domingo, dezembro 13, 2020

Presidenciais: Marcelo resiste à crise e mantém liderança. Simulação de segunda volta mostra quem se segue (sondagem Expresso-SIC)

 


Sondagem realizada pelo ISCTE e ICS mostra que Marcelo resiste à crise pandémica na campanha para a reeleição. A luta pelo segundo lugar segue renhida, com quatro candidatos separados por oito pontos. Mas há um nome que se destaca mais do que outro numa eventual segunda volta. Não são os 70,35% que Mário Soares conseguiu em 1991, mas fica perto: se as eleições presidenciais fossem hoje, o agora recandidato Marcelo Rebelo de Sousa teria o voto de dois terços dos portugueses, 66% dos votos (mais um do que em outubro), o que lhe permitiria uma vitória fácil à primeira volta, ultrapassando as sucessivas declarações de Estado de Emergência ou mesmo a crise económica dos últimos meses. A distância de Marcelo é enorme para os restantes candidatos, mas a corrida é mais renhida pelo segundo lugar: há quatro candidatos separados por apenas dois pontos percentuais, com uma margem de erro que é de 3,5%. Mas há um nome que se destaca - seja na intenção de voto à primeira volta, seja numa eventual segunda volta - que a equipa do ISCTE/ICS testou também nesta sondagem para o Expresso e SIC.

Esse nome é o de Ana Gomes: a seis semanas das eleições presidenciais, a candidata que pretende ocupar o espaço socialista (embora o PS tenha dado liberdade de voto), colhe 13% das intenções de voto. É um ponto acima face ao que indicava a sondagem de outubro, mas à mesma distância do terceiro, André Ventura, porque o líder do Chega também sobe dos 8 para os 9 pontos nesta sondagem. Com este número, Ventura ficaria perto de uma das fasquias que colocou para si próprio nestas presidenciais - chegar aos 10% -, mas longe do segundo, porque chegou a dizer que se demitiria da liderança do partido caso ficasse atrás de Ana Gomes.

A verdade é que, mesmo numa eventual segunda volta contra Marcelo (muito improvável, como se nota pelos resultados), André Ventura partiria em desvantagem face a Ana Gomes: em resultados brutos (ainda sem distribuição de indecisos) ficaria com 7%, vendo Marcelo subir dos 66% para 71% (uma vez mais, ainda antes de distribuídos indecisos); ao passo que -com o mesmo critério - a antiga embaixadora conseguiria 12%, com Marcelo a baixar para os 62%. Dito de outra forma: Marcelo ganharia pelo menos por 64 pontos a Ventura e por 50 a Ana Gomes. Mais: num duelo entre Marcelo e Ana Gomes, mais portugueses mostraram não ter um voto definido (15%), bem acima do que aconteceria num duelo entre Marcelo e Ventura (10%), o que indicia que a vantagem de Marcelo poderia ser ainda maior neste último caso.

Porém, uma vez mais, nada parece certo na luta pelo segundo lugar. Se Ana Gomes tem 13% das intenções de voto (muito abaixo dos 22,8% de Sampaio da Nóvoa há cinco anos) e Ventura 9%, a bloquista Marisa Matias fica por perto, com 7%. E o comunista João Ferreira, o único a descer (um ponto) face a outubro, ainda 5%. À primeira vista, pode parecer um resultado melhor para a bloquista - mas a comparação com os 10,12% que a mesma Marisa Matias teve em 2016 mostra que não o é tanto. Assim como os 3,94% do candidato do PCP de há cinco anos, Edgar Silva, acabam por colocar João Ferreira numa posição comparativa mais favorável.

Sublinhe-se que os restantes candidatos não atingiram mais de 1% de intenções de voto, em conjunto, pelo que ISCTE e ICS optaram por não destacar os respetivos resultados. Importante notar, também, que 12% dos inquiridos optaram por dizer ainda não saber como votarão em janeiro, seis pontos abaixo dos que o diziam há cerca de dois meses.

É de assinalar, no mesmo sentido, que face ao inquérito realizado em outubro os principais candidatos mantêm as mesmas posições relativas, mostrando bastante estabilidade na intenção de voto. Ainda que, estando ainda a seis semanas das eleições, não seja possível pressupor “intenções de voto plenamente cristalizadas, menos ainda previsões de um qualquer futuro resultado eleitoral”, como destaca o relatório do ISCTE e ICS. Na verdade, ao longo do último mês praticamente não houve pré-campanha. Ela chegará, com mais força, apenas em janeiro, com os debates televisivos.

Ficha técnica

Sondagem com trabalho de campo decorrido entre os dias 11 e 25 de novembro de 2020. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (NUTII) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 80 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 2847 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 802 entrevistas válidas (taxa de resposta de 28%). O trabalho de campo foi realizado por 37 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses residentes no Continente com 18 ou mais anos, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 9). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 802 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. As percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas David Dinis e Sofia Miguel Rosa)

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