sábado, dezembro 19, 2020

Estudo serológico: Taxa de infeção superior nos jovens das grandes cidades

 


Estudo serológico do Instituto de Medicina Molecular e Sociedade Francisco Manuel dos Santos aponta diferenças no nível de anticorpos entre o litoral e o interior do país, além de vários contrastes entre grupos profissionais. É nos jovens até aos 18 anos residentes em grandes centros urbanos que está a maior taxa de infeção com covid-19, sendo mais do dobro do que entre os jovens das mesmas idades a residir no interior do país. A conclusão foi divulgada esta sexta-feira pelo Painel Serológico Nacional, um estudo desenvolvido pelo Instituto de Medicina Molecular (IMM) e financiado pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e Grupo Jerónimo Martins. O estudo teve como objetivo perceber que percentagem da população desenvolveu anticorpos por ter sido infetada com SARS-CoV-2 na primeira vaga da pandemia.

Com base em amostras de sangue colhidas entre 8 de setembro e 14 de outubro de um total de 13.400 voluntários de diferentes zonas geográficas e grupos etários, o estudo veio confirmar que a prevalência da infeção “aumenta com a densidade populacional”. E nas grandes cidades não atinge todos com a mesma intensidade. “Sabemos que a doença poupa os jovens do ponto de vista dos sintomas e por isso não chegam a suspeitar que estão infetados. E por isso podem ser uma porta de entrada do vírus nas famílias”, explica Bruno Silva-Santos, vice-diretor do iMM e investigador principal do estudo.

“Nesta altura de Natal, isso ainda é mais relevante, dado o risco de poderem infetar os avós, que são os que podem sofrer maior impacto da doença”, indica. Cerca de um quarto (27%) das pessoas que tiveram alguém infetado no seu agregado familiar desenvolveram anticorpos, mostram ainda os dados.

TAXA MUITO BAIXA ATÉ SETEMBRO

O estudo concluiu que até setembro apenas 300 dos 13 mil voluntários tinham desenvolvido anticorpos, ou seja, 1,9% da população (195 mil pessoas). “O facto de ser mais baixo do que os 2,9% apontados no estudo serológico do Instituto Dr. Ricardo Jorge deve-se ao tipo de amostragem”, explica o investigador do IMM. “A diferença está na dimensão e natureza da amostra. A nossa amostra é composta por voluntários e é mais específica.”

Outra das diferenças deste estudo, em relação ao que tinha sido feito em junho pelo Instituto Dr. Ricardo Jorge (INSA), é o facto de apontar para um número real de infetados três vezes acima do que era conhecido em setembro, enquanto que o INSA concluía que a taxa real de infeção era seis vezes mais alta do que o total de casos diagnosticados até ao verão.

Esse fator de multiplicação tende a variar consoante a fase da epidemia e a transmissão do vírus, explica o investigador do IMM. "Mais testagem tem o potencial de baixar este fator. Mas se o vírus se comportar de maneira diferente, alastrar mais e com menos sintomatologia, gerando um maior número de assintomáticos, então este fator pode aumentar. Quando fizermos a próxima colheita em janeiro é que vamos perceber quanto é que este fator variou entre a primeira e a segunda vaga. E nessa altura até já poderá ser de seis."

Entre setembro e o momento atual, a realidade mudou muito. Só os casos diagnosticados através de testes de deteção do vírus (358 mil) já abrangem 3,5% da população. “Após esta segunda vaga, a taxa já será mais elevada, mas acredito que esteja abaixo dos 10%, o que evidencia a importância das vacinas”, defende Bruno Silva-Santos.

Comparando várias atividades profissionais, é na Saúde que a taxa de infeção é mais alta (4%), indica Bruno Silva-Santos. “Uma tendência interessante é que a prevalência nas pessoas que trabalham na área do Ensino está abaixo da média (1,2%), o que é um bom sinal quando se discute o regresso às aulas.”

Dos 13 mil voluntários abrangidos, este painel serológico vai voltar a testar 2 mil que testaram negativo para ver quantos é que poderão entretanto ter ficado infetados, estimando ter novos resultados em fevereiro. Além disso, irão também seguir as 300 pessoas que tiveram testes positivos para ver como evolui a sua imunidade (Expresso, texto da jornalista Raquel Albuquerque)

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