sexta-feira, maio 28, 2010

A semana ‘horribilis’ do Governo de Sócrates...

Segundo o jornalista do Diário Económico, Francisco Teixeira, "as más notícias foram-se sucedendo ao longo de uma semana, desgastando o primeiro-ministro e o Governo e dando vantagem a Passos Coelho. As circunstâncias, as decisões e os protagonistas. Seja qual for o ponto de análise, o segundo Governo de José Sócrates enfrenta, ao fim de oito meses, o seu período mais conturbado. As circunstâncias são hostis. Das financeiras (crescente dificuldade de acesso ao crédito), às sociais (desemprego no máximo histórico de 10,6%) passando pelas políticas (à esquerda e à direita o Governo tem incapacidade de entendimento). Depois, os anúncios têm revelado descoordenação política. Em poucos dias, dois secretários de Estado foram desmentidos (o dos Assuntos Fiscais garantiu que o aumento de impostos será retroactivo a Janeiro, depois o dos Transportes que assumiu que os transportes públicos aumentariam). Também, tanto o primeiro-ministro como o ministro das Finanças, deram sinais contraditórios sobre a entrada em vigor do aumento de impostos. Por fim, os protagonistas: para lá de Sócrates e Teixeira dos Santos, o restante Governo tarda em impor o programa sufragado nas urnas. Fica o retrato do que marcou o país nos dias em que a Marktest ouviu os portugueses.
- 17 de Maio
Relatório anual do Banco de Portugal

No seu último relatório anual enquanto governador do banco central, Vítor Constâncio, trouxe más notícias. Abriu a porta a novas medidas de austeridade, uma semana depois de José Sócrates e Passos Coelho terem fechado o maior aumento da carga fiscal dos últimos anos, alertou para a necessidade das contas públicas serem equilibradas de forma sustentável e apontou cinco falhas estruturais na economia portuguesa. No mesmo dia, em Madrid, o primeiro-ministro congratulava-se perante uma plateia de empresários espanhóis com o facto de ter um parceiro, Passos Coelho, com quem o diálogo fluía: "Para dançar o tango são precisos dois" e o PSD "tem agora um líder que olha para a situação com responsabilidade e patriotismo".
Sócrates responde ao inquérito parlamentar
Pela primeira vez na história da democracia um primeiro-ministro respondeu perante uma comissão de inquérito. Sócrates, por escrito, considerou que os deputados têm "prova abundante" de que disse a verdade quando garantiu não ter tido conhecimento prévio e formal da tentativa da Portugal Telecom comprar a TVI. E deixou um apelo: para que a comissão parlamentar seja breve e obtenha uma conclusão clara, insistindo na tese de que não foi feita qualquer prova que contrarie a posição oficial do Governo
- 18 de Maio
Ulrich diz que Portugal vai bater na parede
O presidente do BPI trocou a diplomacia financeiro, que pauta os discursos dos banqueiros, e deixou um alerta tão inequívoco quanto preocupante: "O dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. Lamento, mas o país tem de saber". Fernando Ulrich referia-se ao facto de, "neste momento, o país não se conseguir financiar".
Desemprego atinge nível histórico
Os dados do Instituto Nacional de Estatística vieram adensar a onda de más notícias que o Governo recebeu nas últimas semanas: no primeiro trimestre deste ano, o desemprego atingiu o valor mais alto de sempre (10,6%), sendo que mais de metade dos desempregados já estão à procura de emprego há pelo menos um ano. De acordo com o INE são precisamente os desempregados de longa duração que explicam a quase totalidade (93,6%) do aumento global do desemprego no último ano.
- 19 de Maio
Bancos anunciam corte no crédito
O Diário Económico reuniu os principais banqueiros portugueses numa conferência e, todos sem excepção, concordam num ponto: o crédito barato chegou ao fim, até alguns dos bons projectos podem não ser financiados, e será encurtado o crédito concedido a empresas e famílias. Faria de Oliveira (CGD), Ricardo Salgado (BES), Carlos Santos Ferreira (BCP), Nuno Amado (Santander) e Fernando Ulrich apelaram ainda a um aumento da poupança para que o país "mude radicalmente de vida".
Passos Coelho descola de Sócrates
O líder do PSD, com quem Sócrates dizia estar a dançar um "tango", deu uma entrevista à TVI onde se mostrou muito crítico do Governo. "Só por brincadeira de mau gosto se mantém a aposta nas grandes obras" disse Passos, insistindo "ser incompreensível" a manutenção da aposta no TGV e o adiamento apenas por seis meses da terceira travessia sobre o Tejo. O líder da oposição sublinhou mesmo que não fez "nenhum acordo de Governo" com Sócrates, "ajudou o país a ultrapassar uma situação muito delicada" e que não irá "para o Governo com o PS".
- 20 de Maio
Governo corta prémios e progressões no Estado
No final do Conselho de Ministros que aprovou o plano de austeridade para acertar o passo às contas públicas, Teixeira dos Santos anunciou mais uma medida impopular: haverá uma cativação adicional de 40% na verba disponível para prémios e progressões na Função Pública, decididos pelos dirigentes, ou seja, só com autorização expressa do ministro das Finanças essa verba poderá ser utilizada. A esta decisão junta-se o congelamento salarial e de novas contratações na Administração Pública. Também o sector empresarial do Estado sofre um corte de 300 milhões nas transferências, os serviços e fundos autónomos são obrigados a ter um saldo positivo e as verbas para despesas com horas extraordinárias, trabalho nocturno e assistência técnica sofrem uma retenção de 20%.
Espanha atrasa TGV
A ligação de alta velocidade entre Lisboa e Madrid tornou-se no último reduto da aposta do Governo em grandes obras públicas. Depois de ter assinado o contrato de adjudicação da ligação Poceirão-Caia, o Governo decidiu adiar apenas durante seis meses a ligação Poceirão -Lisboa. No entanto, o ministro espanhol do Fomento, num discurso nas Cortes, anunciou que a única linha de TGV que Madrid mantém como prioritária é a que ligará a capital a Valência. Todas as outras serão adiadas entre 12 e 18 meses. Após a evidente dissintonia entre a aposta de Portugal e Espanha, o Governo de Madrid acabaria por garantir que a ligação Caia-Madrid terminará até 2013”.

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