sábado, dezembro 19, 2020

Natal em pandemia sem precedentes? Pensou-se o mesmo em 1918

 


Esta não é a primeira vez que uma pandemia se apodera da época de festividades. Há mais de 100 anos, em dezembro de 1918, depois da I Guerra Mundial, os preparativos para o primeiro Natal sem conflito em quatro anos tiveram lugar no meio da pior pandemia desde a peste negra.

A gripe de 1918-1919, tal como a Covid-19, veio em vagas. A onda mais mortífera começou no outono, atingiu o seu pico no final de novembro e continuou durante as primeiras semanas de dezembro. Atingiu centenas de milhões e matou dezenas de milhões em todo o mundo, a maioria nos meses e semanas antes do Natal.

Mas embora existam semelhanças entre as duas pandemias – ambas são doenças respiratórias altamente infeciosas – existem também diferenças importantes nos contextos em que se desenvolveram, nos esforços feitos para as controlar, no impacto nos sistemas de saúde e na forma como as pessoas aprenderam a viver com o vírus.

Quem celebrou o Natal e outras festas sazonais há mais de 100 anos não enfrentou naturalmente as restrições que as pessoas estão agora a enfrentar.

Porém, importa salientar que a experiência da pandemia de 1918 esteve intimamente ligada à I Guerra Mundial, o que não só facilitou a rápida propagação como também moldou significativamente a resposta à mesma. Até ao armistício, em novembro de 1918, vencer a guerra era mais importante do que a batalha contra a gripe.

Na altura, os médicos recomendaram uma série de medidas para abrandar a gripe, incluindo o isolamento dos doentes, o encerramento das escolas e de cinemas, e a desinfeção oral (gargarejar com antissépticos). Além disso, as autoridades de saúde também recomendavam evitar grandes ajuntamentos. Porém, o uso de máscaras não estava entre as recomendações principais.

Nenhuma das medidas era obrigatória e a responsabilidade pela sua implementação recaía sobre as autoridades locais, que as adotaram de uma forma fragmentada. Os funcionários médicos e as autoridades locais adotaram abordagens divergentes, com alguns a encerrarem cinemas e escolas, enquanto outros quase não intervieram.

Há uma série de razões pelas quais as medidas não foram sistematicamente introduzidas. As exigências da guerra foram importantes. Os peritos não sabiam dados importantes sobre a epidemia: quem era mais afetado, a natureza e gravidade dos sintomas, e como matava.

No dia de Natal, a segunda onda já havia diminuído em grande parte. No entanto, a quadra natalícia foi ‘assombrada’ simultaneamente pelas tragédias da guerra e da pandemia. Assim, o Natal de 1918, tal como o deste ano, foi sem precedentes (Executive Digest, texto da jornalista Mara Tribuna)

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