Silva-Santos. “Uma tendência interessante é que a prevalência nas pessoas que
trabalham na área do Ensino está abaixo da média (1,2%), o que é um bom sinal
quando se discute o regresso às aulas.”
Dos 13 mil voluntários abrangidos, este
painel serológico vai voltar a testar 2 mil que testaram negativo para ver
quantos é que poderão entretanto ter ficado infetados, estimando ter novos
resultados em fevereiro. Além disso, irão também seguir as 300 pessoas que
tiveram testes positivos para ver como evolui a sua imunidade (Expresso, texto
da jornalista Raquel Albuquerque)
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