A sondagem da
Universidade Católica para a RTP demonstra que os inquiridos em Portugal,
Angola e Cabo Verde estão em sintonia em algumas questões relativas ao passado.
Os inquiridos nos três rejeitam a retirada de estátuas e marcas da presença
portuguesa e, por outro lado, os três países surgem de acordo na necessidade de
devolver à origem obras de arte retiradas durante o período colonial. No
entanto, os portugueses consideram que a antiga metrópole não deve um pedido
oficial de desculpas pela colonização, enquanto Angola e Cabo Verde apresentam
uma visão oposta.
A RTP continua a divulgar ao longo desta semana os resultados de três sondagens da Universidade Católica Portuguesa, realizadas para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril não só em território português, mas também em Angola e Cabo Verde. Num dos capítulos destas três sondagens são abordados os temas das indemnizações, compensações e memória. Para a maioria dos portugueses inquiridos (58%), o país não deve qualquer pedido oficial de desculpas aos países africanos de língua portuguesa pelos séculos de colonização. Há no entanto 35% que considera que esse pedido de desculpas deveria acontecer.
Em Angola, as respostas são distintas: 59% considera que esse pedido de desculpas é devido, enquanto 36% discorda. Um resultado semelhante foi obtido em Cabo Verde: 58% espera um pedido de desculpas oficial, 30% considera que este não deve acontecer. No campo das indemnizações aos portugueses está outra grande diferença entre Portugal e os países africanos de língua portuguesa. Há 57% de inquiridos em Portugal a considerar que os retornados que deixaram bens para trás nas ex-colónias deveriam ter sido indemnizados e 34% que discorda destas compensações.
Em Angola, de onde milhares de portugueses regressaram sobretudo após a independência do país, em 1975, grande parte dos inquiridos (71%) diz que nenhuma indemnização ficou por dar e apenas 24% considera que alguma compensação deveria ter sido dada. Em Cabo Verde, a percentagem de inquiridos que não concorda em compensações para os portugueses é ainda mais expressiva (81%), contra 12% que vê motivos para essas indemnizações.
Não retirar
estátuas, mas devolver obras
Quanto à eventual
remoção de estátuas e outros símbolos do passado colonial, a esmagadora maioria
dos inquiridos em Portugal considera que tal não deveria acontecer (66%
discordam, 12% discordam totalmente). Apenas 17% respondeu “concordo” ou
“concordo totalmente”.
O cenário é idêntico nas ex-colónias onde a mesma pergunta foi feita. Em Angola, um total de 58% dos inquiridos discorda ou discorda totalmente da remoção destes símbolos e marcas da presença colonial portuguesa. Há ainda 37% que concorda com esta medida e respondeu “concordo” ou “concordo totalmente”. Por fim, em Cabo Verde a recusa na retirada destes símbolos é ainda mais evidente: um total de 83% “discorda totalmente” ou “discorda” desta hipotética ação. Apenas 16% está de acordo com a mesma.
Os inquiridos nestas sondagens realizadas nos três países estão também em sintonia no que diz respeito à devolução de obras e outros bens retirados às ex-colónias. Em Portugal, 54% apoiam essa devolução, 38% discordam. Em Angola, os números são semelhantes: 58% defende a restituição de obras e 36% discorda. Finalmente, em Cabo Verde, 63% concorda e 34% discorda dessa medida. Em Portugal, foi ainda feita uma questão sobre a construção de memoriais em homenagem àqueles que foram escravizados: a maioria (58%) está de acordo.
Pensões a
ex-combatentes e atribuição de nacionalidade
O inquérito realizado debruçou-se também sobre questões que envolvem ex-combatentes da guerra colonial. Em Portugal, há uma esmagadora maioria (93%) que vê com bons olhos a atribuição de pensões a ex-combatentes portugueses. A percentagem é praticamente a mesma quando a questão versa os ex-combatentes africanos que lutaram pelo lado português (92%).
Em Angola, há 64% de inquiridos que considera que Portugal deveria ter dado pensões aos ex-combatentes africanos das guerras da independência que lutaram pelo lado português. Em Cabo Verde, 80% considera que a atribuição dessas pensões era devida. Questionadas se Portugal deveria ter dado nacionalidade portuguesa a todos os funcionários e ex-combatentes africanos das guerras de independência que lutaram pelo lado português, há alguma divisão em Angola: 51% considera que a nacionalidade portuguesa deveria ter sido atribuída, outros 44% responderam o contrário. Em Cabo Verde, há um claro apoio à atribuição de nacionalidade portuguesa aos funcionários e ex-combatentes africanos que lutaram pelo lado português: 90% considera que essa opção teria sido a mais correta. Por fim, foi ainda inquirido em Portugal sobre a forma como percecionam o período pós-colonial: há 60% a considerar que falar sobre o processo de descolonização traz mais aspetos positivos ou negativos e 40% a considerar o inverso.
A mesma pergunta
foi feita em Angola e em Cabo Verde a respeito do processo de independência:
entre os inquiridos angolanos, 58% considera que há mais aspetos positivos do
que negativos e outros 34% veem mais aspetos negativos. Por fim, em Cabo Verde
a visão da independência é muito mais otimista: 77% dos inquiridos consideram
que há mais aspetos positivos do que negativos e apenas 10% afirma o contrário.
Ficha Técnica –
Portugal:
Este inquérito foi
realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão
Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa
entre os dias 21 de maio e 13 de junho de 2025. O universo alvo é composto
pelos cidadãos portugueses, com 18 ou mais anos de idade, residentes em
Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista
de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as
entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados
do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1104
inquéritos válidos, sendo 43% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica:
31% da região Norte, 23% do Centro, 32% da A.M. de Lisboa, 6% do Alentejo, 5%
do Algarve, 2% da Madeira e 1% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram
depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões
etários e região com base nos dados do INE. A taxa de resposta foi de 21%*. A
margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1104 inquiridos é de
2,9%, com um nível de confiança de 95% (Foram contactadas 5175 pessoas. De
entre estas, 1104 aceitaram participar na sondagem e responderam até ao fim do
questionário)
Ficha Técnica -
Angola:
Este inquérito foi
realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão
Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa
entre os dias 21 e 31 de maio de 2025. O universo alvo é composto pelos
cidadãos angolanos, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Angola. Os
inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de
telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram
efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do
estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1199 inquéritos
válidos, sendo 52% dos inquiridos mulheres. A margem de erro máximo associado a
uma amostra aleatória de 1199 inquiridos é de 2,9%, com um nível de confiança
de 95%.
Ficha Técnica –
Cabo Verde:
Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa entre os dias 29 de maio e 23 de junho de 2025. O universo alvo é composto pelos cidadãos cabo-verdianos, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Cabo Verde. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente, na rua, em várias ilhas de Cabo Verde (maioritariamente Santiago e São Vicente). Todas as entrevistas foram realizadas presencialmente (cara-a-cara). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 810 inquéritos válidos, sendo 49% dos inquiridos mulheres. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e ilha com base nos dados do INE Cabo Verde. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 810 inquiridos é de 3,4%, com um nível de confiança de 95% (RTP, texto da jornalista Andreia Martins e gráficos de Sara Piteira)
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