Esta não é a primeira vez que uma pandemia
se apodera da época de festividades. Há mais de 100 anos, em dezembro de 1918,
depois da I Guerra Mundial, os preparativos para o primeiro Natal sem conflito
em quatro anos tiveram lugar no meio da pior pandemia desde a peste negra.
A gripe de 1918-1919, tal como a Covid-19,
veio em vagas. A onda mais mortífera começou no outono, atingiu o seu pico no
final de novembro e continuou durante as primeiras semanas de dezembro. Atingiu
centenas de milhões e matou dezenas de milhões em todo o mundo, a maioria nos
meses e semanas antes do Natal.
Mas embora existam semelhanças entre as duas pandemias – ambas são doenças respiratórias altamente infeciosas – existem também diferenças importantes nos contextos em que se desenvolveram, nos esforços feitos para as controlar, no impacto nos sistemas de saúde e na forma como as pessoas aprenderam a viver com o vírus.
Quem celebrou o Natal e outras festas
sazonais há mais de 100 anos não enfrentou naturalmente as restrições que as
pessoas estão agora a enfrentar.
Porém, importa salientar que a experiência
da pandemia de 1918 esteve intimamente ligada à I Guerra Mundial, o que não só
facilitou a rápida propagação como também moldou significativamente a resposta
à mesma. Até ao armistício, em novembro de 1918, vencer a guerra era mais
importante do que a batalha contra a gripe.
Na altura, os médicos recomendaram uma
série de medidas para abrandar a gripe, incluindo o isolamento dos doentes, o
encerramento das escolas e de cinemas, e a desinfeção oral (gargarejar com
antissépticos). Além disso, as autoridades de saúde também recomendavam evitar
grandes ajuntamentos. Porém, o uso de máscaras não estava entre as
recomendações principais.
Nenhuma das medidas era obrigatória e a
responsabilidade pela sua implementação recaía sobre as autoridades locais, que
as adotaram de uma forma fragmentada. Os funcionários médicos e as autoridades
locais adotaram abordagens divergentes, com alguns a encerrarem cinemas e
escolas, enquanto outros quase não intervieram.
Há uma série de razões pelas quais as
medidas não foram sistematicamente introduzidas. As exigências da guerra foram
importantes. Os peritos não sabiam dados importantes sobre a epidemia: quem era
mais afetado, a natureza e gravidade dos sintomas, e como matava.
No dia de Natal, a segunda onda já havia
diminuído em grande parte. No entanto, a quadra natalícia foi ‘assombrada’
simultaneamente pelas tragédias da guerra e da pandemia. Assim, o Natal de
1918, tal como o deste ano, foi sem precedentes (Executive Digest, texto da
jornalista Mara Tribuna)
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